Balaio do Kotscho
No meio do feriadão de 1º de Maio, sexta e sábado, o PT promove seu
14º Encontro Nacional em São Paulo, no momento mais difícil dos seus 34
anos de vida. Não bastasse a enxurrada de problemas enfrentados pelo
governo Dilma, tanto no campo político, com rachaduras na aliança, como
no econômico, em que os índices negativos se multiplicam, agora surgem
sinais evidentes de uma divisão interna, que pode prejudicar não só a
reeleição da presidente, mas as chances do partido nas eleições
estaduais e seu próprio projeto de poder.
O ex-presidente Lula repetiu, pela milésima vez, no final de semana,
em entrevista à televisão portuguesa RTP, que não vai concorrer a nenhum
cargo nas eleições deste ano e apoiará a sua sucessora: "Não vou ser
candidato. Vou para a rua fazer campanha para Dilma". Mas não adianta: a
turma do "volta Lula", que junta setores do partido mais ligados ao
ex-presidente a empresários descontentes com o governo Dilma, não
desiste de criticar os rumos da administração federal e alimentar o
noticiário que insiste em jogar um contra o outro, na tentativa de
enfraquecer ambos e, portanto, o PT.
Dilma e Lula estarão juntos no encontro, com a participação de 800
delegados, que devem aprovar as diretrizes do programa de governo da
presidente para um possível segundo mandato. É a oportunidade que os
dois terão para mostrar uma unidade partidária que no momento está, de
fato, mais ameaçada por divergências internas, manifestadas publicamente
no caso da Petrobras, do que pelos adversários na disputa eleitoral.
A esta altura, faltando pouco mais de cinco meses para as eleições,
não basta reclamar do partidarismo da mídia a serviço da oposição.
Sempre foi assim, mas os problemas enfrentados pelo governo e pelo
partido são reais e é preciso dizer claramente o que o PT pretende fazer
com a capengante economia, caso conquiste mais um mandato, que o
deixaria 20 anos no poder central.
O próprio Lula, numa entrevista concedida a um grupo de blogueiros,
no início do mês, cobrou da presidente o anúncio de medidas concretas
para melhorar a economia, mas o governo parece travado, jogando na
retranca, como se já tivesse feito tudo o que era possível para
controlar a inflação e retomar o crescimento com mais força, os grandes
desafios do momento, que podem ser decisivos na eleição de outubro.
Ainda nesta segunda-feira, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, projetou um crescimento do PIB de apenas 2,3% este ano, abaixo
da própria previsão feita anteriormente pelo governo, que já era
decepcionante (2,5%). A segunda má notícia do dia, que vem se somar a
todas as outras das últimas semanas, é o crescimento de 7,4%
na inadimplência das empresas, em relação ao mesmo período do ano
passado. E uma ala do PR já está anunciando que vai retirar o apoio a
Dilma na reeleição.
Diante deste quadro desfavorável, sendo bombardeada por todos os
lados, inclusive por membros do seu partido e da base aliada, o governo
Dilma mantém um obsequioso silêncio, que só deverá ser quebrado pelo
discurso da presidente no 1º de Maio, em rede nacional de rádio e
televisão. Ministros e assessores próximos da presidente no Palácio do
Planalto agora não falam mais nem em "off" quando perguntados sobre a
reação do governo aos cada vez mais duros ataques da oposição.
O cenário em que os petistas se reunirão no final de
semana, guardadas as devidas proporções, me lembra um pouco a crise
vivida pela então prefeita de São Paulo Luiza Erundina, no final dos
anos 80, que atribuía as dificuldades da sua administração ao partido e
vice-versa. Depois de 11 anos e quatro meses no Palácio do Planalto, o
PT se vê agora diante do dilema de defender a continuidade num país que
quer mudanças, o oposto do que aconteceu na campanha de 2002, no final
do governo FHC, quando Lula se elegeria presidente pela primeira vez,
vencendo o tucano José Serra. A diferença é que agora o PT está no
governo.
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