Foi bom que, no post anterior, eu tenha repetido o que disse no primeiro dos textos em que tratei este assunto do embate Globo x Dunga: que não há, aqui, nenhum tipo de incondicional apoio ao técnico em seus critérios futebolísticos ou em suas opiniões políticas. Se ele é reacionário, de direita, se não é um gentleman, enquanto isso fica na esfera de sua vida privada, isso é problema exclusivamente dele. Igualmente, aí já fora de esfera privada, jamais se apoiou qualquer tipo de grosseria contra um profissional de imprensa, como a que ele fez.
Que teria sido unanimemente condenada, se não acontecesse algo que tirou o fato da dimensão que de fato teve.
Tranformou-se um pequenino episódio uma campanha política de vingança empresarial, como se tornou público.
E quem transformou foi a Rede Globo, ao fazer um editorial em pleno Fantástico, dizendo que o técnico não tinha um “comportamento compatível” com a função. E o fez porque, como agora todos sabem, Dunga não deu à emissora os privilégios que ela costuma ter junto à seleção nas copas do mundo.
Disse que foi bom ter feito isso, porque posso ter tranquilidade para comentar o artigo que a Folha publica hoje, de autoria de Fernando de Barros e Silva.
Vou reproduzir a abertura, para depois comentar:
“Entre a velha promiscuidade da CBF com a Globo e a truculência de Dunga no trato com os jornalistas, a escolha é muito simples: criticar as duas”
Muito bem, parabéns. Correto. Mas, uma pena, a crítica à Globo dura apenas um período, duas linhas.
Quase todo o resto do texto se dedida a pintar Dunga como alguém que não reagiu “em defesa da liberdade de imprensa”, mas por que “não tolera críticas”. Volta a isso, em seguida mas, antes, destaco uma frase: “Dunga é uma figura tosca e autoritária”.
O Dunga, embora esteja no foco das atenções neste momento, é apenas uma pessoa que está na função transitória de técnico de um time de futebol. E o que fez foi apenas um episódio grosseiro, como muitos que ocorrem no futebol, sem que ninguém faça um drama por isso.
O senhor De Barros e Silva, porém, acha que é equilibrado desancá-lo porque seus motivos não foram a defesa da liberdade de imprensa.
A liberdade de imprensa é uma bela extensão de uma liberdade ainda mais básica: a liberdade de opinião e de expressão.
Pode ser que, na opinião do jornalista, ele tenha o direito de chamar, em nome da liberdade, alguém de “uma figura tosca” e não ouvir desta “figura tosca” a resposta que vier.
Liberdade não é e não será jamais será valor universal que lhe dá sentido enquanto não se aplicar a todos.
Não digo que seja o caso do articulista, mas há quem se incomode com o que a internet permitiu: que todos falem, não só os donos e os funcionários das empresas de comunicação.
Portanto, não seria legítimo que se possa reagir ao que fez a Globo ao editorializar no horário nobre um episódio que, quando muito, caberia numa notinha em meio a matérias sobre o jogo.
A indignação das pessoas com isso não existe espontaneamente.As tais “redes sociais” são importantes só quando falam de assuntos inofensivos ou quando concordam com a mídia.
Agora, o que aconteceu, segundo o articulista, foi que “na blogosfera, militantes do PT e da candidatura Dilma Rousseff transformaram o técnico em herói da resistência antiglobal”.
Herói, não. Símbolo, com certeza.
E talvez isso aconteça porque, apesar de dizerem que as duas atitudes, a de Dunga e a da Globo, mereçam críticas, só se encontrem na imprensa, como neste artigo, as críticas a Dunga.
Nossa grande imprensa é digna, corajosa, destemida. Mas nunca contra a Globo.
O jornalista não hesita em dizer que há na web “um subdunguismo eleitoral”. Diz que isso “soa como um sintoma -como dizer?- de fascismo democrático”.
O que seria um “fascismo democrático”?
Seria algo pior do que o “fascismo midiático”, onde os que têm espaços privilegiados na mídia podem falar e os demais, não? Onde não é possível falar das relações escusas de um conglomerado empresarial com a seleção, mas é possível dar bordoadas em qualquer pessoa que desagrade o poder deste grupo?
Ou nós vamos ser chamados também de figuras “toscas e autoritárias”?
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