Na
campanha que uma parte da mídia faz contra o ministro Fernando
Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, temos de
tudo: pouca informação, muita especulação, reportagem preguiçosa e
descaso com os limites éticos do jornalismo. E o velho argumento de que
os fins justificam os meios.
Esses
veículos se voltaram contra Pimentel no dia seguinte ao da saída do
ex-ministro do Trabalho. Pode ter sido coincidência, mas é pouco
provável. O que parece é que queriam manter a “crise ministerial” na
primeira página.Uma das maneiras de consegui-lo é misturar gregos e
troianos, alhos e bugalhos. Deliberadamente, o “caso Pimentel” foi
confundido com outros, diferentes em aspectos fundamentais. Ele virou
“mais um” ministro do governo Dilma “envolvido em irregularidades”.
O mais extraordinário, em seu caso, é
que ninguém lhe faz qualquer denúncia concreta. Não há sequer suspeita
de que tenha agido de forma errada como ministro ou permitido que alguém
fizesse algo condenável no seu ministério.
Não se beneficiou do cargo para
obter vantagens. Não canalizou recursos públicos para finalidades
ilegais ou criticáveis. Não roubou, nem deixou roubar.
Sua “irregularidade” teria sido
criar uma empresa de consultoria econômica quando deixou a prefeitura de
Belo Horizonte, e que funcionou entre 2009 e outubro de 2010. Uma
empresa igual a milhares de outras, com faturamento apenas médio.
Para mantê-lo em cheque, o
acusam de ter feito, através dela, “tráfico de influência”, sem
conseguir aduzir qualquer evidência, minimamente palpável, para
corroborá-lo. Passaram a questioná-lo no tom inquisitorial reservado,
nas delegacias de polícia, a quem é flagrado em delito: “tudo que você
disser será usado contra você”.
Quem imagina que Pimentel saiu
da prefeitura, no final de 2008, cheio de “poder presente” e forte de
expectativa de “poder futuro”, desconhece a política mineira. Tem, além
disso, péssima memória.
Para ele, 2009 começou mal e só
melhorou no final. Nas condições em que aconteceu, a vitória de Marcio
Lacerda foi muito menor do que esperava. Seu grupo perdeu espaço e ficou
mais fraco dentro do PT. Ganhou a eleição para o diretório estadual em
processo complicado e por margem estreita.
Em abril, Dilma recebeu o
diagnóstico de câncer. Embora não parecesse grave, as chances de que
fosse presidente – algo em que poucos, então, apostavam -, ficaram ainda
mais incertas.
Quem contratou a consultoria de
Pimentel, nesse período, podia querer várias coisas, mas não estava
investindo em um “facilitador” em posição privilegiada. Aqueles que
imaginam que “traficasse influência” não o conhecem e não sabem o que
estava acontecendo.
Supor que uma instituição como a
Fiemg – a principal cliente da empresa de Pimentel, que, sozinha,
representou cerca de 50% de suas receitas - o tivesse procurado para
isso não tem ideia do que ela é. Ignora sua capacidade de encaminhar os
pleitos da indústria mineira sem ter de recorrer a métodos desse tipo.
(A Fiesp tem, em seus quadros,
diversos ex-ministros e autoridades do governo Fernando Henrique.
Estaria investindo em “facilitadores futuros”? Ou apenas entende que são
pessoas de grande contribuição e que é seu papel mantê-las na ativa?).
Inventar que a empresa de
Pimentel foi contratada por uma firma de Pernambuco por “manobra” do
governador Eduardo Campos, “em retribuição” a seu apoio a um candidato
do PSB na eleição de Belo Horizonte, é apenas um exemplo das
especulações que andamos ouvindo nos últimos dias. Pareceriam cômicas,
se o episódio não fosse lamentável.
Confundir-se com datas (achando,
no caso de outro cliente de Pimentel, que um recebimento que aconteceu
depois explica um pagamento feito antes), calcular os preços de obras
com aritmética de escola primária (sem levar em conta custos de
infraestrutura), ignorar os mecanismos de licitação de uma prefeitura
como a de Belo Horizonte, não apurar quem representava determinada
empresa na época relevante, são sinais da pressa na reportagem. Ou do
desmazelo.
Para não falar no uso de
informações obtidas ilegalmente. Toda a “denúncia” está assentada na
mais condenável espionagem de uma empresa privada.
É possível concordar que existem
situações especiais que autorizam a imprensa a ir além da “legalidade
formal”. Esse, no entanto, não é o caso, quando determinados veículos
apenas não gostam de um governo e seus integrantes.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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