segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo
Integrantes do comando de campanha da petista Dilma Rousseff reconhecem que não conseguiram dar resposta eleitoral eficiente para temas religiosos, como a legalização do aborto. Para eles, essa foi a principal razão que fez os votos de Dilma, especialmente entre as classes mais baixas, migrar para a candidatura de Marina Silva, do PV, impedindo sua eleição imediata já no primeiro turno.
Andre Lessa/AE
Marcha pela Vida. Dilma passou a perder votos entre católicos e evangélicos porque seria, na visão deles, favórável ao aborto
Durante a reta final da campanha, Dilma passou a perder votos entre eleitores evangélicos e católicos porque seria favorável à proposta que legalizaria o aborto no País. Marina, que é evangélica, pertencente à Assembleia de Deus, passou a ser apontada por pastores e padres como a melhor candidata a apoiar, uma vez que tem posição histórica contra essa questão.
Aliados de Dilma, incluindo o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, intensificaram a quantidade de mensagens em defesa da "religiosidade" da candidata, mas isso não impediu que Marina continuasse capturando votos da campanha petista.
Na avaliação da coordenação de campanha, apesar de Dilma não ter conseguido liquidar a eleição no primeiro turno, ainda existe muita vantagem política em relação ao tucano José Serra. Para eles, a petista construiu uma vantagem significativa e só perderá no novo confronto se cometer erros graves.
Além disso, lembram que a capilaridade regional da aliança em torno de Dilma é muito maior que a de Serra. Os governistas venceram em mais Estados, especialmente na regiões Nordeste e Norte.
Mas existe uma preocupação com a natural desmobilização das campanhas regionais nos Estados onde a eleição já foi decidida no primeiro turno, como é o caso de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Mesmo organizando comícios com a presença de suas principais estrelas locais, os petistas sabem que essa mobilização não será igual a uma campanha onde o principal candidato local está envolvido diretamente. Como consolo, lembram que Serra enfrentará o mesmo tipo de problema.
Outra preocupação é com a perda de vantagem no horário de propaganda eleitoral. Ao contrário do primeiro turno, quando Dilma tinha muito mais tempo do que seus adversários, essa vantagem não se repetirá. Pelas regras da eleição do segundo turno, os dois candidatos que chegam a essa disputa passam a ter direito ao mesmo tempo no rádio e na televisão. Com isso, acham que precisarão afiar ainda mais o conteúdo dos programas para impedir o crescimento de José Serra.
Além disso, os debates do turno final passam também a ter características diferente. Dilma e Serra passarão, a partir de agora, a se enfrentar diretamente nesses debates. Antes, esse tipo de evento acabava diluindo confrontos já que existiam outros candidatos, como Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), para ocupar espaço. Desta vez, todas as perguntas serão feitas apenas entre Serra e Dilma, sem intermediários.
A primeira preocupação das duas campanhas é com a primeira semana da nova campanha. Serra quer capitalizar a ida ao segundo turno, considerada improvável pela maioria dos seus próprios aliados. A ideia é organizar encontros já a partir de hoje para articular as novas ações de campanha e aproveitar esse bom momento.
Do lado de Dilma, a intenção é mostrar que o adiamento da vitória no primeiro turno foi um mero acidente de percurso. Para isso, consideram fundamental que a petista apareça liderando com folga na primeira pesquisa de intenção de votos que for feita já para o segundo turno. Um resultado mais apertado, com menos de dez pontos de diferença seria considerado extremamente perigoso e motivador para a campanha dos partidos de oposição. Um interlocutor direto de Dilma admite que a disputa em segundo turno se tornou perigosa. "Disputa em segundo turno é outro jogo completamente diferente. Temos vantagem boa, mas existem muitas outras variáveis que passam a pesar nesse jogo", afirma. Por conta disso, os governistas pretendem colocar novamente no centro das ações o presidente Lua, justamente o principal cabo eleitoral de Dilma e responsável por seu excelente desempenho no primeiro turno.
A ideia é intensificar a estratégia de colar Lula mais ainda na campanha de Dilma. Nesse processo, o presidente deve praticamente deixar de lado a rotina da Presidência da República para participar o máximo possível de eventos ao lado de sua candidata, aproveitando sua alta popularidade com o eleitor.
Lula deverá também pedir apoio dos principais governadores eleitos pela base aliada para que tentem multiplicar seu apoio à candidata petista, especialmente em Estados onde conseguiram resultados abaixo da expectativa, como Minas Gerais e Paraná.
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