segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Leonardo Boff: A mídia comete sim abusos ao atacar Lula e Dilma

Leonardo Boff: A mídia comete sim abusos ao atacar Lula e Dilma

O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Por Leonardo Boff

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso" pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais", onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de
O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), "a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)".

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para "fazedores de cabeça" do povo. Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.


Fonte: Adital

5 comentários:

Paulo Junior Campos disse...

Desfazendo a polêmica das duas caras da capa da Veja (do meu ponto de vista): “Acho que tem que haver a descriminalização do aborto. Acho um absurdo que não haja” e “Eu, pessoalmente, sou contra. Não acredito que haja uma mulher que não considere o aborto uma violência”! Isso não é ser duas caras “nem aqui nem no Japão”, como muitos dizem!! Na primeira afirmação, ela diz ser a favor da descriminalização (a favor de que não seja considerado crime, mas sim uma questão de saúde pública), e ela não diz ser a favor do aborto. São coisas completamente distintas. Você pode perfeitamente ser a favor da descriminalização de algo, sem ser a favor da prática. E em alguns casos, a justiça já admite que isso não seja crime, conforme previsto por Lei inclusive “confirmada em documentos” pelo Serra! (http://saraiva13.blogspot.com/2010/09/serra-e-o-unico-candidato-que-ja.html )

Um exemplo para explicar melhor tudo isso seria referente à venda de bebidas alcoólicas para pessoas maiores de idade. Muitos são a favor de que esse tipo de comércio continue sendo legal, legalizado, mas essas mesmas pessoas podem ser “pessoalmente” contra o consumo de bebidas alcoólicas. São coisas completamente distintas: ser a favor da legalização, mas contra a prática. Eu sou um exemplo de pessoa a favor de que continue sendo legal a comercialização de bebidas alcoólicas, mas sou pessoalmente contra o consumo. Não recomendo para ninguém esse tipo de prática!

Agora vai um bando de gente sem noção querer, “em nome da Fé sabe-se lá Deus no que”, inventar até lei que proíbe venda de cerveja para maiores de idade. Aí eu quero ver, uma “ditadura religiosa e moralista” tomar conta do País. Mas nem mais churrasco de fim de semana muita gente vai poder fazer!! A democracia ‘já era’ em nome de uma “fé” que nem sua é, já pensou?!

Paulo Junior Campos disse...

Vocês já pensaram também nos meios de comunicação sendo obrigados a transmitir somente informações consideradas "gospel"? (consideradas, pois muitas vezes nem isso são!)... Ou seja, acabando com a diversidade de um povo... Você já pensou num controle rígido do tipo de roupa que as pessoas usam? Já pensou, pessoas sendo "legalmente perseguidas" por professarem uma fé diferente da que um "grupinho" professa, sejam espíritas, católicos, judeus etc.? Você já pensou, "censura 'religiosa'" até na Internet, pior que a China!? Você já pensou, se você tiver uma filha homossexual, ela poder ser presa ou até apedrejada (como ainda acontece em alguns países) pela própria opção? Esses seriam apenas alguns exemplos de querer colocar os "dogmas religiosos" de alguns na frente de um país... Isso seria um Vaticano às avessas milhares de vezes piorado... É isso que nós queremos para o Brasil, uma nação escrava dos "usos e costumes" de poucos ou uma Nação Livre, Democrática, Verdadeiramente Cristã, Com Respeito A Todos e Rumo Ao Desenvolvimento?!

Anônimo disse...

Paulo,
Obrigado pelos seus comentários, que certamente colaboram para que os leitores do blog melhor entendam o jogo sujo da mídia.
As matérias de Leonardo Boff precisa ser lidas por muitos, mas você com seus comentários estimula que outras pessoas reflitam a respeito do Brasil que queremos.
Grande abraço,
Saraiva

MEDICAL disse...

Leonardo Boff: A mídia comete sim abusos ao atacar Lula e Dilma

E SOBRE O ATAQUE DO BATALHÃO DE CHOQUE OU MILICIA, AO CANDIDATO SERRA ONTEM NO RIO, O QUE DIZ LEONARDO BOFF??
SERIA JUSTO FAZER O CONTRA-PONTO, O SR. NÃO ACHA? EM VISTA DE SUA ATUAÇÃO E SEU GRAU DE ENTENDIMENTO COMO JUIZ NO EQUILIBRIO EM RELAÇÃO ÀS PARTES, SERIA BEM INTERESSANTE QUE PROVESSE DE LEONARDO BOFF UM PARECER SOBRE A ESTUPIDEZ QUE A TODA TURMA DO PT PROMOVEU E ESTA PROMOVENDO AFIM DE NÃO SOLTAR DO TRONO! O QUE LEONARDO TEM A DIZER???MUITO OBRIGADO.

VIRGÍLIO DAROS JUNIOR disse...

SR LEONARDO, EM PRIMEIRO LUGAR QUERO DEIXAR BEM CLARO QUE NAO SOU FILIADO A NENHUM PARTIDO, NEM TÃO POUCO SIMPATIZO COM QUALQUER UM DESSES QUE DISPUTAM A PRESIDENCIA. ME ADMIRA MUITO UMA PESSOA DO SEU NIVEL ACADEMICO UTILIZAR AS PALAVRAS QUE FORAM PROFERIDAS POR VOCÊ NO DISCURSO DA CANDIDATA DILMA COM PESSOAS DO MEIO ARTISTICO "A VERDADE VAI PREVALECER SOBRE A MENTIRA". ACHO QUE O SENHOR, AO INVÉS DE FICAR ESCREVENDO E DIZENDO TANTAS BABOSEIRAS, DEVERIA ACOMPANHAR MELHOR AS INVESTIGAÇÕES SOBRE O CASO ERENICE, O DO CARDEAL E BUSCAR UM POUCO NA MEMÓRIA O CASO DOS ALOPRADOS E PRINCIPALMENTE DO MENSALÃO DO DIRCEU, O VERDADEIRO CHEFE DE UMA QUADRILHA, COM INFLUÊNCIA DIRETA NO GOVERDO E NA CAMPANHA DA CANDIDATA. ME RECUSO A ACREDITAR QUE UMA PESSOA DO SEU GABARITO CONSIGA PÔR A CABEÇA NO TRAVESSEIRO À NOITE E DURMIR TRANQUILA DIANTE DE TAMANHA IGNORÂNCIA E HIPOCRISIA DEMONSTRADAS EM VOSSAS ATITUDES. – OBRIGADO PELA ATENÇÃO E APROVEITE MELHOR SEU TEMPO BUSCANDO INFORMAÇÕES CORRETAS SOBRE OS FATOS