O
que chamamos oposição, na maior parte das vezes, diz apenas respeito
ao mundo da política institucionalizada. Fundamentalmente, aos partidos
oposicionistas, seus representantes, organizações e (poucos) filiados.
Uma das razões para isso é que é modesta, no Brasil, a atuação de
grupos de pressão e associações civis voltadas para a política.
Existem, mas são, ainda, pouco relevantes.
Há, no entanto, outra oposição, extra-partidária e fora do Estado, que
se manifesta no âmbito da sociedade. Ela é diferente da anterior, e
tende a ser, a cada dia, mais significativa.
Não estamos nos referindo, simplesmente, aos eleitores de oposição,
aqueles que, de maneira sistemática, votam nas legendas hoje
oposicionistas, não votam no PT e costumam não gostar de Lula, dos
petistas e de tudo que fazem. Os que se definem como antagônicos ao
“lulopetismo”. Esses existem desde sempre.
Entre a oposição formal, exercida pelos partidos, e o eleitorado de
oposição, constituído por cidadãos individualizados, estamos vendo
nascer e se desenvolver uma “nova militância” oposicionista.
Não foi em 2011 que começamos a perceber sua existência. Desde a eleição de 2010, no mínimo, já era identificável.
Por enquanto, é incipiente, mas parece crescer e se tornar mais
vigorosa ideologicamente. É um fenômeno espontâneo, que acontece à
margem dos partidos e que não resulta de sua atuação.
Seu lugar por excelência de formação e desenvolvimento é a internet. É
nela que seus integrantes se reconhecem, estabelecem comunicação, fazem
proselitismo.
Não é unificada por um ideário. Ao contrário, seu denominador comum
fundamental é uma negação: o antipetismo. No fundo, não se entusiasma na
defesa de nada. O que quer é “acabar com o PT”.
Essa hostilidade ficou particularmente evidente quando Lula foi
diagnosticado com câncer. Foram tantas as manifestações enraivecidas,
misturando júbilo, espírito de vingança e condenação por ele estar sendo
tratado em um hospital de ponta, que até alguns adversários mais bem
educados se assustaram.
Em suas ideias, misturam-se noções de várias origens. Algumas são
típicas do conservadorismo clássico, outras vêm do nacionalismo de
direita. Às vezes, são ultraliberais, outras de um antiliberalismo
feroz.
Ela desconfia dos partidos e dos políticos, repele a “intervenção do
estado na vida privada”, e quer acabar com os impostos. Costuma detestar
o esquerdismo e abominar o “politicamente correto”.
Uma
parte da mídia, especialmente algumas revistas e jornais, se reporta,
cada vez mais, a ela. Nessas publicações estão alguns de seus heróis e
os porta-vozes mais radicais, facilmente reconhecíveis pelo uso de
violência verbal. São os valentões da palavra.
A agressividade que consomem é transferida para sites de
relacionamento, blogs e intervenções pessoais, em comentários nas redes
sociais e no noticiário. O Twitter é um dos lugares onde mais aparece, pois enseja a expressão emocional imediata.
Há certa semelhança entre essa militância e a ultradireita americana do chamado Tea Party:
ambas surgiram naturalmente (ainda que com o incentivo do grande
capital, lá de empresários da indústria química, aqui dos conglomerados
de mídia), querem “purificar” a política e são fortemente
anti-estatistas e antitributação.
A diferença é organizacional, pois o Tea Party,
que nasceu em 2009, já está estruturado, embora continue a ser um
movimento sem liderança centralizada, composto por entidades locais e
indivíduos sem vínculos estreitos. (Apesar disso, houve mais de cem
candidatos ao Congresso americano, na eleição de meio-período de 2010,
que receberam a chancela do movimento - dos quais 32% se elegeram).
Por aqui, essa nova militância ainda não conseguiu passar pelo teste da
mobilização. Permanece verbal e passiva, com baixa capacidade de se
apresentar nas ruas. Os protestos anticorrupção convocados pela internet
no segundo semestre, por exemplo, que pareciam significativos,
terminaram sendo fracassos de público.
Que relação se estabelecerá entre essa oposição na sociedade e a oposição partidária? Estará em gestação um Tea Party à brasileira?
Em 2010, Serra procurou fomentar os sentimentos dessas pessoas, para os
utilizar na campanha. Seus assessores chegaram a criar peças de
comunicação específicas para açular o antipetismo na internet. A onda
anti-aborto foi deflagrada e sustentada por lideranças religiosas
ligadas a ele.
Quem cria ventos, se arrisca a colher tempestades. O PSDB precisa
pensar se o que quer é ser a voz partidária desses militantes.
*Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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