Da
Carta Maior - 14/2/2012
Paulo
Bernardo (Comunicações) prepara-se para pedir aval à presidenta Dilma
Rousseff para fechar data e iniciar consulta. Segundo ele, objetivo é
adequar Código Brasileiro de Telecomunicações, que em agosto completa 50
anos, à Constituição de 1988. Em seminário, ministro diz que é contra
controle de conteúdo e a favor de limitar capital estrangeiro na
internet.Najla PassosBrasília
– A proposta de um novo marco regulatório para emissoras de rádio e TV,
engavetada no ministério das Comunicações desde o início do governo
Dilma, vai entrar em consulta pública nos próximos dias, informou
nesta-terça (14) o ministro Paulo Bernardo. E já promete pelo menos duas
grandes polêmicas. Criar ou não mecanismos de controle público do
conteúdo das emissoras. E limitar ou não da presença de capital
estrangeiro em portais de internet de conteúdo jornalístico.
Na
abertura de um seminário sobre políticas de telecomunicações nesta
terça-feira (14), Bernardo se alinhou, no caso da regulação de conteúdo,
com o que pensam as empresas de radiodifusão, para as quais a única
forma de controle deve ser o controle remoto. Para movimentos pela
democratização da mídia, deveria haver critérios mais rígidos para a
garantia da qualidade.
“A nossa Constituição não prevê o controle
prévio de conteúdo, a não ser em casos bem específicos, como na
proibição de propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas e agrotóxicos,
como já é feito hoje”, afirmou.
O ministro reconheceu que o setor
de radiodifusão é capaz de fazer pressão suficiente para intimidar o
governo, como tem ocorrido historicamente. “O setor tem um peso muito
grande no Brasil, não só economicamente, já que movimenta R$ 20 bilhões,
mas porque seus serviços são extremamente populares entre a população”.
Entretanto,
Paulo Bernardo disse que o governo não vai se deixar acuar pela
alegação de que regulamentar a mídia é tolher a liberdade de expressão.
“Essa discussão de limitação da liberdade de expressão está fora. O que
vamos fazer é readequar a legislação do setor, que é de 1962, dentro dos
aspectos que estão na Constituição”, explicou.
Em relação à
participação de capital estrangeiro em sites jornalísticos, o ministro
também defendeu posição que agrada grandes veículos de comunicação, em
oposição às gigantes multinacionais das telecomunicações. Para Paulo
Bernardo, se a limitação de 30% serve para TVs, rádios, jornais e
revistas, deve pautar também os veículos da internet.
“Nós
teremos que discutir se um jornal eletrônico é veículo de comunicação.
Eu acho que é. O governo ainda não tem posição, ainda não discutimos
isso. Mas se ficar definido que é, vamos ter que fazer cumprir a lei”,
explicou. Segundo ele, a Advocacia Geral da União (AGU) já foi acionada
para emitir parecer sobre o assunto, que também será debatido em outras
esferas do governo.
Para o ministro, a discussão será jurídica,
mas também técnica. “Precisamos saber também se esse reconhecimento
teria efetividade, já que as empresas de conteúdo internacionais, a
princípio, podem simplesmente alojar seus sites em outros países”,
acrescentou.
A limitação da presença de capital estrangeiro nos
sites de conteúdo jornalístico interessa as grandes empresas
jornalísticas, que já sofrem a restrição nos veículos impressos, de
rádio e TV, mas é vista com maus olhos pelas multinacionais das
telecomunicações, que exploram serviços de telefonia e internet no
Brasil e querem continuar como acionistas principais dos veículos que
operam.
Paulo Bernardo confirmou que o projeto de novo marco toma
como base a proposta herdada do governo Lula, de autoria do ex-ministro
da Comunicação Social da Presidência Franklin Martins. “Nós trabalhamos
no projeto e conseguimos avançar em alguns pontos. Agora, estamos
realizando conversas internas no governo para finalizá-lo”, acrescentou.
Segundo
ele, já estão agendadas conversas com outros órgãos do governo, como
Casa Civil e Ministério da Cultura. Depois, o projeto será debatido com a
presidenta Dilma, que irá bater o martelo sobre prazo e formato para
disponibilizar a consulta pública. Só depois as conversas envolverão o
Congresso Nacional e, por fim, a sociedade civil organizada.
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