Daqui a 4 anos não haverá mais jornais impressos nos Estados Unidos. Lá, o fim será agora, em 2017, logo após a Copa do Mundo de Futebol. Dentro de 27 anos desaparecerão por completo os jornais impressos no mundo.
Por Apóllo Natali, especial para sua coluna no QTMD?
Há meia dúzia de anos, Francis
Gurry, então cabeça da Organização Mundial da Propriedade Intelectual,
anunciava essas profecias e falou: “Os jornais no formato como os
conhecemos hoje, vão desaparecer até 2040. Até essa data, todos os
países do mundo devem fazer a transição do papel para o meio digital”.
Gurry dizia que os sinais da mudança já então se faziam presentes, como
no fato de que as vendas de versões digitais de jornais superavam as
ocorridas em bancas”.
Outro necrólogo dos jornais,
Philip Meyer, professor da Universidade da Carolina do Norte, em seu
livro The Vanishing Newspaper, prevê mais 30 anos de vida para os
jornais. Ele preconiza que de todos os meios antigos, os jornais são os
que têm mais a perder para a internet, e acredita, diferente de Francis
Gurry, que o primeiro trimestre de 2043 é que será o momento em que o
jornal impresso morrerá nos Estados Unidos, “quando o último leitor
estiver cansado de colocar de lado a última edição amarrotada”.
O modelo de negócios da
imprensa escrita está implodindo, prevê a necrologia dos jornais
impressos, na medida em que os leitores jovens vão atrás de notícias nos
tablóides gratuitos e na mídia eletrônica. E a internet, com sua
vastidão, energia e imediatismo, parece mesmo capaz de derrubar o velho e
sonolento jornal impresso.
No Brasil, à parte jornais
influentes assassinados pela ditadura militar implantada em 1964, como o
sólido Correio da Manhã, por exemplo, a mortandade impressa por motivos
naturais já chegou. Um dos mais importantes jornais do país, o Jornal
do Brasil, antes de estrebuchar de uma vez por todas promoveu,
inutilmente, uma radical reforma gráfica, que trouxe como grande
novidade um novo formato, o berliner, meio termo entre o tablóide e o
tamanho convencional, o standard. Seguia receita usada por tradicionais
periódicos europeus. Prático de manusear e carregar, mais agradável aos
olhos das novas gerações, esse tratamento intensivo ao paciente terminal
não deu sobrevida nem a jornais bicentenários pelo mundo, que acabaram
fechando.
Outro cadáver, o do Jornal da
Tarde, do Grupo Estado, em São Paulo, foi sepultado no final de 2012. O
motivo de sua morte, segundo seu criador, Mino Carta, é que perdeu a sua
própria razão de ser. “Toda a imprensa brasileira decaiu, mas a morte
do jornal há de ser vista como conseqüência fatal da decadência do
jornalismo impresso, cercado por forças novas, encaradas com
perplexidade por este velho profissional, incapaz de imaginar o desfecho
disso tudo”.
Uma das “forças novas” por
enquanto ainda imperceptível, a cercar o jornalismo impresso e a minar
suas forças, não é digital e sim ideológica. Para o professor Perseu
Abramo, em “Padrões de Manipulação da Grande Imprensa”, Editora Fundação
Perseu Abramo, o jornalismo precisa se libertar de seu pior inimigo,
que é a própria imprensa, tal como ela existe hoje. O que é um jornal?
Um punhado de cidadãos com dinheiro para comprar impressoras e montar
infraestrutura de redação e distribuição para publicar o que eles querem
que o público leia, e não publicar o que eles não querem que o público
leia, para o bem de seus próprios interesses econômicos, políticos e
ideológicos. Em uma palavra, manipulação das consciências. Perfeitamente
democrático. Perfeitamente amoral. Aí está porque o presidente Lula
dizia sentir náuseas ao ler jornais. Eu também sinto, meio século depois
de iniciar minha carreira no jornalismo impresso.
Abramo profetiza uma
tendência histórica futura, na verdade pressentida atualmente, estando
já nestes novos tempos a vampirizar as jugulares dos jornais. Ninguém é
bobo para sempre. A tendência é a de que as classes dominadas não mais
teriam motivos para acreditar ou confiar na imprensa, em papel ou
digital, e seguir suas orientações. “Passariam a intensificar sua
postura crítica, sua análise de conteúdo e forma, diante dos órgãos de
comunicação. Por meio de seus setores mais organizados, contestariam as
informações jornalísticas, fariam a comparação militante entre o real
acontecido e o irreal comunicado, fariam a denúncia sistemática da
manipulação e da distorção. Tomariam como uma de suas principais tarefas
de luta a desmistificação organizada da imprensa e das empresas de
comunicação”.
Enquanto isso, ao redor das
tumbas dos jornais finados, ecoam os sussurros da fascinante história da
imprensa escrita. Começamos com a invenção do papel, pelos chineses, no
ano 106. Passamos pela prensa de Gutenberg em 1438 e tivemos na
Revolução Francesa o maior impulso de um dos mais antigos métodos de
impressão, a tipografia, com a publicação de 1.500 títulos na época,
duas vezes mais que nos 150 anos anteriores a 1789. Inventamos, durante
passados 575 anos, desde o surgimento da prensa, velocíssimos, nítidos e
econômicos métodos de impressão em superfícies lisas ou não, chamados,
entre outros, de off-set, flexografia, rotogravura, litografia,
tampografia, xerografia.
Chegamos no ano de 2006 e
resolvemos diminuir o tamanho do velho jornalão, que ora xingamos de
mastodonte. Os primeiros de menor tamanho circularam e ainda circulam
pelo mundo e também no Brasil, denominados padrão berliner, imagens e
textos curtos pipocando em seu formato de 47 x 37,5 centímetros, um
pouco menor que o tablóide.
Ingressamos na era do plasma,
um pedaço de papel eletrônico, espécie de plástico dobrável, para pôr
no bolso. Uma tela portátil, denominada e-reader, de 12,2 por 16,3
centímetros. Impresso e alimentado via internet sem fio, a rotatividade
das notícias é monitorada via digital. Encostamos a ponta da unha e
pronto, temos sempre novas e novas notícias. Não há jornal impresso que
resista ao furacão de avanços tecnológicos a que chegamos neste século
21 e das tempestades eletrônicas que se avizinham. Os avanços
ideológicos nas classes dominadas, esses igualmente carregam a alça do
esquife dos jornais impressos rumo ao cemitério.
*Apollo Natali é
jornalista, formado aos 71 anos, depois de 4 décadas atuando na
imprensa. É colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a
coluna “Desabafos de um ancião”.
Do Blog QTMD? Quem Tem Medo da Democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário