A gente falou aqui, e não deu outra. O Serra de sempre está de volta! Tirou o “modelito” lulista que seu marqueteiro Luiz Gonzalez tinha preparado, que estava produzindo pérolas inesquecíveis de cinismo, como aquela de dizer que Lula estava “acima do bem e do mal” e partiu para o velho e furibundo discurso direitista, na versão “sem fantasia”.
Ontem, em Cuiabá, dando curso à sua reencarnação de Moreira Franco – que nos anos 80 se elegeu prometendo “acabar com a violência em seis meses” – , Serra seguiu a risca a recomendação de alguma pesquisa qualitativa que revelou o óbvio (a preocupação pública com o tráfico de drogas) e voltou a martela na tecla em que vem batendo desde que chamou o presidente boliviano Evo Morales de “cúmplice” do narcotráfico.
Só que agora foi abertamente para cima de Lula: “”O presidente da República é o culpado pela falta de segurança, porque ele é o corresponsável”. E emendou isso com uma declaração tão dúbia quanto idiota: “parece que virou política de governo mandar cocaína para acabar com nossa juventude”. A qual governo se refere? Mesmo que seja só ao da Bolívia – e ainda que fosse a Bolívia, e não a Colômbia, o grande exportador de drogas ilegais, qualquer um que pensar dois segundos vai lembrar que a cocaína é um problema que veio do mundo desenvolvido – a começar dos EUA – para cá, e não dos coitados dos índios bolivianos, que plantam coca há milhares de anos, perdidos lá nas solidões do altiplano.
A mixórdia do discurso – que se desmonta só aplicando o mesmo critério para falar da segurança em São Paulo – só é superada pela mixórdia moral de um candidato que adota como prática inverter em 180 graus o seu discurso em função de índices das pesquisas que contrata.
Serra não tem pudor algum em se amoldar ao que julga conveniente, porque é da natureza dos subservientes ter um cérebro e um caráter que se assemelha a estas “massinhas de modelar” infantis. Só que, ao contrário destas, isso é altamente tóxico para a sociedade, porque exalta a falta de princípios, o oportunismo, o carreirismo.
Mas saudemos o retorno de José Serra ao velho discurso de direita, de qualquer forma. Quando alguém tenta se eleger com primarismos, com preconceitos, com demagogia barata, dá-nos a chance de, no processo eleitoral, elevarmos o nível de consciência de nosso povo e, progressivamente, irmos tornando a sociedade brasileira imune a este tipo de picaretagem moral.
Serra é um homem devastado por seu próprio oportunismo.
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