Encontro organizado pela CNI, em Fortaleza,
inclui ponto crucial na agenda de cúpula entre presidentes do Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul; empresários pedem o uso de moedas
nacionais em transações comerciais entre companhias dos cinco países;
previsão é de fechamento de negócios totais de US$ 3,9 bilhões nos
setores de agronegócio, infraestrutura, logística, mineração e máquinas e
equipamentos; ideia é que, no futuro, compras e vendas sejam feitas em
reais, rublos, rupias, yuans ou rands – e não mais na moeda americana;
ano passado, Brasil manteve com BRICS relacionamento de US$ 101
bilhões; EUA e Europa não vão gostar; novo eixo de desenvolvimento
247 – Uma carta aberta assinada por cerca de 700
empresários que participaram de encontro de negócios organizado pela
Confederação Nacional da Indústria, em Fortaleza, na véspera da reunião
de cúpula dos presidentes dos BRICS, pede a aceleração da substituição
do dólar como moeda oficial para transações entre os cinco países do
grupo.
A intenção é a de que haja incentivos oficiais para que compras,
vendas e parcerias entre companhias privadas de Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul sejam feitas com o uso de reais, rublos, rupias,
yuans e rands – as respectivas moedas nacionais – e não apenas em dólar
ou euro. Trata-se de uma inovação nunca praticada, em larga escala, no
comércio internacional.
Assim como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Fundo de
Contingenciamento Emergencial, a proposta de troca de moedas tem tudo
para preocupar – e irritar – os meios financeiros dos Estados Unidos e
Europa. Significa, na prática, uma declaração de independência do grupo
de países que nasceu a partir de uma expressão criada pela economista
Jim O’Neill e, em seis anos de encontros de cúpula, vai
ganhando organicidade real.
Abaixo, notícias da Agência Brasil e da CNI a respeito:
Empresários do Brics vão sugerir troca direta de moeda entre países do bloco
Daniel Lima e Sabrina Craide – Enviados Especiais
Os empresários dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) vão apresentar amanhã (15), na reunião de chefes
de Estado do grupo, um documento com sugestões para aprimorar a
economia do bloco.
Uma das propostas é permitir a troca direta de moedas entre os
países, para facilitar e baratear os custos de transação. Segundo o
presidente da sessão brasileira do Conselho Empresarial do Brics, Rubens
De La Rosa, a transação deverá ser feita no âmbito do Banco de
Desenvolvimento do Brics, que deve ter sua criação formalizada na
reunião de amanhã.
“Isso vai permitir que, se eu tiver que fazer uma remessa à Índia,
eu não tenha que converter [o valor] em dólares e depois em rupias,
gerando custos de transação. Assim, teremos pequenas baixas que
diminuirão o custo financeiro de operação. É uma medida simples e
possível de ser feita no ambiente do banco”, explicou Rosa.
Para os empresários, a criação de um banco para o bloco irá acelerar o
comércio, negócios e investimentos entre os países do Brics.
Para
o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson
Andrade, o banco será importante para todas as empresas dos cinco
países, principalmente por permitir que investimentos entre eles tenham
mecanismos de financiamento internacional com garantias dadas pelas
matrizes das empresas. “É muito difícil para uma empresa fazer
investimento lá fora simplesmente com seus próprios recursos. Então,
esse mecanismo será fundamental para aumentar o número de empresas
brasileiras com investimentos no exterior”, afirmou Andrade.
Os empresários vão sugerir também medidas para facilitar a emissão de
vistos de negócios e a redução das barreiras não tarifárias, como
restrições técnicas e fitossanitárias. “Hoje, as empresas brasileiras
estão sujeitas a regras de agências reguladoras e, muitas vezes, os
produtos importados não atendem às mesmas especificações, nem estão
sujeitos às mesmas regras. O que queremos é que a empresa brasileira
compita no mesmo ambiente, que os produtos importados tenham que atender
às mesmas especificações dos produtos brasileiros”, ressaltou o
presidente da CNI.
CNI - Na tarde de hoje, mais de 700 empresários dos
países do bloco participaram do encontro organizado pela CNI, realizado
paralelamente à 6ª Cúpula do Brics. Durante o evento, o Conselho
Empresarial do Brics vai debater as expectativas econômicas e de
integração do bloco. Para a noite de hoje, está prevista uma rodada de
negócios, que deve reunir representantes de mais de 600 empresas dos
cinco países e movimentar US$ 3,9 bilhões.
Os empresários do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
trabalham pelo fortalecimento da integração econômica entre os países
que formam os BRICS. Na segunda-feira (14), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) organiza o Encontro Empresarial dos BRICS,
o Business Network e o Conselho Empresarial dos BRICS, com o objetivo
de melhorar a pauta do comércio e o investimento entre os cinco países.
Os três eventos
ocorrem no Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, às vésperas da
reunião dos chefes de estado dos cinco países. A expectativa é que o
Business Network, a rodada de negócios que reunirá 602 empresas,
movimente US$ 3,9 bilhões. Há interesses nas áreas de agronegócios,
infraestrutura, logística e equipamentos de transporte, mineração,
máquinas e equipamentos, tecnologia da informação, farmacêutico e
equipamentos médicos, energia e economia verde. “Nossa prioridade é
buscar uma agenda pragmática. Queremos que os BRICS avancem e aproveitem
a aliança política para reforçar a agenda econômica. Conhecemos todos
os desafios e as diferenças entre nós. Mas poderemos ser úteis uns aos
outros se trabalharmos juntos”, diz o diretor de Desenvolvimento
Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
Dentro das recomendações aos
governos, os empresários dos cinco países defendem a aceleração da
criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS para promover e facilitar o
comércio, negócios e investimentos. Também entendem que é necessário
facilitar a emissão de vistos para viajantes a negócios, reduzir
barreiras não tarifárias, como restrições técnicas e fitossanitárias,
eliminar obstáculos ao comércio, além do engajamento dos chefes de
estado para solucionar problemas relacionados com políticas de comércio
entre os BRICS, como dumping e subsídios.
Entre as propostas
empresariais aparece ainda o aumento das transações em moeda local, com a
infraestrutura financeira, sistema de liquidação e o envolvimento dos
bancos centrais para reduzir o uso de moeda fora do grupo nas transações
comerciais e de investimentos dos BRICS. Por fim, os empresários
defendem a eliminação de subsídios à exportação na agricultura.
A FATIA DO BRASIL
– O comércio entre o Brasil e os demais países dos BRICS cresce sem
parar, principalmente pela participação da China. Em 2013, a corrente de
comércio brasileira com as demais economias do grupo foi de US$ 101
bilhões, representando 21% da corrente de comércio brasileira com o
mundo. Em 2008, esse percentual era de 14%. No ano passado, os BRICS
foram o segundo bloco mais importante para as exportações brasileiras
atrás apenas dos países da Associação Latino-Americana de Integração
(Aladi).
No entanto, do total, US$ 84 bilhões foram negócios com a
China, o que torna a pauta brasileira com os BRICS concentrada em
poucos produtos primários. Mais de 70% das exportações nacionais para
aqueles países são de soja, minério de ferro, óleo combustível bruto. O
inverso ocorre com as importações. Cerca de 95% da pauta de importações
do Brasil é de produtos manufaturados. A CNI entende que uma maior
aproximação do Brasil com os BRICS deve agregar valor às vendas externas
do país.
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