Autor: Fernando Brito
Há um surdo desespero na campanha do PSDB.
Assistem, sem outra reação que não a do sinceríssimo
Reinaldo Azevedo, o movimento da imensa máquina de propaganda da mídia em favor
de Marina Silva, tranformada em mater dolorosa de Eduardo
Campos, com quem – todos sabem – mantinha uma relação de convivência eleitoral,
ao ponto de, mês e meio atrás, ter mandando divulgar nota dizendo que a aliança
PSB-Rede tinha data para acabar.
Agora, porém, tudo mudou.
Eduardo, morto, transformou-se em líder de Marina e ela,
muito viva, em “continuadora” de sua trajetória, à qual há apenas 10 meses se
juntou.
A família – por ironia o “ponto fraco” que William Bonner e
Patrícia Poeta apontavam no candidato, no Jornal Nacional, na véspera de sua
morte – agora é erguida como símbolo da virtude de Campos e elevada à condição
de foro político onde se decidem os rumos da campanha.
O PSDB, acostumado a “surfar” os tsunamis de mídia, está
perplexo diante de tudo.
Despareceu dos jornais, com os quais podia, antes, dar-se ao
luxo de se relacionar com “notas oficiais”.
É obrigado, constrangido, a ler até mesmo Merval Pereira dizer que, agora, ”Marina seria a
candidata das ruas, e tentarão fixar em Aécio Neves do PSDB a imagem de que é o
candidato dos políticos.”
Quem construiu a “não-política” como ideal de pureza –
esquecendo que a política foi a evolução com que a democracia grega superou a
transmissão hereditária do poder – agora se vê atropelado por ela.
É que, talvez, na sua imensa vaidade, os tucanos não enxerguem
que a direita brasileira quer que ocupe a Presidência qualquer um que se
disponha a ser um “não-presidente”.
Dócil por fraqueza, leniente por conveniência, fraco por
definição e caráter.
Ou tudo isso por transtorno próprio aos que se lambuzam no
poder inesperado.
O processo político, não obstante, prossegue, como a
negativa de Galileu do movimento da Terra se completa com aquele
“entretanto, se move”.
Até segunda ordem das pesquisas, a mídia sepultou Aécio
Neves.
E sem velório ou lágrimas.
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