terça-feira, 29 de junho de 2010

Miriam não chora pelo Nordeste


Esse gráfico é muito impressionante. Ele mostra o déficit nominal em relação ao PIB das principais economias, e o Brasil está no topo da pirâmide, ou seja, é um dos países menos endividados do mundo. Nem sempre foi assim. Fui dar uma espiada na coluna da urubóloga e, sem surpresa, vi que ela nem toca no assunto que constituiu o tema central da reunião do G20, que é a meta de reduzir os déficits fiscais até 2014.

Claro que ela não abordou o tema. Isso a forçaria a elogiar o Brasil! Ela não se constrangeu, todavia, e, mencionando o G20, deu um jeito de falar mal de Lula.

Miriam Leitão perdeu qualquer escrúpulo de coerência. Seu antilulismo é tão doentio, que há momentos em que seu texto se torna verdadeiramente incompreensível. Observem como ela abre a coluna de hoje:

A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.

Ela começa o parágrafo elogiando o G-20, uma criação geopolítica da qual o atual governo participou ativamente, emite um muxoxo infantil sobre a ausência de Lula e conclui, numa piparote lógico de fazer Descartes dançar o rebolation em seu túmulo, que "o Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes". Perdeu porquê? Porque Lula faltou à reunião para monitorar a tragédia no Nordeste?

No finalzinho do texto, ela manda essa:

Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.

Não seria o contrário? Se o Brasil fez o seu dever de casa no G20, não pode ser muito bem representado, como o foi, por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega? O que é mais importante, participar de burocráticos convescotes internacionais, onde Lula seria criticado de qualquer jeito (por viajar demais, etc) ou prestar apoio governamental e psicológico (com sua presença física) às vítimas de uma tragédia que vitimou a região mais pobre do país?

O raciocínio de Miriam é insensível e preconceituoso. Em virtude de sua economia frágil, a tragédia do Nordeste pode ter desdobramentos terríveis para milhões de pessoas. Prefeituras e governos estaduais tem estrutura precária e insuficiente para dar solução aos problemas urgentes que se multiplicam dia a dia. A burocracia emperra as verbas alocadas para levar auxílio às vítimas. Enfim, há uma série de fatores que pedem o monitoramento atento de um chefe de Estado preocupado com a população. Quando aconteceram as enchentes em São Paulo, José Serra, então governador, desapareceu do mapa, com medo de que sua imagem fosse associada a uma tragédia. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, igualmente escafedeu-se. Milhões de pessoas sofreram os efeitos da chuva sem que ao menos seu governante trouxesse palavras de conforto nem os informasse sobre as providência que estavam sendo tomadas. Durante semanas a fio, comunidades inteiras permaneceram submersas na lama pútrida, abandonadas pelas autoridades responsáveis. E nenhum colunista de jornal teve culhões para fazer a pergunta: "onde está José Serra?"

E agora, que Lula adota uma postura oposta e vai ao Nordeste e pisa na lama, e leva seus principais ministros para verem de perto o que aconteceu, Miriam Leitão diz que o presidente errou, que o certo era ele deixar sua equipe resolvendo o pepino, entrar no AeroLula e participar de coquetéis em Toronto, Canadá? Ora, é evidente que a presença de Lula, uma figura reverenciada como um mito no Nordeste, ajuda muito, em todos os sentidos. Ajuda a agilizar a liberação de verbas, cujo fluxo é atrasado por incompetência e insensibilidade burocrática; ajuda a trazer esperança e tranquilidade às vítimas, aliviadas por saber que Lula está monitorando pessoalmente a situação; melhora, enfim, a autoestima de todo país, que vê o Estado, na figura do funcionário público mais graduado da República, agindo efetivamente para reduzir os danos causados pela tragédia. O G20, afinal, é muito bom, mas não é comida.

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