Mal acabou o jogo na terça-feira, com o placar mostrando inacreditáveis 7
a 1 para a Alemanha, alguns coleguinhas da imprensa se apressaram em
mostrar serviço no afã de analisar como o desastre da seleção
brasileira no Mineirazo vai repercutir na campanha eleitoral e derrubar a
recandidatura da presidente Dilma Rousseff.
Foram, como de costume, mais realistas
do que o rei. No dia seguinte, terça-feira, líderes tucanos trataram de
acalmar a tropa amiga, avisando que não é bem assim. O ex-governador
José Serra, por exemplo, agora candidato do PSDB ao Senado, alertou os
aliados mais afobados a ter calma nesta hora.
"Eu não sei qual é a tradução política
disso. Vamos ver nos próximos dias e semanas. Não vou fazer hipóteses,
porque, fatalmente, serão confundidas com desejos", alertou, com muita
propriedade, o veterano político de tantas campanhas eleitorais,
repetindo o que escrevi no post pós-jogo, sob o título "Só com o tempo
poderemos entender esta humilhação".
Na mesma linha, o sempre ponderado
governador tucano Geraldo Alckmin, candidato favorito à reeleição,
lembrou que uma coisa não tem nada a ver com outra: "Aliás, se você
verificar, a última Copa que o Brasil ganhou foi em 2002, era o governo
do presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB perdeu a eleição.
Então, não tem essa relação. Mas todos estamos tristes, porque
esperávamos um resultado melhor".
Ainda na véspera da partida fatídica, o
ex-presidente FHC, ao criticar "algumas pessoas" que estavam misturando
futebol com política, previu que o Brasil poderia ganhar a Copa e
Dilma perder a eleição. Tinha toda razão, mas a recíproca, deve-se
admitir agora, também é verdadeira.
O Brasil não vai mais ser hexa, a Copa
de 2014 termina domingo, no Maracanã, disputada entre Alemanha e
Argentina, e na próxima semana começa para valer a campanha eleitoral.
Claro que o bom ou o mau humor dos
torcedores e o alto ou baixo astral dos eleitores tem influência na hora
de decidir o voto, mas o futebol não é responsável por isso. Em
qualquer país e qualquer época, com ou sem Copa, determinante na hora
do voto é o estado da economia nacional, ou seja, o bolso dos
eleitores.
Que a economia brasileira anda
capengante este ano, o que prejudica quem está no governo e ajuda a
oposição, todos nós sabemos, não é preciso ser um grande analista
político. Não basta, porém, mostrar as dificuldades enfrentadas pelo
governo e os erros cometidos. É preciso apresentar propostas novas e
concretas sobre o que e como fazer para segurar a inflação e fazer o
PIB voltar a crescer, sem subir os juros, simples assim.
Se o governo ficar só mostrando as
maravilhas que fez e a oposição esculhambar com tudo, vamos ficar num
Fla-Flu estéril, que em nada ajuda o país. Eleição é sempre uma
renovação de esperanças e o eleitor quer é saber o que os candidatos
têm a dizer sobre os caminhos para o futuro.
Temos menos de três meses até as
eleições não só para discutir soluções para a economia, mas também uma
reforma política ampla, geral e irrestrita, como foi a anistia, sem o
que, nada mudará, qualquer que seja o candidato eleito. Com o atual
sistema político-partidário-eleitoral, que está falido faz tempo, o
Brasil é simplesmente ingovernável, assim como é inútil trocar o
técnico da seleção sem promover uma reforma estrutural profunda na
organização do futebol brasileiro.
Ricardo Kotscho
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
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