Do
Direto da Redação - Publicado em 04/12/2011
Eliakim Araujo*
Na
Globo, nem sempre as coisas são como parecem. Quem conhece as entranhas
do Jardim Botânico tem fortes razões para desconfiar que há outra
motivação por trás da troca de apresentadoras na bancada do Jornal
Nacional. Razões profissionais e políticas.
Para começar, a
pergunta que não foi feita por nenhum dos jornalistas presentes à
coletiva que comunicou a mudança: “o que leva uma apresentadora a
deixar espontaneamente uma posição de prestígio, como é a bancada do
principal – apesar de tudo – telejornal da televisão brasileira em troca
da promessa de um programa que só vai entrar no ar depois da metade de
2012?”. Se tudo ocorrer como, dizem, está planejado.
Não é
estranho? A gente sabe que “novos projetos” muitas vezes não saem do
papel e, quando saem, podem redundar em fracasso e, em consequência,
retirados rapidamente da grade de programação. Já vimos esse filme
várias vezes. E se isso acontecer, qual será o destino de Fátima
Bernardes? Certamente um longo período sabático, como aconteceu com
Gloria Maria quando foi despachada da apresentação do Fantástico.
Estranho
também que Fátima, que já foi a musa da Copa (ou de várias Copas),
abandone a cadeira ao lado do maridão sponte sua para entregá-la de mão
beijada à concorrente, mais jovem e, talvez, mais bonita.
Por
isso mesmo, quando vi hoje um video em que Fátima leva Patricia para
conhecer o estúdio do JN, tudo me pareceu falso e parte de uma grande
encenação para que todo mundo saia bem na foto. A posição de cada
câmera no estúdio é algo que qualquer apresentador com o mínimo de
experiência sabe como funciona. Câmera 1 no apresentador, câmera 2 na
apresentadora e câmera 3 em plano aberto, com os dois apresentadores na
tela. Isso é primário, Patricia deve estar careca de saber disso. É
assim que funciona também no Fantástico, que ela apresentou vários anos,
e no mundo inteiro. E o pior é que a reportagem foi apresentada como
“o JN fazendo história”. Imagine, desde quando a troca de apresentadoras
em um telejornal é fazer história? Fazer história seria um "mea culpa"
do telejornal pedindo desculpas aos telespectadores pelas inúmeras vezes
em que os noticiários globais distorceram fatos em benefício próprio ou
de seus apadrinhados políticos.
A ”matéria” foi visivelmente
enganosa e serviu apenas para levar o telespectador mais ingênuo a
acreditar num falso entendimento entre as duas, com Fátima fazendo o
papel da simpática professorinha que ensina as primeiras letras a uma
aluna neófita, que nunca viu um estúdio de TV.
A verdade é que o
JN vem despencando nas pesquisas e não é de hoje. A derrocada da
audiência nos últimos anos – não pelo crescimento dos concorrentes, mas
pelo surgimento de novas mídias e outros interesses dos telespectadores -
acendeu a luz vermelha na direção do jornalismo global. Alguma coisa
precisava ser feita para tentar resgatar os pontos perdidos no Ibope.
Alguém precisava ser sacrificado e a vítima foi Fátima Bernardes,
visivelmente cansada no video e abafada pela personalidade do marido
William Bonner.
Mas ao lado da questão profissional, há uma
disputa entre setores de mando na Globo. É um cabo de guerra entre duas
correntes que disputam espaço e prestigio junto aos herdeiros de Roberto
Marinho.
De um lado, Amauri Soares, o segundo homem na
hierarquia entre os executivos globais. Amauri é casado com Patrícia e é
o que se pode chamar de “bicho de televisão”, o cara que (quase) nasceu
e se criou dentro de emissoras de TV. É do ramo mesmo e praticamente
não conhece profissionalmente outra mídia. Já foi editor-chefe do JN e
rapidamente mandado para o exterior para cuidar de novos projetos, pois
sua presença era uma ameaça ao statu quo vigente no jornalismo. Na volta
ao Brasil, foi colocado em areas executivas da rede.
Na outra
ponta da corda, Ali Kamel. Ao contrário de Amauri, Kamel construiu sua
carreira em jornal e foi levado para a TV pelo falecido Evandro Carlos
de Andrade. Rapidamente ganhou o lugar de principal executivo do
jornalismo global e conquistou a confiança dos irmãos Marinho, por
vestir a camisa da emissora mesmo quando tenta defender o indefensável:
reescrever a história recente do Brasil a partir da visão do Jardim
Botânico.
Não assino embaixo, mas posso quase afirmar que Fátima
ficou no meio desse cabo de guerra e foi sacrificada. Nesse round
Amauri saiu virorioso, não se sabe como serão os próximos rounds da
disputa.
Disputas internas à parte, para o grande público nada muda. A sempre suspeita linha editorial do telejornal seguirá a mesma.
*Eliakim Araujo.
Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS
Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio
JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em
Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui
uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.
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