quarta-feira, 23 de junho de 2010

“Subdunguismo” elitista

Foi bom que, no post anterior, eu tenha repetido o que disse no primeiro dos textos em que tratei este assunto do embate Globo x Dunga: que não há, aqui, nenhum tipo de incondicional apoio ao técnico em seus critérios futebolísticos ou em suas opiniões políticas. Se ele é reacionário, de direita, se não é um gentleman, enquanto isso fica na esfera de sua vida privada, isso é problema exclusivamente dele. Igualmente, aí já fora de esfera privada, jamais se apoiou qualquer tipo de grosseria contra um profissional de imprensa, como a que ele fez.

Que teria sido unanimemente condenada, se não acontecesse algo que tirou o fato da dimensão que de fato teve.

Tranformou-se um pequenino episódio uma campanha política de vingança empresarial, como se tornou público.

E quem transformou foi a Rede Globo, ao fazer um editorial em pleno Fantástico, dizendo que o técnico não tinha um “comportamento compatível” com a função. E o fez porque, como agora todos sabem, Dunga não deu à emissora os privilégios que ela costuma ter junto à seleção nas copas do mundo.

Disse que foi bom ter feito isso, porque posso ter tranquilidade para comentar o artigo que a Folha publica hoje, de autoria de Fernando de Barros e Silva.

Vou reproduzir a abertura, para depois comentar:

“Entre a velha promiscuidade da CBF com a Globo e a truculência de Dunga no trato com os jornalistas, a escolha é muito simples: criticar as duas”

Muito bem, parabéns. Correto. Mas, uma pena, a crítica à Globo dura apenas um período, duas linhas.

Quase todo o resto do texto se dedida a pintar Dunga como alguém que não reagiu “em defesa da liberdade de imprensa”, mas por que “não tolera críticas”. Volta a isso, em seguida mas, antes, destaco uma frase: “Dunga é uma figura tosca e autoritária”.

O Dunga, embora esteja no foco das atenções neste momento, é apenas uma pessoa que está na função transitória de técnico de um time de futebol. E o que fez foi apenas um episódio grosseiro, como muitos que ocorrem no futebol, sem que ninguém faça um drama por isso.

O senhor De Barros e Silva, porém, acha que é equilibrado desancá-lo porque seus motivos não foram a defesa da liberdade de imprensa.

A liberdade de imprensa é uma bela extensão de uma liberdade ainda mais básica: a liberdade de opinião e de expressão.

Pode ser que, na opinião do jornalista, ele tenha o direito de chamar, em nome da liberdade, alguém de “uma figura tosca” e não ouvir desta “figura tosca” a resposta que vier.

Liberdade não é e não será jamais será valor universal que lhe dá sentido enquanto não se aplicar a todos.

Não digo que seja o caso do articulista, mas há quem se incomode com o que a internet permitiu: que todos falem, não só os donos e os funcionários das empresas de comunicação.

Portanto, não seria legítimo que se possa reagir ao que fez a Globo ao editorializar no horário nobre um episódio que, quando muito, caberia numa notinha em meio a matérias sobre o jogo.

A indignação das pessoas com isso não existe espontaneamente.As tais “redes sociais” são importantes só quando falam de assuntos inofensivos ou quando concordam com a mídia.

Agora, o que aconteceu, segundo o articulista, foi que “na blogosfera, militantes do PT e da candidatura Dilma Rousseff transformaram o técnico em herói da resistência antiglobal”.

Herói, não. Símbolo, com certeza.

E talvez isso aconteça porque, apesar de dizerem que as duas atitudes, a de Dunga e a da Globo, mereçam críticas, só se encontrem na imprensa, como neste artigo, as críticas a Dunga.

Nossa grande imprensa é digna, corajosa, destemida. Mas nunca contra a Globo.

O jornalista não hesita em dizer que há na web “um subdunguismo eleitoral”. Diz que isso “soa como um sintoma -como dizer?- de fascismo democrático”.

O que seria um “fascismo democrático”?

Seria algo pior do que o “fascismo midiático”, onde os que têm espaços privilegiados na mídia podem falar e os demais, não? Onde não é possível falar das relações escusas de um conglomerado empresarial com a seleção, mas é possível dar bordoadas em qualquer pessoa que desagrade o poder deste grupo?

Ou nós vamos ser chamados também de figuras “toscas e autoritárias”?

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