O jornal britânico Financial Times,
uma das bíblias do neoliberalismo, caiu na real, e está fazendo uma
série de matérias sobre a crise estrutural do capitalismo, se dando a
liberdade de cogitar que estamos experimentando o limiar de um novo
sistema de produção, mesmo não se sabendo ao certo aonde iremos.
Esse
não é qualquer jornal, o FT é uma publicação que circula desde 1888,
tem uma tiragem diária de 2,1 milhões de exemplares, circula em 140
países e tem agências editoriais em 50 países.
Corte rápido.
O diário paulistano O Estado de S. Paulo
estampou em suas páginas no dia 23 de janeiro último um artigo do
ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, onde ele afirma que os altos
ganhos salariais são um dos fortes fatores da atual crise econômica da
eurolândia. Pronto, sobrou para os assalariados! É inacreditável que a
essa altura da crise alguém ainda atribua a mesma a motivações que não
as das finanças hipertrofiadas, o descontrole do crédito e a
desregulação geral da atividade econômica, em especial a liberdade de
ação dos grandes capitais bancários na Europa e no mundo todo.
Observem
que enquanto um jornal de reputação internacional – podemos questionar a
sua afiliação político-ideológica – trata da crise de forma direta,
frontal e corajosa, o outro, um jornal provinciano como o Estadão,
insiste em manter um séquito de especialistas em produzir vianda
requentada, como se fora algo fresco e atual, para assuntos tão
relevantes como a crise do capitalismo.
Essa
é a grande dificuldade da mídia brasileira: servir marmita rançosa como
se estivesse oferecendo peixe fresco grelhado sobre folhas tenras. O
problema não é o proselitismo de direita tout court, o problema é
o proselistismo de direita, proferido por velhos funcionários da
ditadura civil-militar (como Maílson e tantos outros) envolto no papel
engordurado do palpite manjado, da opinião pessoal e interessada
travestida de vontade geral e republicana.
Prestem atenção, a mídia está coalhada de indivíduos, colunistas, apresentadores, leitores de telepromter
e outros quetais que estão ali para expressarem as vozes dos seus donos
(ou dos seus patrões e dos amigos dos seus patrões), entretanto querem
representar o papel de porta-vozes do universal, do democrático e do
espírito de nosso tempo.
Ainda bem que eles são péssimos atores e atrizes.
Coisas da vida.
Artigo de Cristóvão Feil, publicado originalmente no blog Jornalismo B, agora em campanha de assinatura da sua publicação em papel. Prestigie e contribua com o Jornalismo B.
No Diário Gauche
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