segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dra. Cureau, nem todos se amedrontam

Reproduzo, com enorme orgulho por estar ajudando a defender a liberdade de imprensa, o ofício que Mino Carta, diretor de CartaCapital, enviou à vice-procuradora da República, Dra. Sandra Cureau.

E ajudando a defender a legalidade, cujo valor não se promove das sombras, às escondidas, porque o anonimato e a penumbra só servem aos propósitos baixos e inconfessáveis, enquanto aos bravos a palavra é luminosa, direta e desassombrada.

Com mais orgulho ainda, se me permitirem tanto, o faço porque vejo um homem a quem a idade não tirou a dignidade, por-se de pé, com o cavalheirismo que o caracteriza, diante de uma ignominiosa tentativa de humilhação.

Quem me acompanha sabe que é raríssimo que eu invoque, ao praticar qualquer gesto, a memória de meu avô e o faço porque sou testemunha do respeito que ele tinha por Mino carta, embora muitas vezes em posições diferentes.

Faço isso, porém, porque estamos diante de um dos altos momentos da imprensa brasileira, que tem uma tradição muito diversa do papel golpista e baixo que seus controladores fazem hoje desempenhar.

Leiam o texto de Mino, ao qual, com o perdão pela ousadia, faço questão de grifar passagens:

São Paulo, 20 de setembro de 2010.

Excelentíssima Senhora Vice-Procuradora Geral Eleitoral

Acuso o recebimento do ofício de número 335/10-SC, expedido nos autos do procedimento PA/PGR 1.00.000.010796/2010-33 e, tempestiva e respeitosamente, passo a expor o que se segue.

Para melhor atender ao ofício requisitório de relação nominal de contratos de publicidade celebrados entre o Governo Federal e a Editora Confiança Ltda. – revista CartaCapital –, tomamos a iniciativa e a cautela de consultar, por meio de repórter da nossa sucursal de Brasília, os autos do procedimento geradores da determinação de Vossa Excelência. Verificamos tratar-se de denúncia anônima, baseada em meras e afrontosas ilações, ou seja, conjecturas sem apoio em elementos a conferir lastro de suficiência.

Permito-me observar que a transparência é princípio insubstituível a nortear esta publicação, iniciada em 1994 e sob minha responsabilidade. Nunca nos recusamos, portanto, dentro da legalidade, a apresentar nossos contratos e aceitar auditorias e perícias voltadas a revelar a ética que nos orienta. Não podemos, no entanto, aceitar uma denúncia anônima, que, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal ao interpretar o artigo 5º, inciso IV, da Constituição da República (“é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”), afronta o Estado democrático de Direito e por esta razão é indigna de acolhimento ou defesa e desprovida da qualidade jurídica documental.

A propósito do tema, ao apreciar o inquérito número 1.957-PR em sessão plenária realizada em 11 de maio de 2005, o STF decidiu, sobre o valor jurídico da denúncia anônima, só caber apurar a acusação dotada de um mínimo de idoneidade e amparada em outros elementos que permitam “apurar a sua verossimilhança, ou a sua veracidade ”.

Se esse órgão ministerial, apesar do exposto acima, delibera apresentar a requisição referida nesta missiva, seria antes de tudo necessário, nos termos do art. 2º da Lei nº 9.784/1999, esclarecer e indicar os motivos da mesma, justificação esta que se encontra, me apresso a sublinhar, ausente da aludida requisição.

Cabe ainda ressaltar que todos os contratos firmados pela Administração Pública federal com a Editora Confiança, em atenção ao art. 37 da Constituição Federal, foram devidamente publicados em Diário Oficial da União e nas informações disponibilizadas na internet e, portanto, estão disponíveis à V. Excia.

Por último, esclarecemos que o levantamento de dados referido na requisição desse órgão implicará em uma auditoria nos arquivos dessa editora quanto aos exercícios de 2009 e 2010. Evidentemente, essas providências não cabem em um exíguo prazo de 5 dias, mas demandam meses de trabalho. Desse modo, se justificada adequadamente a realização de um tal esforço, indagamos ainda sobre a responsabilidade pelos custos correspondentes.

Ausente os pressupostos que justifiquem a instauração da investigação, requeremos o seu arquivamento. E mais ainda, identificado o autor da denúncia ainda mantido sob anonimato, ou no caso desta Procuradoria entender pela existência de indícios a dar suporte à odiosa voz que nos carimba de “imprensa chapa-branca”, nos colocamos à disposição para prestar as informações e abrir nossos arquivos e sigilos bancários e fiscais, observados, sempre e invariavelmente, os preceitos legais aplicáveis.

Atenciosamente,

MINO CARTA
Diretor de redação e sócio majoritário
Editora Confiança Ltda












Postado por Brizola Neto

Do Blog TIJOLAÇO.COM

2 comentários:

Walter Jr. disse...

Mais uma vez o Jornalista Mino Carta responde com altivez e elegância à figuras ditatoriais, retrógradas e antidemocráticas.
Ler o Mino é bom até em respostas a ofícios judiciais!

Anônimo disse...

Univerae,
Realmente o Mino é como você descreve.
Abraços,
Saraiva