Para viabilizar novo plano de investimentos, Petrobras precisa levantar US$ 58 bi. Analistas criticam foco no refino
Ramona Ordoñez, Danielle Nogueira, Martha Beck e Cristiane Jungblut RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO – O GLOBO
A Petrobras planeja investir US$ 224 bilhões até 2014, para aumentar a produção nacional de petróleo em 38%, de 2,1 milhões de barris por dia para 2,9 milhões em 2014. O montante, previsto no Plano de Negócios 2010-2014, anunciado ontem pela empresa, é 28,4% maior em relação aos US$ 174,4 bilhões previstos no plano anterior, para o período de 2009 a 2013. A estatal prevê que, no período, conseguirá uma geração de caixa de US$ 155 bilhões. Para cumprir os investimentos previstos, portanto, precisará buscar recursos no mercado. Pelo plano, a Petrobras terá que captar US$ 58 bilhões nos próximos anos, incluindo empréstimos em instituições financeiras e a oferta pública de ações, prevista para acontecer até julho. A estimativa de analistas é que a emissão de papéis fique em cerca de US$ 50 bilhões.
O maior volume do Plano de Negócios — US$ 118,8 bilhões — irá para exploração e produção de petróleo, mas a parcela do total caiu frente ao plano anterior: de 60% (US$ 104,6 bilhões) para 53%. Já o refino receberá o segundo maior valor: US$ 73,6 bilhões, ou 33% do total, acima dos 24,8% previstos anteriormente. Segundo o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, um dos objetivos é tornar a Petrobras uma efetiva exportadora de derivados. A meta é atingir uma capacidade de refino de 2,2 milhões de barris diários em 2014.
O plano mostra que 95% do total, ou seja, US$ 212,3 bilhões, ficarão no Brasil. Em contrapartida, os recursos destinados à área internacional caíram de US$ 16 bilhões no plano anterior para US$ 11,7 bilhões
União estuda uma opção para aporte
Especialistas criticaram o fato de a área de refino ganhar espaço. Para Adriano Pires, do Centro de Brasileiro de Infraestrutura, os números refletem o viés político do plano: — Até 2014, entrarão em operação, mesmo que em etapas iniciais, quatro novas refinarias (Comperj, no Rio; Clara Camarão, no Rio Grande do Norte; Premium, no Maranhão; e Refinaria do Nordeste, em Pernambuco), cedendo a uma grande pressão de governadores.
A refinaria Premium poderia ser deixada para depois — diz Pires, lembrando que os investimentos em exploração e produção são mais rentáveis que os feitos em refino.
O volume de investimentos veio dentro da expectativa de mercado.
Analistas ressaltaram, no entanto, que o plano robusto confirma que a capitalização é imprescindível para sua viabilidade. Caso contrário, a estatal terá que se endividar demais contratando empréstimos junto ao BNDES ou outros bancos, o que poderia levála a perder o grau de investimento (chancela de aplicação segura concedida a empresas e países por agências de classificação de risco).
— Sem a emissão de ações, o plano não é viável, a não ser que a Petrobras queira perder o grau de investimento — diz Daniella Marques, sócia da Oren Investimentos.
O aumento de capital de até R$ 150 bilhões (cerca de US$ 85 bilhões) da estatal será aprovado hoje em assembleia de acionistas. Parte da capitalização ficará a cargo da União, e parte será oferecida ao mercado em geral.
Gabrielli destacou que tanto os volumes de investimentos como a previsão da produção de petróleo não levam em conta as futuras áreas no pré-sal a serem exploradas pelo sistema de partilha, nem a cessão onerosa, sistema pelo qual o governo federal cederá à Petrobras o direito de explorar cinco bilhões de barris de petróleo em áreas do pré-sal ainda não concedidas. Em pagamento, o governo receberá de volta os títulos que emitir para comprar ações da Petrobras e manter sua participação na empresa.
No mercado, a aprovação da capitalização é dada como certa, já que o governo é o controlador e principal interessado. A dúvida é quanto ao valor do barril. Na avaliação de Osmar Camilo, analista da corretora Socopa, o preço deverá ser fixado em US$ 5.
Uma alternativa em estudo no governo é trocar a cessão onerosa por um contrato, com a estatal, de exploração dos campos sob o regime de partilha. Por ele, o governo receberia da petrolífera bônus de assinatura (valor pela permissão de perfuração dos poços, com base no potencial do bloco). A arrecadação compensaria o aporte da União. A ideia foi avaliada ontem em reuniões na sede provisória de governo com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Casa Civil, Erenice Guerra — uma das quais teve a participação do presidente Lula.
Mais segurança contra vazamentos
Porém, enquanto a cessão onerosa está aprovada pelo Congresso (a lei depende só de sanção presidencial), o regime de partilha depende de segunda votação na Câmara. O calendário está complicado, diante das festas juninas, e a apreciação pode ficar para julho.
— Existe outra alternativa que é pelo sistema de partilha. Mas o modelo ainda provável é a cessão onerosa — afirmou Mantega, após a reunião.
A Petrobras está convencida de que a opção em que ganha mais é a cessão onerosa dos barris e tenta convencer o governo disso. Na reunião, ficou decidido ainda que a votação do texto do Fundo Soberano — ao qual está anexada a instituição do regime de partilha e a Emenda Simon, de distribuição dos royalties do petróleo — só será encaminhada na próxima semana.
Para evitar acidentes como o vazamento de óleo da BP no Golfo do México, Gabrielli afirmou que a Petrobras vai reforçar os procedimentos operacionais em relação à segurança de suas atividades exploratórias.
— O acidente é trágico e lamentável.
Nossos procedimentos e nossa disciplina operacional precisam ser reforçados. Nós precisamos dar maior ênfase do que já damos aos cumprimentos dos procedimentos prévios de cada atividade.
A Petrobras Biocombustível anunciou ontem parceria com o grupo São Martinho para produzir etanol em Goiás. O acordo prevê a criação da Nova Fronteira Bioenergia S.A., que controlará a Usina Boa Vista, em Quirinópolis, e a SMBJ Agroindustrial, em Bom Jesus. A estatal fará aporte de R$ 420,8 milhões, passando a deter 49% das ações da nova sociedade
Postado por Luis FavreComentários Tags: ações, capitalização Petrobras, gas, investimentos, Petrobras, petróleo Voltar para o início
Do Blog do Favre.
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