sexta-feira, 2 de julho de 2010

Rio: Elevador panorâmico liga metrô de Ipanema ao morro do Cantagalo

CANTAGALO PANORÂMICO

http://oglobo.globo.com/fotos/2010/06/30/30_MHG_rio_cantagalo.jpg

Dois elevadores ligam a Rua Barão da Torre ao Morro do Cantagalo

Novo acesso do metrô em Ipanema e torres com elevadores aproximam favela e asfalto

A relação entre favela e asfalto deu um novo e panorâmico salto em direção à boa convivência nesta quarta-feira, 30 de junho. E o marco deste processo é a inauguração da monumental terceira saída da estação General Osório do Metrô em Ipanema, na Zona Sul do Rio. O novo acesso, que conta com duas torres com dois elevadores ligando a Rua Barão da Torre ao Morro do Cantagalo, recebeu o nome de Complexo Rubem Braga, homenageando o escritor que por anos morou na cobertura do prédio vizinho à estação.

A costureira Edna  Constância foi uma das primeiras a usar o novo  elevador  - Foto: Isabela  Kassow

Moradora há 53 anos do Cantagalo, a costureira Edna Constância foi uma das primeiras a usar o novo elevador e se diz maravilhada com todas as mudanças no lugar onde vive, que já recebeu uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e inagura agora mais obras do PAC das Comunidades.

- Para quem ganhou esse elevador, essas escadas são o de menos. Nós temos que pensar que agora vamos ganhar ruas, rampas mais largas. As pessoas só fazem reclamar da vida, eu só tenho a agradecer, agradecer, agradecer -diz Edna, que não vê a hora de embalar suas coisas para mudar para o apartamento novo, uma das 64 unidades habitacionais entregues pelo governo do estado nesta quarta-feira, concluindo a primeira fase do PAC das Comunidades no Cantagalo/Pavão-Pavãozinho.

A  ascensorista Monica Costa, em seu primeiro dia de trabalho, no  elevador  do Cantagalo - Foto: Isabela Kassow

Com duas torres, uma de 64 metros e outra de 31 metros, a construção está sendo encarada como uma revolução para os parâmetros de integração social e mobilidade da cidade. Os elevadores, com capacidade para transportar até 100 pessoas ao mesmo tempo, facilitarão a locomoção de mais de 10 mil moradores do Cantagalo e Pavão/Pavãozinho que, antes, tinham que enfrentar uma longa e íngreme escada para chegar às suas casas.

Autor do livro “Cidade Partida”, o escritor e jornalista Zuenir Ventura vê um forte simbolismo na homenagem a Rubem Braga.

-É uma ponte, simbolicamente, muito importante ligando a chamada “cidade partida” , ou pelo menos uma parte dela. Esses gestos são importantes porque rompem preconceitos, mostram que é tudo uma coisa só. O Rio de Janeiro é a cidade do encontro, não de segregação. E a homenagem ao Rubem Braga faz todo sentido, porque ele era um símbolo de Ipanema. Nada acontecia de bom em Ipanema que não passasse pelo Rubem e pelas crônicas do Rubem – comemora

A inauguração das torres coincidiu com o primeiro dia de trabalho da ascensorista Mônica Costa, comandando feliz da vida o novo meio de transporte dos moradores da comunidade e dos turistas, que ganharam um ponto turístico.

- Eu estava falando com as minhas amigas que agora, quando eu estiver estressada, quando eu chegar aqui tudo vai mudar. Não dá para ficar estressada olhando para esse mar, esse visual aqui do meu novo escritório – se diverte Mônica.

Além do emprego, ele também ganhou um dos novos apartamentos do PAC, para onde deve se mudar em breve.

A vista deslumbrante, aos poucos revelada por quem usa os elevadores, encantou o psicanalista Paulo Próspero, também vizinho da torre. Morador do apartamento exatamente abaixo da antiga cobertura de Rubem Braga, Paulo reivindica a sugestão da homenagem ao escritor.

- É a primeira vez que venho aqui. O Rio de Janeiro, a população de Ipanema e do Cantagalo estão de parabéns. Isso aqui era um verdadeiro lixo, um descaso completo das autoridades que não tinham olho para ver o óbvio. O Nelson Rodrigues dizia que só os profetas enxergam o óbvio. E essa era uma obra óbvia, mas ninguém se alertava para isso – diz Próspero.

O psicanalista diz que mudou para a Rua Barão da Torre há 13 anos, e já enfrentou dias de pavor dentro de casa, tendo muitas vezes que se deitar no chão, juntamente com visitas, para se esconder de balas perdidas.

- O que foi feito aqui é mais do que acessibilidade, é mais do que novas habitações, é mais do que cidadania, é reintegrar a cidade. O Rio é uma cidade de montanhas, onde houve uma ocupação irregular, porque o poder público não deu condições e infraestrutura. Essas pessoas moram de maneira irregular sob todos os aspectos. Isso aqui é uma síntese do que nós podemos fazer na cidade inteira – explica o governador Sérgio Cabral, presente à cerimônia.
Entre as autoridades, compareceram ainda o prefeito Eduardo Paes, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani.

O governador Sérgio Cabral  observa a vista do elevador panorâmico  - Foto: Lucíola Villela

Postado por Luis Favre
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