Ato Público contra a Ditabranda da Folha de São Paulo – 07/03/2009
Se a revista semanal da família Marinho queria denegrir a imagem de alguém, não deveria ter feito uma matéria de capa sobre “o passado” de Dilma Rousseff. O que a edição desta semana da revista relata é nada mais, nada menos do que o heroísmo da candidata do PT à Presidência durante a ditadura militar. Não a denegriu, enalteceu.
Para denegrir alguém pelo que fez durante a ditadura, a revista Época poderia ter feito uma reportagem sobre este blogueiro, por exemplo…
No período mais violento, no limiar dos anos 1970, eu era um pré-adolescente, mas, poucos anos mais tarde, quando tinha 17 anos, os ditadores militares ainda cometiam as suas barbaridades e eu, impressionado pelo que ficara sabendo por amigos que se meteram em política, mesmo entendendo que o meu país estava aprisionado por um bando de loucos fardados tive medo de fazer a minha parte.
Sabia muito bem que criminosos haviam se apoderado do Brasil e que era obrigação de todo cidadão decente se opor a eles, mas também sabia ao que me arriscaria se fizesse o que era certo e, assim, fui omisso, covarde e egoísta o suficiente para não fazer nada.
Além disso, não passava de um playboyzinho, filhinho de papai, cercado de todo conforto que me podia propiciar a família de classe média alta de São Paulo em que nasci. Apesar de ter pena dos pobres, de saber que a ditadura visava evitar que fossem socorridos pelo Estado, não fui suficientemente altruísta para lutar por eles.
Era egoísta, irresponsável. Só pensava em dissipar dinheiro da família com viagens, festas e garotas. E saber que a ditadura era um mal só aumenta a minha culpa. Eu sabia que me omitia.
Tento me convencer de que, com o que faço hoje em termos de ativismo político, estou reparando erros do passado. Contudo, pensar assim é uma tentativa de auto-engano e talvez, por isso, não obtenha êxito em me auto-absolver todas as manhãs diante do espelho durante os mais de trinta anos em que carrego esta culpa.
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