Kiko Nogueira, Diário do Centro do Mundo
"As repórteres do Globo que interrogaram os blogueiros que participaram da entrevista com Lula usaram uma técnica meio macartista, meio pegadinha do Mallandro. Nunca escreveram uma matéria sobre política, mas isso não vem ao caso porque o que importa é que elas cumpram ordens. Conceição Lemes escreveu suas respostas ao longo questionário no site do Viomundo. Eu recebi três perguntas.
A tentativa patética de querer desqualificar, primeiro, Lula e, depois, as pessoas que com ele estiveram resultou num traque maldoso. Lula não ocupa cargo público e convida quem quiser para seu instituto. Vai quem quer, também.
O episódio é emblemático sob vários aspectos — principalmente na maneira como a Globo continua tratando sua audiência: como idiota. Como se ninguém soubesse do vasto manancial de farsa jornalística produzida no lugar onde trabalham. Riquíssimo, didático, eloquente. Um monumento.
Para ficar apenas num exemplo, deveriam trocar ideias com Carlos Monforte, que declarou que “Lula pegou uns amigos blogueiros para dar esses recados, onde ele não foi questionado”. Monforte é, em si mesmo, um Manual da Globo de Como Fazer Entrevistas Picaretas.
Em 1994, foi co-protagonista do chamado “escândalo da parabólica”. Pouco antes de um bate papo com o então ministro da Fazenda Rubens Ricúpero, câmeras e microfones captaram a conversa entre os dois e o sinal foi enviado, sem intenção, por essas antenas.
A intimidade não era à toa: Monforte era primo da mulher de Ricúpero. As famílias se frequentavam. Avisou o telespectador disso? Evidentemente que não.
Sentindo-se em casa, Ricúpero fala que o IBGE é “um covil do PT”, xinga empresários de “bandidos” e imortaliza sua divisa: “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Se oferece para participar do Fantástico. “Eu estou disponível. Vou ficar aqui o fim de semana inteiro”.
E afirma que pode ser útil à Globo. “Há inúmeras pessoas que me escrevem e me procuram para dizer que votam nele [FHC] por minha causa. Para a Rede Globo, foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele, botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. Essa é uma solução, digamos, indireta, né?”
Ricúpero pediu demissão a Itamar Franco assim que a história foi divulgada. O Jornal Nacional deu a matéria, omitindo todos os fatos importantes e com o velho Cid Moreira discursando sobre isenção. Monforte ficou onde estava. Em 2011, ele entrevistaria, aí sim, Fernando Henrique Cardoso. O homem que cobrou “questionamentos” foi um doce de coco.
Cito-o literalmente: “Como foi acordar depois de oito anos de poder? Foi mais alívio ou saudade do ambiente palaciano?”; “Por que o senhor resolveu não seguir a vida política parlamentar?”; “É difícil tocar um instituto desse?”; “Depois de oito anos de governo, qual é sua melhor lembrança e a pior recordação?”
São clássicos do jornalismo partidário, sabujo, manipulador. Uma aula à disposição dos jornalistas macartistas desse Brasil varonil. E não é preciso escarafunchar nos arquivos e correr qualquer risco. Está no YouTube. Vale a pena ver de novo."
"As repórteres do Globo que interrogaram os blogueiros que participaram da entrevista com Lula usaram uma técnica meio macartista, meio pegadinha do Mallandro. Nunca escreveram uma matéria sobre política, mas isso não vem ao caso porque o que importa é que elas cumpram ordens. Conceição Lemes escreveu suas respostas ao longo questionário no site do Viomundo. Eu recebi três perguntas.
A tentativa patética de querer desqualificar, primeiro, Lula e, depois, as pessoas que com ele estiveram resultou num traque maldoso. Lula não ocupa cargo público e convida quem quiser para seu instituto. Vai quem quer, também.
O episódio é emblemático sob vários aspectos — principalmente na maneira como a Globo continua tratando sua audiência: como idiota. Como se ninguém soubesse do vasto manancial de farsa jornalística produzida no lugar onde trabalham. Riquíssimo, didático, eloquente. Um monumento.
Para ficar apenas num exemplo, deveriam trocar ideias com Carlos Monforte, que declarou que “Lula pegou uns amigos blogueiros para dar esses recados, onde ele não foi questionado”. Monforte é, em si mesmo, um Manual da Globo de Como Fazer Entrevistas Picaretas.
Em 1994, foi co-protagonista do chamado “escândalo da parabólica”. Pouco antes de um bate papo com o então ministro da Fazenda Rubens Ricúpero, câmeras e microfones captaram a conversa entre os dois e o sinal foi enviado, sem intenção, por essas antenas.
A intimidade não era à toa: Monforte era primo da mulher de Ricúpero. As famílias se frequentavam. Avisou o telespectador disso? Evidentemente que não.
Sentindo-se em casa, Ricúpero fala que o IBGE é “um covil do PT”, xinga empresários de “bandidos” e imortaliza sua divisa: “Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”. Se oferece para participar do Fantástico. “Eu estou disponível. Vou ficar aqui o fim de semana inteiro”.
E afirma que pode ser útil à Globo. “Há inúmeras pessoas que me escrevem e me procuram para dizer que votam nele [FHC] por minha causa. Para a Rede Globo, foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele, botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. Essa é uma solução, digamos, indireta, né?”
Ricúpero pediu demissão a Itamar Franco assim que a história foi divulgada. O Jornal Nacional deu a matéria, omitindo todos os fatos importantes e com o velho Cid Moreira discursando sobre isenção. Monforte ficou onde estava. Em 2011, ele entrevistaria, aí sim, Fernando Henrique Cardoso. O homem que cobrou “questionamentos” foi um doce de coco.
Cito-o literalmente: “Como foi acordar depois de oito anos de poder? Foi mais alívio ou saudade do ambiente palaciano?”; “Por que o senhor resolveu não seguir a vida política parlamentar?”; “É difícil tocar um instituto desse?”; “Depois de oito anos de governo, qual é sua melhor lembrança e a pior recordação?”
São clássicos do jornalismo partidário, sabujo, manipulador. Uma aula à disposição dos jornalistas macartistas desse Brasil varonil. E não é preciso escarafunchar nos arquivos e correr qualquer risco. Está no YouTube. Vale a pena ver de novo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário