'São
Paulo é o reduto de uma elite brasileira ávida, egoísta, incapaz de
ceder um pedacinho que seja das suas vantagens e benesses'
O
Conversa Afiada reproduz artigo de Tão Gomes Pinto, no site da
Carta Capital:
A revista Carta Capital organizou na terçca-feira 6, em Salvador, o encontro “Nordeste – Século XXI”.
Foi no site da revista que eu li
sobre a abertura do evento, onde Mino Carta, diretor da Carta Capital,
disse, entre outras grandes verdades, que “estava vindo do Estado mais
reacionário do Brasil”. Ou seja, de São Paulo.
Mino Carta tem uma história única
de serviços prestados ao povo brasileiro na área do jornalismo.
Trabalhamos juntos, creio, mais de 18 anos. Somos jornalistas
sobreviventes. Atravessamos, não sem amarguras, os chamados anos de
chumbo.
Na revista Veja, foram sete, oito
anos convivendo com a censura e a repressão mais absurda. E o Mino
assumindo um combate desigual.
Enfrentava, sozinho, a ditadura e seus parceiros da chamada sociedade civil.
Até o dia em que, um civil, o então
ministro Armando Falcão – que batia continência a um sub-tenente se
cruzassem na mesma calçada – chamou o Robert Civita, dono da Abril,
para uma conversa e perguntou: “Por que vocês insistem com esse tal de
Mino Carta?” Civita respondeu: “É porque ele é simplesmente o melhor
jornalista do Brasil”. Ao que o ministro Falcão observou: “Por que você
não experimenta o segundo melhor jornalista do Brasil?”
Essa é uma versão da história, contada para mim pelo próprio Civita.
Verdadeira ou não, o recado do “sistema” estava dado. Robert Civita captou a mensagem.
Atiçou as chamas de um doloroso processo de fritura do Mino Carta, que na verdade se iniciara desde o primeiro número de Veja.
Desse processo, Mino foi obrigado a
sair para fundar a revista IstoÉ… Foram mais sete anos juntos, até que
nos separássemos de vez, por um longo período.
Leia mais:
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Mino Carta nasceu na Itália, mas poucos brasileiros entendem do Brasil como ele.
Percebeu lá atrás que o grande
problema do país era a elite brasileira, ávida, egoísta, incapaz de
ceder um pedacinho que seja das suas vantagens e benesses.
São Paulo, tanto o Estado quanto a
cidade, sem dúvida, sempre foi a melhor escola para se observar esse
fenômeno. Uma região onde a média dos salários dos ricos é quase 60
vezes maior que o salário de um trabalhador.
E não é por falta de alerta.
Ainda ontem, a OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) produziu um documento onde
se diz textualmente que “o contrato social em vigor está começando a
descarrilar em muitos países”.
Ou seja, a história de que o
crescimento econômico geraria automaticamente uma melhor distribuição de
renda não passou de uma ilusão. Ninguem progride apenas se alimentando
das sobras da sociedade de consumo.
Ainda segundo a OCDE, a distância entre ricos e pobres acaba de atingir o maior nível em 30 anos.
O relatório recomenda que os países
deveriam analisar a possibilidade de aumentar a taxação sobre os ricos
como a única medida para reduzir o desequilíbrio.
Pois é, Mino Carta… Pena que esses
relatórios sejam simplesmente ignorados pela ignorância e pretensão dos
herdeiros da “casa grande”, como você não se cansa de avisar.
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