Jogo estranho
Acabou, antes de mais nada, porque Dilma Rousseff deve ser eleita no domingo, a não ser que José Serra produza em cinco dias o milagre que não foi capaz de fazer desde que se lançou, em abril.
Tem-se, hoje, a impressão de que o tucano não encontrou o tom da campanha e esgotou suas armas.
A insistência no tema do aborto, com o trololó religioso que durou semanas, e a valorização estridente da agressão de que foi vítima no Rio são sintomas de um candidato sem foco, desesperadamente em busca de algo em que se agarrar.
Só isso explica, também, o acesso populista do tucano austero, que promete elevar o salário mínimo a R$ 600, aumentar em 10% o valor da aposentadoria e pagar 13º para os beneficiários do Bolsa Família. Serra quis parecer o Lula do Lula.
Mobilizando a agenda conservadora ou mimetizando a pauta petista, o tucano apostou sempre e tão somente em si mesmo, na sua capacidade de fazer, mandar, decidir.
Pode soar estranho, porque se trata de um personagem doente de tão racional, mas Serra é um candidato com forte traço messiânico. (Diz-se de quem se considera ou se apresenta como líder providencial, iluminado pela graça divina para reformar a ordem vigente das coisas. Um fanático*)
Embora o entendimento deles fosse obscuro, devido às limitações de seus pontos de vista políticos, não podemos negar o significado da expectativa messiânica*
Mas o que ou quem ele quer salvar? Os pobres? A democracia?
Os valores da família? A nossa fé?
O tucano se desvirtuou no processo eleitoral, sem, no entanto, conseguir romper o encanto do lulismo nem propor uma discussão séria do país, que fosse além da sua obsessão pessoal.
Parece mais fácil (é essa a inclinação da maioria) atribuir a provável derrota tucana aos “erros” do candidato, e não às dificuldades objetivas de enfrentar a escolhida de Lula na conjuntura atual.
* Nota de Celso Jardim (com Fernando de Barros e Silva da FSP)
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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