quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

De craque para craque, por Renato Maurício Prado

 


Por implacavel
De O Globo
De craque para craque


Renato Maurício Prado



Por ocasião do trigésimo aniversário da morte de Garrincha, no domingo passado, meu amigo e brilhante jornalista Teixeira Heizer escreveu para o SporTV uma linda crônica. A homenagem começa com a descrição do dia em que Mané assombrou o mundo, ao estrear como titular da seleção no jogo contra a União Soviética. Ei-la: 

“Aquele mulato de jeito barroco, meio desconjuntado, não despertou qualquer suspeita aos elegantes Tsareev e Kuznettsov, naquela tarde comum em Nya Ullevy — Gotemburgo — na loira Escandinávia. Que esperassem para ver as pernas retorcidas para o mesmo lado, mais parecendo dois tacos de golfe, quando começassem a mover-se, ardilosamente, em alucinante velocidade! 
 

Ao apito final do francês Maurice Guiguê, a perplexidade iria apossar-se dos 50 mil suecos e, particularmente, daquela abobalhada defesa arrombada duas vezes por Vavá e eliminada da Copa de 58. A partir dali, sucederam-se as quedas de Gales, França e da anfitriã Suécia, esta testemunhada pelo próprio rei escandinavo, curvado diante do monarca da bola, dono de um estilo lúdico, jamais visto nos gelados campos suecos. 

Garrincha era assim. Tudo que o envolvia tinha um toque de alquimia. Se Pelé era o deus, ele era o demônio. Daí, o inferno da vida de seus marcadores. Os soviéticos treinavam homens para arremessá-los ao espaço. E conseguiam. Êxito para anular Garrincha, entretanto, era missão impossível. Nem para eles, nem para ninguém, afinal, futebol não se nutria de quimeras. Villegas, Pluskal, Pachim, Norman, Rodriguez e dezenas de outros mundo afora aceitaram o desafio e se ridicularizaram como  se participassem de uma opereta bufa. No Brasil, rastejaram a seus pés Altair, Coronel, Jordam e mil outros de igual nomeada. Técnicos, os mais renomados de todos os quadrantes da terra, conspiraram com estratégias intrincadas para conter seus dribles irreais, infrutiferamente. 

O rapazola ingênuo, de Raiz da Serra, o "Torto", como zombeteiramente era chamado nos idos de 57 em General Severiano, já laureado em 58 , repetiu seus êxitos na Copa do Chile em 62, mas teve seus sonhos malogrados em 66, em Liverpool,quando viu diluir-se sua alegria de jogar e de viver . O sexo desregrado e o álcool em escala desmedida empurraram o menino do futebol lúdico para a tragédia melancólica cuja morada final, foi a sarjeta miserável de um subúrbio qualquer”. 
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