Não faz sentido deixar sob controle estrangeiro um setor estratégico para o desenvolvimento do país
A Argentina se colocou novamente sob a mira do Norte, do "bom senso" que
emana de Washington e Nova York, e decidiu retomar o controle do Estado
sobre a YPF, a grande empresa petroleira do país que estava sob o
controle de uma empresa espanhola. O governo espanhol está indignado, a
empresa protesta, ambos juram que tomarão medidas jurídicas para
defender seus interesses. O "Wall Street Journal" afirma que "a decisão
vai prejudicar ainda mais a reputação da Argentina junto aos
investidores internacionais". Mas, pergunto, o desenvolvimento da
Argentina depende dos capitais internacionais, ou são os donos desses
capitais que não se conformam quando um país defende seus interesses? E,
no caso da indústria petroleira, é razoável que o Estado tenha o
controle da principal empresa, ou deve deixar tudo sob o controle de
multinacionais?
Em relação à segunda pergunta parece que hoje os países em desenvolvimento têm pouca dúvida.
Quase todos trataram de assumir esse controle; na América Latina, todos, exceto a Argentina.
Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor
estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo,
especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e
aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.
Além disso, já foi o tempo no qual, quando um país decidia nacionalizar a
indústria do petróleo, acontecia o que aconteceu no Irã em 1957. O
Reino Unido e a França imediatamente derrubaram o governo democrático
que então havia no país e puseram no governo um xá que se pôs
imediatamente a serviço das potências imperiais.
Mas o que vai acontecer com a Argentina devido à diminuição dos
investimentos das empresas multinacionais? Não é isso um "mal maior"? É
isso o que nos dizem todos os dias essas empresas, seus governos, seus
economistas e seus jornalistas. Mas um país como a Argentina, que tem
doença holandesa moderada (como a brasileira) não precisa, por
definição, de capitais estrangeiros, ou seja, não precisa nem deve ter
deficit em conta corrente; se tiver deficit é sinal que não neutralizou
adequadamente a sobreapreciação crônica da moeda nacional que tem como
uma das causas a doença holandesa.
A melhor prova do que estou afirmando é a China, que cresce com enormes
superavits em conta corrente. Mas a Argentina é também um bom exemplo.
Desde que, em 2002, depreciou o câmbio e reestruturou a dívida externa,
teve superavits em conta corrente. E, graças a esses superavits, ou
seja, a esse câmbio competitivo, cresceu muito mais que o Brasil.
Enquanto, entre 2003 e 2011 o PIB brasileiro cresceu 41%, o PIB
argentino cresceu 96%.
Os grandes interessados nos investimentos diretos em países em
desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas que
capturam os mercados internos desses países sem oferecer em
contrapartida seus próprios mercados internos. Para nós, investimentos
de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a
repartem conosco. Não precisamos de seus capitais que, em vez de
aumentarem os investimentos totais, apreciam a moeda local e aumentam o
consumo. Interessariam se estivessem destinados à exportação, mas, como
isso é raro, eles geralmente constituem apenas uma senhoriagem
permanente sobre o mercado interno nacional.
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