São tantas as variações possíveis, entre a solução para substituir
Eduardo Campos e os desdobramentos disso nos arranjos políticos e no
eleitorado, que as muitas especulações a respeito não alcançam nem o
mais leve sentido. Mesmo os negociadores e outros interessados diretos
estão no escuro, à falta de indícios para orientar as decisões.
Só alguns exemplos, entre tantos disponíveis. Quantos dos candidatos a
governos estaduais comprometidos com Eduardo, sobretudo os não filiados
ao PSB, tenderiam a apoiar de fato a campanha de Marina Silva? Mesmo
sem vitória, que perspectivas a Rede, de Marina, ofereceria para o
crescimento desejado por seu hospedeiro PSB? Até onde a Rede,
fortalecida, prejudicaria as eleições pretendidas pelo PSB para o
Congresso?
Decisivo em muitos sentidos, até o potencial de Marina é obscuro. Quem
adota como indicador o seu desempenho na disputa passada, imagina
possibilidades otimistas para agora. Mas a decepcionante transferência
de apoios para Eduardo Campos e a queda da própria Marina, nas últimas
pesquisas em que recebeu sondagem individual, jogam mais do que
interrogação sobre aquele otimismo.
Algumas respostas preliminares podem vir de pesquisas nos próximos dias.
Mas o básico para percepção do novo quadro, como já se tinha na
formação anterior de forças e tendências, precisará de mais tempo do que
os donos de bola de cristal
suportam. Os indícios aproveitáveis não virão deles, como sempre, até
por estarem fazendo mais política e torcida do que outra coisa.
Previsto para depois de amanhã, o início do horário eleitoral é o que de
mais claro se pode ter de imediato: é provável que logo dê ideia da
musculatura com que cada campanha entre no jogo duro. Mas, nessa
indicação, também um defeito comprometedor: o programa forçosamente
improvisado do PSB, com ou sem Marina.
O mordomo
"Falha humana", na explicação dos desastres aéreos, é como a culpa do
mordomo. O comandante do voo de Eduardo Campos já está lançado na culpa
hipotética por "desorientação espacial", como publicado na Folha, pela Aeronáutica e pela Polícia Federal.
Desorientação do piloto gerou o fogo que moradores da área dizem ter
visto no avião? Ou, antes de coletados os destroços todos do avião, a
Aeronáutica e a Polícia Federal comprovaram que os testemunhos são
inconfiáveis? E, ainda que não houvesse fogo, são inúmeras as possíveis
causas da queda, não havendo mais do que a hipótese de leviandade para a
atribuição barata de culpa do comandante.
O segredo que por lei encobre as investigações sobre desastres aéreos
não tem cabimento, ouvi há pouco de pessoa muito autorizada a dizê-lo.
No Brasil já houve desastres, na aviação comercial, decorrentes de
repetidas falhas de manutenção e de instrução silenciados com óbvio
benefício para a empresa.
O atacante
Em carta à Folha, o assessor de imprensa Otávio Cabral diz que "a
campanha de Aécio Neves" jamais associou uma eventual vitória de
Eduardo Campos à socialização dos bens particulares, "como escreveu
Janio de Freitas". Acusa-me de informação "inverídica".
Se lesse o artigo com mais atenção e menos má vontade, o assessor
notaria que não me referi à campanha DE Aécio, ou seja, à campanha
oficial do candidato. Meu texto mencionou "a campanha PRÓ-Aécio", isto
é, a que apoiadores de Aécio fazem por seu candidato na internet e onde
mais queiram. O resultado seria o mesmo se o assessor lesse o "Panorama
Político" do "Globo" ou desse uma olhada na internet.
Quanto à campanha DE Aécio Neves dizer que é "marcada pelo debate de
ideias e soluções" e "sem espaço para ataques pessoais", exige supor que
também os demais leiam jornal e internet sem atenção. A premissa do
próprio Aécio, de fácil comprovação em jornais, são ataques a Dilma
Rousseff, com citação do nome, e à sua ação presidencial. O velho método
de desqualificar o adversário, com que Eduardo Campos deu algumas
espetadas em Aécio Neves.
Janio de Freitas
No fAlha
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