A presença maior das classes C e D no mercado de consumo brasileiro já é uma realidade. Depois de passar a comprar, há alguns anos, alimentos antes proibitivos, começaram também a consumir mais roupas e bens duráveis. Chegou a vez dos computadores.
Se antes cada família dava prioridade a ter uma televisão em casa - ainda que itens que pareceriam mais importantes, como uma geladeira, ficassem de lado - hoje o computador tomou esse lugar. Ao contrário de famílias mais abastadas, onde cada membro pode ter seu próprio PC, nesses casos o computador é de uso familiar. Assim, as compras costumam ser feitas por todos os membros da casa, e o equipamento também é equipado para atender aos usos diferentes que cada um deles lhe dará.
Pode-se dizer que, em 2010, de cada 10 PCs vendidos no Brasil, 9 foram ou serão adquiridos pelas classes emergentes. Membros da classe D, cuja renda familiar varia de uma três salários mínimos, serão responsáveis por 30% das vendas. Os da classe C, cuja renda da família vai de três a dez salários mínimos, ficarão com 57,5% do mercado.
Há outros itens que também estão entrando na cestinha de compra desses consumidores. Em especial, câmeras fotográficas e telefones celulares. Mas engana-se quem acha que os membros das classes C e D interessam-se por produtos básicos. Como no caso dos computadores, querem equipamentos com o que se chama de funcionalidades. No caso das câmeras, que identifiquem sorrisos e ba-tam a foto no momento, ou que tenham alta resolução. No caso dos celulares, smartphones . Como diz o diretor de serviços a clientes e novos negócios da empresa de pesquisa de mercado GfK, Antonio Perrella, "não importa o valor final da compra. Para essas pessoas, a parcela (da venda a prazo) tem que caber no bolso".
De olho no forte desejo de aquisição dos consumidores emergentes, empresas lançam produtos específicos, que atendam às suas demandas
Um objeto de desejo que finalmente está ao alcance das mãos. Ou melhor, do bolso. Este é o cenário previsto para os próximos meses, quando o assunto é compra de computadores pelas classes C e D, segundo pesquisa do instituto Data Popular, que mediu a intenção de compra dessas pessoas.
Os consumidores da classe D (cuja renda familiar varia de um a três salários mínimos) devem responder por 30% dos computadores comprados no país até o final de 2010, de acordo com o estudo, realizado pela primeira vez entre janeiro e março com 3 mil famílias. Já a classe C (com renda entre três e 10 salários mínimos) deverá ser responsável por 57,5%. "Nos últimos três anos, as classes C, D e E vêm ganhando 10 pontos de participação no total de computadores vendidos ao ano", diz o sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles. Aliada a isso, está a previsão da consultoria IDC de que o mercado brasileiro crescerá 20% em 2010, chegando a 13,2 milhões de PCs vendidos, após queda de 6,4% no ano passado.
Investimento
Na avaliação do especialista, o incremento na intenção de compra de computadores por essas classes sociais deve-se à confluência de três fatores: incentivos fiscais do governo, expansão do crédito, e o real aumento do poder de compra dos consumidores que estão na base da pirâmide. "Eles estão comprando mais de tudo, mas computadores, ainda mais", afirma.
O Data Popular indica que uma parcela da classe C começa a comprar o segundo computador. A classe D, por sua vez, quer adquirir o primeiro PC e enxerga o computador como uma ferramenta de evolução social e econômica. Para esses consumidores, a compra de um computador não é despesa, é investimento. "É a chance para mandar o currículo pela internet, ter acesso à educação, para mudar de vida", afirma Meirelles. Segundo ele, o primeiro sinal desse fenômeno foi o avanço de lan houses na periferia. "Esse pequeno negócio só proliferou porque existia uma demanda latente", diz o diretor do instituto especializado em pesquisas sobre classes C, D e E.
De acordo com a edição de 2009 da pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pela primeira vez o acesso à internet a partir do domicílio superou o acesso feito de lan houses.
Preço X qualidade
Essa característica dita também o tipo de computador que tem a preferência de compra desses consumidores. De acordo com o Data Popular, os modelos mais baratos não são, necessariamente, os líderes de vendas. Compradores dessas classes preferem adquirir equipamentos com preços, em média, 20% superiores aos dos modelos mais acessíveis.
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