O candidato oculto
'Há um
candidato oculto trabalhando em tempo integral pela derrota progressista
em outubro. Tarso Genro identificou-o como a Internacional do Capital
Financeiro
Terminada a Copa do Mundo a presença recorrente do noticiário negativo
sobre a economia brasileira volta a dominar as manchetes e escaladas
da emissão conservadora.
O país , de fato, tem problemas
estruturais a debater. A engrenagem econômica se ressente de mortífera
sobrevalorização cambial. Ela inibe exportações e transfere demanda para
o exterior.
As contas externas , ademais, sofrem com a erosão
nas cotações das commodities e o salto nas remessas de lucros e
royalties (mais de US$ 33 bilhões em 2013).
O parque industrial, defasado tecnologicamente, vê cadeias produtivas serem esfareladas pela invasão dos importados.
A
expansão da infraestrutura ainda carece de um modelo que aperfeiçoe
projetos e proteja as urgências nacionais das tenazes de embargos e
interditos que impedem a aceleração das obras e explicam prazos e
custos sempre rompidos.
Tudo isso é verdade.
Mas não é a motivação verdadeira que impulsiona o jornalismo do ‘Brasil aos cacos’.
O
que interessa a ele, de fato, é obstruir a formação do discernimento
coletivo sobre o que é essencial na superação desses gargalos.
O essencial debate-se entre duas lógicas.
De
um lado, a lógica de um poder econômico que rejeita a infiltração da
soberania popular no metabolismo de um Estado brasileiro, sempre refém
da hegemonia absoluta das elites.
De outro, uma aspiração crescente por cidadania plena da parte de amplas camadas da população.
Em alguma hora elas terão que se deter diante da pergunta chave do futuro nacional.
Que
democracia é necessária para que a sociedade possa vencer a transição
entre uma economia pensada para 1/3 da população, e aquela requerida
agora que o mercado de massa atingiu uma escala estruturante no país?
Ao
contrário do que sugere a pregação midiática contra o ‘intervencionismo
da Dilma’, o desafio reside justamente em construir alternativas à
matriz anacrônica da liberalização e da desregulação econômica
–-panaceia conservadora que sonega consistência estrutural a qualquer
projeto de desenvolvimento.
Isso já era verdade na reunião de Bretton Woods, em 1944.
Um
certo John Maynard Keynes disse, então, que mesmo nos marcos do
capitalismo (que afinal era o seu foco), nenhum Estado soberano poderia
servir a três senhores ao mesmo tempo.
A saber: a liberdade de
capitais; o livre comércio e a autonomia da política monetária –
leia-se, a renúncia ao controle da taxa de juro, variável decisiva de um
ciclo de investimento.
Vivemos há seis anos o maior colapso do
capitalismo desde 1929, obra-prima do credo no Estado mínimo, associada à
delegação suicida do destino da sociedade aos mercados
‘autorreguláveis’.
A desordem financeira mundial não cederá tão cedo, nem tão facilmente.
A consciência dessa travessia histórica é um dado fundamental para a ação política em nosso tempo.
O
movimento estrutural de expansão do capital financeiro, cuja supremacia
determina a dinâmica de uma economia mundial em crise , impõe
dramáticos constrangimentos à soberania da sociedade para planejar seu
destino e o destino do seu desenvolvimento.
Não há economicismo nessa constatação.
A
política contribuiu de maneira inestimável para o modo como essa lógica
se impôs, a velocidade com que ela se consolidou, a virulência de sua
hegemonia e a brutal agonia da decadência atual.
A espoleta da
maior crise do capitalismo desde 1929 foi o recuo desastroso do controle
da Democracia sobre o poder do Dinheiro. O desmonte das travas
regulatórias do sistema bancário foi o seu vetor.
Recuos e
derrotas acumulados pela esquerda mundial desde os anos 70, sobretudo a
colonização de seu arcabouço programático pelos valores e interditos
neoliberais, alargaram os vertedouros para o espraiamento de uma
dominância financeira , cuja presença tornou-se ubíqua em todas as
esferas da vida humana.
A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, sancionou a supremacia da ordem regressiva.
Recolher
esse caudal selvagem aos diques preexistentes é tão plausível quanto
vencer a seleção alemã com um ataque formado por Jô e Fred.
A
sociedade que cedeu soberania ao suposto poder autorregulador dos
mercados perdeu as ferramentas institucionais capazes de gerar
antídotos às degenerações intrínsecas a essa renúncia.
O Brasil,
por exemplo, perdeu grande parte do poder indutor sobre a economia
exercido por estatais que foram majoritariamente privatizadas.
A
democracia terá que reinventar-se para que a retomada desse poder de
iniciativa se recoloque no horizonte da ação política pelo
desenvolvimento.
A urgência dessa reinvenção é a agenda subjacente ao debate eleitoral que começa a partir de agora.
O campo progressista não pode negligenciar a existência de um candidato oculto trabalhando em tempo integral pela sua derrota.
O governador Tarso Genro, em artigo recente nesta página, deu a esse candidato ubíquo o nome de ‘A Internacional do Capital Financeiro’ .
O economista Márcio Pochmann debruçou-se sobre esse palanque invisível no texto ‘Dominação financeira e suas contradições’ (leia nesta pág).
Carta
Maior considera que o aprofundamento desse debate é oportuno e
imprescindível para que o próprio campo progressista forme um
discernimento mais claro e preciso do que está em jogo nestas
eleições.
Esse é o propósito do Seminário Virtual ‘A
internacional do Capital Financeiro’ que estará presente em sua página
a partir de agora, com a participação de alguns dos mais importantes
intelectuais brasileiros.
Conhecer o candidato oculto do palanque conservador não é um exercício diletante.
Trata-se
de um dos requisitos à vitória, não apenas de uma candidatura, mas de
uma agenda progressista consequente em outubro.
A ver."
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