Editor do “Privataria”: O PiG (*) vai ter que encarar
Editor de A privataria tucana
percebeu que tinha uma bomba nas mãos ao conhecer a documentação reunida
pelo autor. Segundo ele, muita gente vai se decepcionar com José Serra.
“Resta a ele vir a público dizer que não sabia de nada. Mas falar que
não sabia das movimentações milionárias da filha é algo difícil de
acreditar”, afirma Emediato.
Gilberto Maringoni
Luiz Fernando Emediato, 59,
está exultante. A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr., lançado há
uma semana por sua Geração Editorial, esgotou a primeira tiragem de 15
mil exemplares em 48 horas. Uma nova fornada de 30 mil está a caminho.
Saudado com um silêncio ensurdecedor pela grande mídia, a obra faz uma
devassa nos porões da venda do patrimônio público durante os dois
governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). E mostra, com farta
documentação, as idas e vindas de comissões, favorecimentos e propinas
que fizeram a fortuna de poucos felizardos que gravitavam em torno do
PSDB.
Ao mesmo tempo, a obra não pode
ser acusada de estar a serviço do PT. A agremiação de Lula sai
chamuscada do livro em pelo menos dois episódios: o grande acordo que
acabou com a CPI do Banestado, em 2003, e o comportamento de alguns
dirigentes, durante a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010.
Emediato é um veterano da
imprensa e um prolífico escritor. Criou o Caderno 2, no Estado de S.
Paulo, em 1986, foi diretor executivo de jornalismo do SBT, entre 1988 e
1990 e tem vários volumes de contos publicados. Nesta entrevista, ele
comenta a obra de Amaury e fala de bastidores de seu lançamento.
Carta Maior – Por que o senhor decidiu lançar “A privataria tucana”?
Emediato – Acompanho o Amaury
há muito anos e sempre admirei sua coragem e seu trabalho. Sabia que ele
preparava um livro sobre as privatizações, mas não tinha idéia do que
era. Ouvi falar disso tantas vezes, que até parecia lenda urbana. No ano
passado, aconteceu aquela história da campanha da Dilma, que a imprensa
repercutiu muito. Diziam que o Amaury estava envolvido na produção de
um suposto dossiê contra o candidato José Serra. Eu não acreditei, pois
ele é um repórter policial, um repórter investigativo premiado e, acima
de tudo, uma pessoa íntegra. No final da campanha, liguei a ele e quis
saber se o livro de fato existia. Ele retrucou: “Não apenas existe, como
está pronto”. Aí resolvemos editá-lo.
Carta Maior – O senhor imaginava esse sucesso todo?
Emediato – Quando eu preparava o
material, me deparei com uma quantidade incrível de documentos e
percebi que estava diante de uma bomba maior que supunha. Era um
best-seller instantâneo! O problema é que as livrarias procuradas pouco
antes do lançamento não acreditaram. Eu queria lançar 50 mil exemplares,
mas os livreiros não botaram fé. Então tirei 15 mil, que se esgotaram
em 48 horas! Até sexta-feira, mais 30 mil chegam às lojas. Acho que é um
livro para mais de 200 mil exemplares. Depois das acusações e calúnias
contra ele, o Amaury está lavando a alma…
Carta Maior – Quais foram os mais vendidos de sua editora até agora?
Emediato – Pela ordem, foram
Honoráveis bandidos, do Palmério Dória, sobre o clã Sarney, que vendeu
120 mil, Memória das trevas, de João Carlos Teixeira Gomes, contando a
vida de Antonio Carlos Magalhães, com 70 mil, e Operação Araguaia, de
Taís Morais e Eumano Silva, sobre a guerrilha, com 60 mil. É importante
frisar que o livro do Palmério vendeu isso tudo em um ano. É um
fenômeno. Mas acho que Privataria vai ultrapassar esse número.
Carta Maior – A grande mídia até agora silenciou sobre o lançamento. Por que?
Emediato – Acho que esse
silêncio será rompido em breve. As redes sociais, os blogues e portais
independentes deram ampla divulgação ao livro. Não se trata de um
dossiê, mas de jornalismo investigativo sério. Tenho amigos do PSDB, que
são amigos de José Serra. Devem estar decepcionados. Paciência. Quando
foram revelados os crimes de Stalin, também houve muita decepção. É uma
verdade incômoda, que enche de nódoa um político sério e um economista
competente, como o Serra. Mas esta é uma situação constrangedora. Na
verdade, ele não tem um envolvimento direto com os crimes, pois se trata
disso, de crimes! É sempre a filha, o genro, um assessor, ou um
companheiro de partido… Resta a ele vir a público dizer que não sabia de
nada. Mas falar que não sabia das movimentações milionárias da filha é
algo difícil de acreditar…
Carta Maior – O PT também sai chamuscado no livro…
Emediato – Não vejo ninguém do
PT fugindo do livro. O que há é uma conspiração de um grupo dentro da
disputa interna de poder. Isso está na parte “PT contra PT”, porque o
autor foi alvo de uma denúncia sórdida de que estaria produzindo dossiês
de campanha. Ele agora está se defendendo. E esperou a campanha
terminar para contar essa história.
Carta Maior – Jornalismo vende bem?
Emediato – Eu trabalhei na
grande imprensa até 1990 e tenho grande orgulho de ter publicado este
livro. Amaury fez o que os jornais e revistas deveriam fazer: jornalismo
investigativo. Isso é muito diferente de um repórter receber um dossiê
na redação de um grupo que quer destruir outro, seja grupo político ou
econômico. Isso não é jornalismo! São as máfias instrumentalizando a
imprensa. O livro é investigação e apuração. Ele pode ter falhas. Aliás,
quem descobrir algum equívoco ou erro nele, peço que entre em contato
conosco, para que possamos corrigir em futuras edições.
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