segunda-feira, 21 de junho de 2010

Programa beneficia 700 mil produtores com R$ 1,3 bilhão

Crédito: Em cinco anos, BNB soma um milhão de operações, 46% delas realizadas por mulheres

Jarbas Oliveira/Valor
Foto Destaque
Roberto Smith, do BNB: em 2010, o volume de microcrédito será de R$ 650 milhões em cerca de 400 mil operações


Genilson Cezar, para o Valor, de Fortaleza

Um milhão de operações contratadas em cinco anos, no valor de R$ 1,3 bilhão, beneficiando mais de 700 mil agricultores. Esse é o balanço de um dos mais bem-sucedidos programas de financiamento a micro produtores rurais no Nordeste brasileiro, o Agroamigo-Programa de Microcrédito Rural, executado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Até março deste ano, 46% dos contratos foram assinados com mulheres, e o índice de inadimplência, em torno de 3%, é um dos mais baixos do país.

Em 2009, os valores contratados do Agroamigo alcançaram R$ 443,1 milhões. Só no Ceará o programa beneficiou 47.140 agricultores com recursos da ordem de R$ 70,2 mil. “Em 2010, vamos aumentar esse volume de microcrédito para R$ 650 milhões em cerca de 400 mil operações”, informou Roberto Smith, presidente do BNB, durante o evento de comemoração dos cinco anos de atuação do Agroamigo, no dia 8 de junho, em Fortaleza, com a presença do presidente Luis Inácio Lula da Silva.

Lançado em 2005, o Agroamigo tem como objetivo oferecer microcrédito rural ao chamado grupo B do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), destinado a atender famílias que exploram parcela de terra na condição de proprietários, posseiros, arrendatários ou parceiros e têm rendimento anual de até R$ 6 mil. Segundo o ministro Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, a ideia não é apenas abrir as portas dos bancos para agricultores pobres. “É preciso também orientar o agricultor para a obtenção do crédito e para sua aplicação, garantindo ainda assistência técnica de qualidade”, diz.

Nesse sentido, o programa oferece orientação aos agricultores sobre as modalidades de crédito disponíveis e adequação destes créditos ao perfil socioeconômico da atividade produtiva familiar. O MDA dá ainda suporte financeiro para a aquisição do meio de transporte (motocicletas), que é utilizado pelos assessores técnicos para visitar as propriedades rurais. Até agora, foram adquiridas 800 motos para o transporte dos técnicos nas visitas às famílias.

São 2 milhões de agricultores familiares no Nordeste, vivendo em poucas terras e áreas pouco férteis. Mais de 60% das aplicações do Agroamigo foram para financiamento no semi-árido nordestino, que se caracteriza por chuvas escassas e mal distribuídas. Cerca de 80% das aplicações foram voltadas para a pecuária (caprinocultura e produção de leite). Os valores do microcrédito passaram de R$ 963,00 em 2005 para R$ 1.775,00 em 2010. O programa opera com juros de 0,5% ao ano, carência de seis meses e prazo de até dois anos. “Nosso objetivo é levar o agricultor ao banco para fazer financiamento responsável, com assistência técnica e garantia de adimplência, possibilitando mais crédito para a produção e mais renda para o produtor”, afirma Cassel.

Para o BNB, trata-se de uma mudança de postura e perfil do banco em relação à agricultura familiar, como demonstra a assinatura de 1 milhão de contratos num prazo de cinco anos. “O Agroamigo faz parte da política pública de inclusão socioeconômica do governo federal, além de política de distribuição de renda e de alimentos. Com um detalhe, entre 2009 e 2010, 46% dos contratos foram assinados por mulheres como titulares”, diz Smith. “Nossa estratégia é criar condições para segurança alimentar, manutenção do homem no campo, valorização do trabalho da mulher, combater a inflação e distribuir renda no campo”, assinala o presidente do BNB.

Para o presidente Lula, que participou das comemorações de cinco anos do Agroamigo, no auditório do BNB, em Fortaleza, o programa de microcrédito rural faz um sucesso extraordinário com seu elevado patamar de financiamentos. “Nós emprestamos, através do BNB, em cinco anos, R$ 1,3 bilhão para 1 milhão de pequenos agricultores. Significa que estamos garantindo que 1 milhão de pessoas trabalhem por conta desse programa de crédito”. O presidente defendeu a expansão do microcrédito no país e afirmou que emprestar dinheiro para os pequenos empresários é um grande negócio. “Não tem nada mais fácil e mais barato do que investir na parte mais pobre da população”, afirma. Para o presidente, emprestar dinheiro para as pessoas mais pobres deste país é importante, porque o retorno é imediato. “Às vezes, você empresta R$ 1 bilhão para um empresário só e ele gera apenas 200 ou 300 empregos. E o que é importante é que com o Agroamigo, com a ajuda ao pequeno, nós temos apenas 3% de inadimplência em uma demonstração que vale aquela máxima que dizia que o pobre é bom pagador, porque ele tem como patrimônio maior o seu nome e a sua cara.”

Com uma área de atuação de 1.775,4 mil quilômetros quadrados, 1.989 municípios atendidos em 11 Estados, 183 agências e 5.895 funcionários, o BNB é uma instituição financeira em acelerado processo de expansão no mercado financeiro do país. Em 2002, o banco tinha emprestado R$ 262 milhões. No ano passado, o BNB operou com um volume de valores contratados da ordem de R$ 20,8 bilhões, e a previsão é atingir um volume de negócios em torno de R$ 30 bilhões. O BNB é hoje o oitavo banco no ranking das maiores instituições financeiras do país e o segundo entre os principais na oferta de crédito rural, depois do Banco do Brasil.

Pesquisa do Banco Central mostra que os bancos nunca ofereceram tanto dinheiro de microcrédito como agora. Em abril, o volume de recursos chegou a R$ 1,6 bilhão. Segundo regulamentação do BC, os bancos têm que destinar 2% dos depósitos à vista ao microcrédito ou mantê-los “congelados”, sem uso. Em abril, desse montante (R$ 2,7 bilhões), as instituições financeiras emprestaram 62% – um recorde. Por mês, são assinados cerca de 100 mil contratos de microcrédito no Brasil e o valor médio dos empréstimos é de R$ 1.300.

Postado por Luis Favre
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