22/01/2015
Fabio Lau, via Conexão Jornalismo
Antes de mais nada é preciso dar nome aos bois para impedir que ele, desavisado ou de propósito, fique na linha. Censura na Comunicação é algo tão inaceitável que só tem andado, de forma institucional ou por imposição empresarial, em países como o Brasil. Portanto, jamais fomos exemplo do que quer que seja: da liberdade de expressão à censura plena do direito de informar.
Para não irmos muito além do que a vista alcança é importante fazer uma visita ao período discricionário experimentado por todos os maiores de 50 anos a partir de 1964. Implantada a ditadura, quando Jango era acossado pela maioria dos jornais e tevês da época, nossos veículos de comunicação impressos, de radiodifusão e emissoras de tevês aderiram ao movimento rapidamente.
O objetivo ali era ficar bem com os “milicos” para se beneficiar de dinheiro forte que seria distribuído aos veículos de comunicação amigos. A Globo, maior referência de Grupo de Comunicação do planeta, nasceria no ano seguinte. Até então vivia do jornal impresso fundado pelo pai de Roberto Marinho. Silvio Santos, hoje dono do SBT, também conquistou tevês ali. Chegou a ter duas concessões em seu nome.
O acordão com o governo deu corpo e alma a uma ditadura sanguinária sem que jamais sua inconstitucionalidade, ilegalidade e arbitrariedade – com mortes e desaparecimentos, além de torturas e cárcere – tenham sido discutidas. É falso dizer que os jornais, ou sua maioria, eram silenciados. Houve uma adesão, e a retórica da “censura” passaria a servir de alegação eterna para justificar o adesismo. Mesmo o JB, que gosta de se apresentar como modelo de resistência, aderiu à ditadura militar, embora de maneira menos apaixonada do que Folha ou O Globo.
Os veículos de comunicação cresceram e prosperaram. A única ameaça real que poderiam experimentar, tendo em vista seu poderio financeiro inabalável conquistado durante anos e anos, só surgiria na última década: a internet.
A concorrência digital torna o confronto de ideias e opiniões razoavelmente equilibrado. E daí surge o grande temor das velhas corporações: fortalecer economicamente as novas iniciativas – como Conexão Jornalismo, Correio do Brasil, DCM, Brasil 247, Revista Fórum, Sul 21, Mega Cidadania, Rede Brasil Atual, Brasil de Fato, O Cafezinho, Tijolaço e outras ações empresariais – é um caminho natural para oferecer ao Brasil finalmente uma alternativa real de pluralidade na Comunicação.
Além de nós, que atuamos como tevê (quando usamos o recurso das transmissões online), rádio e jornal, há também ações como Porta dos Fundos, Mídia Ninja, Rafucko, Canal do Pirula e outras iniciativas isoladas, as quais revelam que também fazemos entretenimento. Por isso, e pelo sucesso alcançado usando essa estratégia, e quebrando pedra para fechar a conta, este grupo de guerreiros da comunicação espera tratamento igualitário deste governo.
A regulação econômica da mídia deveria ser estimulada pelas próprias corporações tradicionais. Deveriam elas estar cientes da sua impotência para desenvolver e implementar a democratização de ideias e empreendimentos que atendam a uma demanda diversificada e exigente, num mundo globalizado e de comunicação acessível. Faria grande bem ao país se as “grandes” corporações se engajassem e defendessem este movimento.
Os canais de aferição de audiência mostram o quanto os veículos tradicionais se tornam obsoletos com o passar de meses e anos. Tevês, impressos e rádios tradicionais são vistos pelas novas gerações como algo primitivo, pelo próprio formato e pela sua impossibilidade de gerar debate e participação. Por tudo isso, Conexão e as demais ferramentas de Comunicação que surgiram da garra de seus executivos queremos das administrações municipais, estaduais e Federal, empresas públicas e também da iniciativa privada, tratamento igualitário.
O Barão de Itararé, entidade de pesquisa e fomento das novas mídias, reúne entre sites e blogs conveniados um universo de público diário que supera a tevê Globo em visualizações – somos 30 milhões de internautas por mês (maior do que a população da Argentina) – números facilmente auditáveis.
Outra razão emblemática e não menos importante diz respeito a um mercado de trabalho que se amplia, mas que contraditoriamente reduz o quadro funcional. Cada vez mais abdica da mão de obra qualificada dos jornalistas. Hoje, pelo modelo de gestão absolutamente mercantilista, empresas que recebem volumosos recursos públicos demitem funcionários por razões etárias. Quando se aproximam da aposentadoria são dispensados, como se a experiência representasse custo e não a conquista da plenitude do conhecimento. Abandonados, não raro caem na marginalidade da vida profissional e interrompem o ciclo de trabalho de forma forçada e prematura. Reagrupar estes jornalistas, resgatar sua autoestima e reinseri-los no mercado de trabalho é um papel a ser cumprido pelas novas mídias.
Nosso apelo não se dá em nome setorial ou apenas empresarial. Mas em nome da sociedade brasileira, que merece há tempos sair da rabeira no trato com seu modelo de comunicação concentrado, engessado e de um passado maculado por uma posição de aliança com a ditadura política que marcou nossa imagem historicamente. Este momento é perfeito para que estes meios não repitam o gesto, agora defendendo a ditadura da Comunicação. Só ela nos une a um passado que não deveria ter acontecido.
Fabio Lau é jornalista, diretor de Redação do site de notícias Conexão Jornalismo.
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