Em 16 de agosto, a então candidata a vice-presidente Marina Silva
declarou ao jornal Estado de São Paulo que não estava no jatinho em que
morreu Eduardo Campos, segundo a reportagem, “por providência divina”.
Foi sua primeira declaração sobre o acidente, repetida, com variantes,
em todas as suas declarações posteriores.
Espantou-me a teologia implícita na espiritualidade propagada pela
missionária Marina Silva. O ardor com que defende a sobrevivência do
mais humilde ser terreno, animal, mineral ou vegetal, indiferente aos
custos do bem estar do rebanho humano, imprimiu ao tema da
sustentabilidade da saúde planetária um rigor imobilista de difícil
adesão. Na parte humana de seus mandamentos, os vetos à mudança em
costumes e aos experimentos científicos condenariam a espécie às tábuas
atuais de causas mortis, intolerância social e crimes. A variante
teológica de fundo parecia duramente reacionária.
Mas é ainda mais implacável a teologia da missionária Marina. Para
preservar sua missão, providenciou um acidente que matou o candidato a
presidente de sua coligação partidária (pois seu verdadeiro partido, o
REDE, era declaradamente um mioma que esperava crescer no ventre do
hospedeiro PSB), e todos os acompanhantes de Eduardo Campos, pilotos,
repórteres, assessores, dos quais não se conhece a confissão religiosa,
nem se haviam concordado em sacrificar a própria vida em nome dessa
implacável e ególatra missão.
O noticiário tende a difundir a mesma necrofilia teológica, linguagem
que a mídia escolheu para enquadrar o acidente e suas conseqüências
político-eleitorais. As próximas pesquisas, menos debochadas, informarão qual o impacto imediato na distribuição das preferências pré-eleições.
Wanderley Guilherme dos Santos
No Manchetômetro
No Manchetômetro
Nenhum comentário:
Postar um comentário