Embora feitas em avião oficial, viagens de Aécio Neves ao Rio não tinham justificativa de Estado
Oscilando entre a vulgaridade confessa e a sugestão picante, uma copiosa
literatura de entretenimento se produz na Grã-Bretanha em torno da vida
íntima da casa real.
A curiosidade e a titilação não se limitam aos atuais herdeiros do trono
–estando a rainha Elizabeth 2ª, pelo que se sabe, acima de pecadilhos
mundanos–, mas também a figuras do passado.
Um típico exemplar do gênero, de autoria de Stephen Clarke, dedicou-se
recentemente às não muito discretas escapadas daquele que seria o futuro
Edward 7º, rei da Inglaterra entre 1901 e 1910.
Submetido ao controle rigoroso de sua mãe, a rainha Vitória, o jovem
Albert Edward encontrou maneiras de entregar-se a movimentados, e não
propriamente discretos, lazeres em Paris.
A crônica histórica tende a tratá-lo, hoje, com salaciosa indulgência –a
que se pode acrescentar uma dose de diplomacia, uma pitada de
geopolítica. As sendas de uma produtiva "entente" entre França e
Inglaterra puderam abrir-se, em parte, graças à desenvoltura do membro
da realeza nos estabelecimentos alegres da cidade luz.
As relações entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, sem dúvida, não se
mostram tão tensas como as que marcaram França e Reino Unido ao longo da
história. No papel de governador de Minas, e de herdeiro reluzente nas
ordens do tucanato, o atual senador Aécio Neves aprimorou com garbo,
mesmo assim, os contatos interestaduais.
Foram 124 viagens suas ao Rio de Janeiro, nos sete anos e três meses em
que foi governador (2003-2010), a maioria delas entre quinta-feira e
domingo. Partissem os voos do aeroporto de Cláudio, ao menos Aécio teria
tirado aquela obra, construída com dinheiro público em terras
familiares, do triste abandono em que se encontra.
Embora feitas em avião oficial, o fato é que não se registraram
justificativas de Estado para tanta movimentação. Decreto assinado pelo
próprio Aécio Neves permitiu seu acesso a aeronaves públicas em
deslocamentos pessoais, "por questões de segurança".
Não será fora de propósito, em todo caso, invocar o antigo mote da mais
alta condecoração britânica, a Ordem da Jarreteira: "honni soit qui mal y
pense". Abominado seja quem pensar mal de tudo isso. Os ingleses
entendem do assunto. Editorial da Folha
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