Se existisse uma réstia, um único miserável e isolado átomo de honestidade nessa imprensa mistificadora que temos no Brasil, todos os jornais, telejornais, rádios, blogs e sites corporativos que espalharam versões sobre “repúdio popular” ao ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, a esta altura deveriam estar noticiando o contraponto disso, uma massa de quase quatro mil pessoas neste blog e mais de seis mil no Facebook que endossaram um manifesto de desagravo a ele pelas agressões e calúnias de que tem sido vítima, as quais, incessantemente, flertam com o crime contra a honra.
Por muito menos do que fizeram com esse homem de vida inatacável e
notório e reconhecido saber jurídico, seu par naquela Suprema Corte, o
ministro Gilmar Mendes, saiu processando meio mundo – inclusive quem,
ainda que acidamente, não mais do que meramente opinou em blogs.
Pois bem: aqui mesmo, neste blog, durante os últimos dias em que o
manifesto de desagravo a Lewandoswki foi levado a cabo, algumas dezenas
de pessoas, sob nomes e sobrenomes provavelmente falsos, fizeram graves
ataques à honra do desagravado – todos deletados sem dó nem piedade.
Ataques de um teor absurdo, injustos, irresponsáveis, os quais,
espantosamente, sempre acabam repercutidos nos grandes meios de
comunicação, como no dia do segundo turno das últimas eleições, quando a
mídia, em bloco, relatou “manifestações de repúdio” ao ministro, como a
de uma cidadã que teria dito sentir nojo dele, ou do mesário de sessão
eleitoral que se recusou a lhe estender a mão ao ser cumprimentado.
Dessas manifestações isoladas de incivilidade, nasceram hordas de
matérias na mídia tentando forjar uma impopularidade virtual que o
ministro Lewandowski teria auferido ao se negar a condenar o “núcleo
político” da ação penal 470, vulgo "mensalão".
Até o último domingo, temia-se que Lewandowski fosse linchado na rua
devido a tanta impopularidade de que estaria sendo alvo. Contudo, a
partir de matéria publicada pela Folha de São Paulo naquele dia, matéria
contendo entrevista do jurista alemão Claus Roxin, formulador da teoria
jurídica do Domínio do Fato, como que pairou um sentimento de revolta
entre os de boa fé, pois o mesmo Lewandowski, quando da votação das
condenações daquele “núcleo político”, chegou a dizer, textualmente, que
nem o próprio Roxin acolheria o uso que fizeram de sua teoria.
Era preciso, pois, uma reação decidida. Adotá-la, uma obrigação de
qualquer cidadão. Razão pela qual este que escreve viu, ali,
oportunidade de, mais uma vez, exercer a própria cidadania oferecendo a
tantos indignados com a injustiça contra Lewandowski a chance de, por
alguma maneira, saírem da impotência.
Aqui se propôs um manifesto de desagravo ao magistrado, do que
decorreu apoio decidido de nomes da blogosfera como Luis Nassif, com uma
belíssima crônica, ou como Paulo Henrique Amorim, com seu bom humor, ou
mesmo como na crônica cáustica do Brasil 247. Eis que a blogosfera,
ladeada por um exército de internautas, desconstruiu mais uma falsa
unanimidade da direita midiática que pretendia vender Lewandowski como
um homem desmoralizado que já vinha sendo apontado quase que como mais
um réu do mensalão, em vez de julgador.
As milhares de pessoas que acorreram a este blog, entre as quais se
destacam juristas, jornalistas, advogados, muitos estudantes de direito,
vários alunos de Lewandowski, policiais militares, filósofos, médicos,
pedreiros, comerciantes, donas de casa, além de amigos e familiares do
ministro. E isso só para citar de cabeça alguns dos quais aqui estiveram
para deixar a direita midiática com uma falsa unanimidade a menos em
suas incontáveis estantes de fraudes do gênero.
Não foi, entretanto, sem custo que se fez o que se fez aqui nesta
página. O afluxo impressionante de pessoas para apoiar esse magistrado
revoltantemente injustiçado por ter simplesmente feito justiça como
melhor sabe fazer, ou seja, em defesa do Estado de Direito e com o rigor
em cada milímetro exigível, quando necessário, isso gerou acesso de
milhares de pessoas simultaneamente ao Blog para postarem mensagens de
apoio ao magistrado injustiçado, o que elevou a exigência da memória
virtual que mantém a página no ar de 8 gigabites para quase o triplo, 22
gigabites.
Enquanto isso, eu fora do país a trabalho e o taxímetro do servidor
de hospedagem do blog girando a todo vapor – quem entende de informática
sabe quanto os servidores cobram para manter uma página no ar. Assim,
apesar das dificuldades que se tem para manter no ar uma página sem
receita como esta, não havia que considerar custo outro que o de violar a
democracia em um processo fascista que condena primeiro e pergunta
depois.
O maior custo, porém, não foi financeiro. A página saindo do ar
gerou-me uma angústia que só foi sanada ao custo de não pensar em custos
meramente monetários, mas nos custos para a democracia. As horas que a
página não pôde funcionar, portanto, não desagradaram só aos que se
queixaram, mas angustiaram duramente a este cujo único objetivo, desde
que criou este blog, sempre foi o de estimular cada brasileiro a exercer
a própria cidadania não se omitindo diante da injustiça, pois quem se
omite diante dela se torna, ele mesmo, seu cúmplice.
O custo do gigabite anda caro na praça? O custo da injustiça é muito
maior. Foi assim que, no Blog da Cidadania, mais uma vez foi possível
provar que cada cidadão é uma usina de recursos para combater o que está
errado, contanto que não se omita. Deste que escreve, portanto, todos
podem ter certeza de que esse comportamento nunca partirá, pois já
estamos muito perto de tornar o Brasil um país decente. Se os de
esquerda não desistimos nem durante a ditadura, quando nos açoitavam a
carne e o espírito, não seria agora que lhes entregaríamos tal vitória.
Fizemos justiça a um justo, neste blog. E ainda puxamos o tapete de
mais uma falsa unanimidade destro-midiática. Não há dinheiro, nesta
galáxia, que pague por isso.
***
PS: o manifesto do Blog da Cidadania em desagravo ao doutor Ricardo
Lewandowski será entregue a ele proximamente. E a entrega será comentada
aqui.
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