Marina: olhei em seus olhos e segurei em suas mãos. Dener Giovanini |
Em 2003, ainda no começo do governo do presidente Lula eu, que ainda não
era jornalista, dei uma entrevista para o Estadão na qual afirmava
categoricamente: “não confio na Marina Silva nem para cuidar do meu
jardim”, clique aqui para conferir. Confirmei minhas palavras no discurso que proferi na ONU ao receber de Kofi Annan o prêmio
das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Os petistas se arrepiaram,
reclamaram e me criticaram. Não deu outra: se arrependeram. Em 2010,
quando o Partido Verde aceitou a bancar a candidatura de Marina para
presidência da República, novamente eu avisei em diversas oportunidades,
que eles estavam dando um tiro no próprio pé. Fui criticado e
esculhambado por algumas lideranças do PV. Não deu outra: eles também se
arrependeram.
Quando Eduardo Campos oficializou a candidatura de Marina Silva como
vice em sua chapa eu não perdi a oportunidade. Novamente afirmei em
entrevistas e artigos que o PSB iria se arrepender. E, mais uma vez, não
deu outra: Marina, além de não transferir votos, ainda criou uma série
de dificuldades políticas para Eduardo, levando seu nome a patinar entre
10% do eleitorado. Não fosse sua trágica morte, ele sairia da eleição
muito menor que entrou. E grande parte da culpa teria o sobrenome Silva.
Seria eu um implicante sem razão contra Marina Silva ou será que Deus me
concedeu o dom da adivinhação? Nem uma coisa, nem outra. Sou apenas um
pragmático, que não dá asas a paixões avassaladoras de momento e nem me
deixo levar pelas emoções de ocasião. E assim penso que deva ser cada
brasileiro que tenha consciência sobre a sua responsabilidade de decidir
o destino do país.
Marina Silva foi ministra de Lula por oito anos e “abandonou” o governo
quando percebeu que seu ego se apequenava diante do crescimento da
influência da então também ministra Dilma Rousseff. O Planalto estava
pequeno demais para as duas. Também deixou o Partido Verde ao perceber
que a legenda não se dobraria tão fácil a sua sede de poder. Eduardo
Campos sentiu o amargo sabor de Marina ao ver alianças importantes
escorrerem por entre seus dedos. Marina atrapalhou, e muito, sua
candidatura. Isso é um fato que nem o mais bobo líder do PSB pode negar.
Marina está fadada a trair
O grande ego é o pai da traição. Quem se sente um predestinado e
prioriza o culto a personalidade tem medo da discordância, da crítica. É
esse medo que gera uma neutralidade perigosa e falsa. E a neutralidade é
a mãe da traição. Seres humanos com grandes egos quase sempre se
posicionam entre o conforto de “lavar as mãos” e o silêncio covarde de
suas convicções.
Marina Silva é assim. Simples assim.
Nas últimas Eleições presidenciais Marina ficou NEUTRA. Alguém se lembra?
Ao contrário do que desejavam seus milhões de eleitores — que ansiavam
por uma indicação, uma orientação ou um caminho — Marina calou-se. Não
apoiou Dilma e nem Serra. Com medo de decidir, declarou-se neutra. E
ajudou a eleger Dilma.
Claro, não se espera de um político uma sinceridade absoluta, mas pelo
menos transparência em algumas das suas convicções básicas. Isso Marina
não faz. E quem não o faz assume o destino da traição. Vejamos:
a) Se eleita, Marina Silva irá mudar o atual Código Florestal?
SIM (trairá o agronegócio)NÃO (trairá os ambientalistas)
b) Se eleita, Marina Silva irá abandonar os investimentos no
Pré-sal e passará a investir em fontes alternativas para a matriz
energética?
SIM (trairá a Petrobrás e seus parceiros)NÃO (trairá os ambientalistas)
c) Se eleita, Marina Silva irá interromper a construção de Belo Monte?
SIM (trairá os empresários)NÃO (trairá os ambientalistas)
d) Se eleita, Marina Silva irá apoiar o casamento gay?
SIM (trairá os evangélicos)NÃO (trairá os movimentos sociais)
e) Se eleita, Marina Silva será contra a pesquisa de células tronco?
SIM (trairá os pesquisadores e a academia)NÃO (trairá os evangélicos)
f) Se não for ao segundo turno, Marina repetirá sua posição de 2010?
SIM (trairá a oposição)NÃO (trairá a si mesma)
Essas são apenas algumas perguntas que Marina Silva não responderá. Ou o
fará por meio de respostas dúbias e escamoteadoras, bem ao seu estilo.
No final, ninguém saberá realmente o que ela pensa. Sob pressão, ela
jogará a responsabilidade para a plateia e sacará de seu xale sagrado a
carta mágica: FAREMOS UM PLEBISCITO!
Esse é o estilo Marina de ser. E esse é o tipo de comando que pode
levar o Brasil ao encontro de um cenário de incertezas e retrocessos. O
que ela fala — ou melhor — o que ela não fala hoje, será cobrado no
Congresso Nacional caso venha a se eleger. Como Marina negociará com a
bancada ruralista? Com a bancada religiosa?
Você, caro leitor, vai arriscar?
Eu não. Se não me bastassem os fatos, tive a oportunidade de olhar
profundamente os olhos de Marina e de segurar em suas mãos. E não gostei
do que vi. E não tenho medo de críticas. E tenho orgulho das minhas
convicções.
Dener Giovanini
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