Não sou ignorante em poesia. Já li todos os livros de Ferreira Gullar, atentamente, diversas vezes. Lembro das tardes modorrentas no litoral sul do Rio, a chamada Costa Verde, que eu passava lendo, relendo, decorando, os poemas de Dentro da noite veloz. Ou ainda o impacto dionísiaco que foi conhecer as loucuras sintáticas do Poema Sujo.
Por isso mesmo, é com muita tristeza que eu constato que o responsável por um dos melhores momentos da poesia brasileira tornou-se um reacionário vulgar, medíocre e irresponsável. Eu gostaria de entender porque o poeta não usa sua coluna no caderno de cultura da Folha para falar de... cultura. Gullar escreveu importantes e polêmicos livros sobre artes plásticas (que também li, todos), onde critica severamente diversos aspectos da arte contemporânea. Acho incoerente de sua parte não usar o espaço de que dispõe para dar uma sequência dialética às críticas que fez em livro. Além disso, Gullar mostra-se extremamente desinformado em política. É notório que é um leitor unilateral da mídia impressa. Não conhece a internet, e isso é fatal para quem deseja ser analista político.
O que mais me irrita, e entristece, no texto de Gullar é sua profusão de clichês. Confiram comigo, os primeiros parágrafos de sua coluna de hoje.
Dizer que o PT nasceu empunhando a ética como bandeira é um clichê, uma invenção astuciosa dos tempos do mensalão para detonar o partido. Ética não se mistura com política; é antes um imperativo moral do ser humano, seja de que partido ou ideologia pertença. O PT nasceu como um partido socialista, ou social-democrata, para defender a classe trabalhadora. Suas bandeiras eram o aumento da renda para o trabalhador e a luta contra a miséria.
Note como ele inicia o segundo parágrafo: "Não quero cometer injustiças, mas se não é mera impressão minha (...)" Ora, Ferreira, tenha dó! Não quer cometer injustiças? Então não as cometa! Não sabe se é mera impressão sua? Então nos poupe!
Em seguida, o poeta acrescenta outro pedido de desculpas por seu golpismo banguela: "posso estar enganado (...)". Ora, Ferreira, se tem tantas dúvidas, não encha o saco. Quer fazer oposição, que o faça ao menos com um pouco mais de assertividade. É muito ridículo acusar um presidente da República com essas gagueiras todas. Se você não sabe do que está falando, mude de assunto.
O mais deprimente, todavia, são os cacoetes positivamente reacionários de Ferreira Gullar, como usar a expressão "esperteza sindicalista" ao se referir a uma suposta malignidade do presidente. É muito triste ver alguém que já foi comunista adotar um vocabulário tão preconceituoso. Não reconheço o poeta comunista dos anos 60. Vejo aí apenas um radical de direita. Esperteza sindicalista? Incorporaste Carlos Lacerda, meu caro Gullar?
Mas o cúmulo, o que me fez vir aqui protestar, foi o encerramento do artigo:
Ele protesta contra o aumento de 7,7% concedido aos aposentados, sancionado por Lula. É muito reacionarismo. Aumento eleitoreiro? "Posso estar enganado", mas pelo jeito Ferreira Gullar não vive de sua aposentadoria... e está se lixando para os milhões de brasileiros que poderão ganhar um pouquinho mais. E aí entra a irresponsabilidade. Gullar menciona um suposto déficit de 50 bilhões de reais da Previdência como um fato inexorável, sem fazer a necessária contextualização, que é o fato dos aposentados serem agentes econômicos fundamentais nas regiões mais pobres do país. Sua renda ajuda a manter milhões de famílias longe da fome e da miséria absoluta. Os aposentados criam seus netos, pagam seus estudos, alimentam-nos. O mais grave é Ferreira não lembrar que a aposentadoria no Brasil foi fortemente corroída nas últimas décadas, o que é uma realidade completamente injusta e inconstitucional. O Estado não pode, deliberadamente, empobrecer os seus cidadãos.
Se Gullar recordasse a sua própria poesia, saberia que Lula não é sustentado por si mesmo, mas pelas forças populares que o rodeiam, e sobretudo pelas profundas demandas sociais não satisfeitas por outros presidentes:
*
Recado: meu laptop está com um problema na letra "n". A tecla está dura. Estou redobrando a atenção, mas as palavras escapolem, frequentemente, desprovidas desta importante letrinha.
O que mais me irrita, e entristece, no texto de Gullar é sua profusão de clichês. Confiram comigo, os primeiros parágrafos de sua coluna de hoje.
ÉTICA NA política é coisa rara, qualquer que seja o partido. É surpreendente, no entanto, que o partido que nasceu empunhando a ética como bandeira tenha se tornado a expressão da antiética. Certamente, haverá, no próprio PT, exemplos louváveis de políticos que não se deixam seduzir, seja pela esperteza, seja corrupção, mas não são estes que dão as ordens na equipe do presidente Lula.
Não quero cometer injustiças mas, se não é mera impressão minha, vejo o presidente Lula como o oposto de tudo o que seu partido prometia trazer à vida política brasileira. Posso estar enganado, mas, se bem o percebo, ele, com a sua esperteza sindicalista, induz os que atuam sob seu comando a pôr de lado todo e qualquer escrúpulo: manipulam informações, falseiam a verdade dos fatos, forjam dossiês com falsas acusações, acusam vítimas de os estarem caluniando. Esses são alguns dos procedimentos comuns ao governo do atual presidente.
Dizer que o PT nasceu empunhando a ética como bandeira é um clichê, uma invenção astuciosa dos tempos do mensalão para detonar o partido. Ética não se mistura com política; é antes um imperativo moral do ser humano, seja de que partido ou ideologia pertença. O PT nasceu como um partido socialista, ou social-democrata, para defender a classe trabalhadora. Suas bandeiras eram o aumento da renda para o trabalhador e a luta contra a miséria.
Note como ele inicia o segundo parágrafo: "Não quero cometer injustiças, mas se não é mera impressão minha (...)" Ora, Ferreira, tenha dó! Não quer cometer injustiças? Então não as cometa! Não sabe se é mera impressão sua? Então nos poupe!
Em seguida, o poeta acrescenta outro pedido de desculpas por seu golpismo banguela: "posso estar enganado (...)". Ora, Ferreira, se tem tantas dúvidas, não encha o saco. Quer fazer oposição, que o faça ao menos com um pouco mais de assertividade. É muito ridículo acusar um presidente da República com essas gagueiras todas. Se você não sabe do que está falando, mude de assunto.
O mais deprimente, todavia, são os cacoetes positivamente reacionários de Ferreira Gullar, como usar a expressão "esperteza sindicalista" ao se referir a uma suposta malignidade do presidente. É muito triste ver alguém que já foi comunista adotar um vocabulário tão preconceituoso. Não reconheço o poeta comunista dos anos 60. Vejo aí apenas um radical de direita. Esperteza sindicalista? Incorporaste Carlos Lacerda, meu caro Gullar?
Mas o cúmulo, o que me fez vir aqui protestar, foi o encerramento do artigo:
Como sempre, ele responde a uma afirmação que ninguém fez, para escamotear a verdade. A verdade é que esse aumento eleitoreiro agrava o déficit da Previdência, que já chega a R$ 50 bilhões.
Ele protesta contra o aumento de 7,7% concedido aos aposentados, sancionado por Lula. É muito reacionarismo. Aumento eleitoreiro? "Posso estar enganado", mas pelo jeito Ferreira Gullar não vive de sua aposentadoria... e está se lixando para os milhões de brasileiros que poderão ganhar um pouquinho mais. E aí entra a irresponsabilidade. Gullar menciona um suposto déficit de 50 bilhões de reais da Previdência como um fato inexorável, sem fazer a necessária contextualização, que é o fato dos aposentados serem agentes econômicos fundamentais nas regiões mais pobres do país. Sua renda ajuda a manter milhões de famílias longe da fome e da miséria absoluta. Os aposentados criam seus netos, pagam seus estudos, alimentam-nos. O mais grave é Ferreira não lembrar que a aposentadoria no Brasil foi fortemente corroída nas últimas décadas, o que é uma realidade completamente injusta e inconstitucional. O Estado não pode, deliberadamente, empobrecer os seus cidadãos.
Se Gullar recordasse a sua própria poesia, saberia que Lula não é sustentado por si mesmo, mas pelas forças populares que o rodeiam, e sobretudo pelas profundas demandas sociais não satisfeitas por outros presidentes:
Porque
diferentemente do sistema solar
a esses sistemas
não os sustém o sol e sim
os corpos
que em torno dele giram:
não os sustém a mesa
mas a fome
*
Recado: meu laptop está com um problema na letra "n". A tecla está dura. Estou redobrando a atenção, mas as palavras escapolem, frequentemente, desprovidas desta importante letrinha.
Um comentário:
A grana falou mais alto.
Imagine se ele na folha ia poder ser JUSTO com o governo.
Ele sabia q teria de dançar de acordo com a música... A música na folha é SERRA etc etc etc
é isso, mas vamos em frente agora DILMA primeiro turno ...
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