10/12/2011 | Posted by Ana Helena Tavares - QTMD? under Política |
Por Ana Helena Tavares(*)
Já não está mais aqui o velho timoneiro
que também criou um partido com “D” na sigla e dava a essa letrinha o
seguinte sentido: “A grande força da democracia é confessar-se falível
de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas
totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que
sejam irresponsáveis e onipotentes.” (Ulysses Guimarães)
Se já nenhum ser humano é infalível,
imaginem no jogo político, reforçado pela numerosa parcela medíocre da
imprensa que se vende a ele, onde há palanques até embaixo de tapetes.
Não há altares de pureza.
De limpa já basta a raça com que Hitler
sonhava – e que parte do mundo ainda quer tornar realidade. É um jogo de
causar inveja ao mais maquiavélico jogador de pôquer. RM (o
todo-poderoso da Globo) entendia dos dois jogos. FHC lecionou sobre
Maquiavel.
JS, aluno tardio e arredio, não aprendeu
grande coisa. Principalmente, não aprendeu a reconhecer seus próprios
erros. Coisa que não poderia mesmo aprender com FHC.
Por que, com todos os defeitos que possa
ter tido, nossa Constituinte foi um avanço democrático?
Porque é preciso reconhecer-se imperfeito para avançar. Naquele momento,
os congressistas sentiam-se derrotados por 20 anos de ditadura. E só
assim foi possível começar de novo.
Quando JS e FHC reconhecerão que foram
derrotados? Não por Dilma, nem por Lula, nem pelo PT, mas por seus
próprios aliados e, pior, por seus próprios egos. JS mantém um Twitter
tragicômico. FHC escreve artigos que ninguém de bom senso consegue ler.
É assombrosa a miudeza de pensamento deles. Não fazem política. Fazem futrica.
É nítida a sede de poder, vazia de sustentação. A eterna ânsia de tapetão.
Isso não é bom para o Brasil.
O que o PSDB fez ao pedir a cassação do
registro de Dilma, quando ela contava com mais de 50% dos votos na
eleição de 2010, senão a irresponsabilidade de tentar ganhar na marra,
achando-se onipotente, “cavalo puro sangue”, na (ingênua) tentativa de
aniquilar a concorrência?
E por que perderam mesmo com a
metralhadora da mídia apontada unicamente contra o PT? Porque o T de PT
quer mesmo dizer Trabalhadores. Negar isso é negar que milhões de
pessoas foram tiradas da miséria, fato que o mundo inteiro reconhece.
Ah, o Brasil ainda tem muitos problemas…
A educação de base é das piores do mundo. Ok. Vocês não acham possível
mudar em 9 anos um país explorado por 5 séculos, não é?
Membros da alta cúpula petista
enriqueceram? Sim. Se foi dentro da lei, e daí? Que moralismo de bordel é
esse onde político não pode enriquecer, mas todo mundo acha normal a
fortuna de Steve Jobs e Eike Batista? Quem vocês acham que corrompe os
políticos senão os grandes empresários? Se o enriquecemento não foi
lícito, é caso de polícia. É assunto para o Ministério Público e para a
Justiça.
Como também deveria ser o recém lançado livro “A privataria tucana”, do premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Dizem que o “B” de PSDB refere-se a
Brasil. Vender o patrimônio público e enriquecer em cima disso é ser
brasileiro onde, quando, como?
A roubalheira durante as privatizações
foi fortíssima. O teor do livro seria para colocar na cadeia JS, FHC e
RT (o dono da bola, homem com o corpo mais fechado do Brasil). É
vergonhoso, escandaloso, indecoroso, o silêncio sepulcral da mídia e o
do judiciário.
Hoje, quem for à banca de jornal,
presenciará uma guerra de capas. A da revista Carta Capital anuncia o
livro bombástico. Mas engana-se quem acha que Veja o ignora. A
revista(?) da Editora Abril passa recibo, tentando desqualificar as
denúncias.
A diferença? É que o trabalho bem
apurado da Carta Capital só tem voz graças à internet. Já o esgoto da
Veja tem efeito cascata na Folha, no Estadão e em todos os veículos
comandados pela família de RM (o homem que jogava pôquer com a
sociedade).
Nenhum país avança na caminhada
democrática tendo uma oposição que, por não conseguir ganhar no voto, se
escora na mídia para desestabilizar o governo. Federal. Porque o de SP
não passa pela boca da Poeta nem quando a corrupção sai em livro.
Vai daí que a corrupção só vai acabar
quando ela parar de ser investigada e punida de forma seletiva. Quando a
regulamentação da mídia garantir acesso à informação a todos os
brasileiros. Quando houver uma reforma séria no judiciário. Quando
houver uma reforma séria na política.
Quando tudo isso acontecer afetará a
vida de todos, principalmente a da elite, por detrás de seus vidros
fumê. De onde não ouve o povo. Nem o vê.
Quando afirmei, no início deste texto,
que JS e FHC foram derrotados por seus próprios aliados não foram
palavras gratuitas. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. de petista não tem
nada – é ligado a AN (diz isso no livro). E tudo indica que foi o neto
de Tancredo que, que mandando e desmandando no jornal “O Estado de
Minas”, lhe pediu o início das investigações que geraram o livro.
Amaury foi, então, acusado de quebrar o
sigilo de diversos tucanos para obter algumas das informações. Sendo
verdade, o que JS tem a reclamar se sua filha, através de sua empresa,
quebrou uma quantidade infinitamente maior de sigilos para fins bem
menos nobres?
Ligado ao PSDB e legítimo representante
da privataria, agora denunciada e fartamente documentada em livro, o
engenheiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, teve amplo espaço na edição
de 30 de Agosto de 2010 da revista Época, para se defender do suposto
grampo de Amaury dizendo o seguinte absurdo: “quebra de sigilo fiscal
guarda a mesma proporção que uma tortura física praticada pela polícia e
pelo exército porque se trata de direitos constitucionais do cidadão”
(declaração que só pode mesmo vir de quem estava nadando em dinheiro
durante a ditadura).
Aí, fica a pergunta: no escândalo do
grampo (leia-se quebra de sigilo telefônico) – que levou “Mendonção”
(como é conhecido Mendonça de Barros), então presidente do BNDES, ao
banco dos réus (sendo absolvido) em ação de improbidade administrativa, e
que comprovadamente ocorreu com a condescendência do então Presidente
da República FHC – não estavam em jogo “direitos constitucionais do
cidadão”?
O que este texto tenta mostrar é que o
que distingue um governo de outro não é aquilo que todos chamam
hipocritamente de moral, bons costumes, etc e tal, sem, muitas vezes,
ter nada disso em casa. A diferença está no projeto político. É isso o
que os brasileiros deveriam estar discutindo nos bares (além do futebol,
é claro).
Vale ainda frisar que se agora a
corrupção aparece tanto, de uma forma como não aparecia antes, é óbvio
que é porque ela está sendo combatida de forma democrática e
transparente, enquanto outros, com a luxuosa ajuda dos barões da
mídia, preferiam engavetá-la.
Reza a lenda que o brasileiro típico
“não tem nem um mal nem um bom caráter, simplesmente não o tem”. Só que
isso não quer dizer que sejamos manipuláveis. Macunaíma era bem mais
esperto do que os leitores da Veja.
Não consigo ver o nosso “herói sem
nenhum caráter” acreditando em denúncias sem provas e desprezando um
livro bem documentado. Não, ele não cairia nessa.
O que somos é maleáveis ao vento dos interesses. E aí há gente que acredite em tudo, de acordo com o que lhes convém.
E há também quem não possa acreditar nem
deixar de acreditar por ser impedido de se informar sobre os
acontecimentos. O editor do livro “A privataria tucana” já denunciou ter
sido sondado por JS para uma “conversa”.
JS foi líder estudantil numa época em
que o Brasil vivia sob um regime que também começa com “D”. Espero que
ele não esteja com saudades.
*Ana Helena Tavares é editora do site Quem tem medo da democracia?
Do Blog Quem tem medo da democracia?
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