segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Notícia do site CartaCapital - Desconstrução do preconceito


Postado Por Mauricio Dias Em 23 de outubro de 2010 (12:48) Na Categoria Política

Não resulta do Bolsa Família o voto nordestino pró-Dilma, ainda maior
no segundo turno

Para entender melhor o resultado do primeiro turno da eleição
presidencial e projetar o resultado final do confronto entre Dilma e
Serra, no dia 31 de outubro, é preciso falar do velho preconceito
contra o Nordeste plantado nos corações e mentes de parte da elite das
regiões Sul e Sudeste. O “Sul Maravilha”, conforme batismo do
cartunista Henfil, um ícone do petismo aguerrido e ortodoxo.
Para esse pessoal, o voto no Nordeste foi comprado pelo Bolsa Família.
Ninguém oferece uma contribuição melhor para a compreensão dessa
questão do que a professora Tânia Bacelar, da Universidade Federal de
Pernambuco.
Os argumentos dela não se sustentam no compromisso político. Ela
mostra que os beneficiários do Bolsa Família “não são suficientemente
numerosos para responder pelos porcentuais elevados obtidos por Dilma
no primeiro turno: mais de dois terços dos votos no Maranhão, Piauí e
Ceará e mais de 50% nos demais estados e cerca de 60% do total”.
Há fatos gerados pela administração Lula que explicam os votos: essa
região, assim como o Norte, liderou as vendas do comércio varejista no
Brasil entre 2003 e 2009. A consequência, segundo Tânia Bacelar, foi o
dinamismo do consumo que “atraiu investimentos para a região”.
“Redes de supermercados, grandes magazines e indústrias alimentares e
de bebidas, entre outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo
tempo que as pequenas e médias empresas locais ampliavam sua
produção”, explica.
O longo e importante braço da Petrobras influiu na dinâmica da
economia nordestina. Houve investimento em novas refinarias e o
resgate da indústria naval, que levou para aquela região vários
estaleiros.
Tânia Bacelar fala, também, da “ampliação dos investimentos em
infraestrutura, promovida pelo PAC com recursos que, somados, têm peso
no total dos investimentos previstos superior à participação do
Nordeste na economia nacional”.

Lula, segundo ela, quebrou o mito de que “a agricultura familiar era
inviável”. Entre 2002 e 2010, o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf) sextuplicou os investimentos e, somado a
outros instrumentos (Seguro-Safra e Programa de Compra de Alimentos,
entre outros), passou a gerar três em cada quatro empregos rurais do
País. O Nordeste abriga 43% da população economicamente ativa do setor
agrícola brasileiro.
O resultado disso é registrado pela professora Tânia: “O Nordeste
liderou o crescimento do emprego formal no País com 5,9% ao ano entre
2003 e 2009, taxa superior à de 5,4% registrada para o Brasil como um
todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da Rais”. E é no Nordeste
onde houve também a maior redução da pobreza extrema (tabela).
Dilma obteve média de 65% dos votos nos nove estados nordestinos no
primeiro turno. Esse porcentual nas pesquisas do segundo turno subiu
para 71%. Sondagem do Ibope realizada no glorioso estado do Piauí
retrata isso. No primeiro turno, a candidata petista alcançou um pouco
mais de 60% dos votos. Agora deu um salto. No dia 15 de outubro, o
Ibope registrou 70% das intenções de voto nela entre os piauienses.
Isso pode prenunciar um massacre eleitoral.
“Esse não é o voto da submissão, da desinformação ou da ignorância. É
o voto da autoconfiança recuperada e da esperança na consolidação dos
avanços alcançados”, afirma Bacelar.
O Nordeste não trocou o voto pelo miolo do pão.

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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