Em conversas com Dilma e petistas, ex-presidente afirma que desgaste de PSDB e DEM com a criação do PSD de Kassab é janela de oportunidades para 2012; em resolução, diretório do partido diz que os 'tucanos debatem-se à procura de um rumo'
João Domingos - O Estado de S.Paulo
Sem mandato, mas no papel de condottiere, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou a Brasília com um "grito de guerra" para o PT. Em conversas com a presidente Dilma Rousseff e líderes da legenda, Lula avaliou que a crise na oposição, com DEM e PSDB sob ataque especulativo do PSD, abriu uma janela de oportunidade para o PT e os aliados conquistarem a Prefeitura de São Paulo em 2012 com relativa "tranquilidade".
Ontem, hoje e amanhã. Palanque do PT no ano passado: Marta e Mercadante estão entre pré-candidatos para 2012, mas Lula defende escolha de nome com trânsito entre partidos aliados
Para dar certo, ressaltou Lula nas conversas dos últimos dias, será necessário escolher um candidato que tenha trânsito entre os principais partidos da base aliada. A condição poderia afastar do radar alguns pretendentes com arestas locais e alto índice de rejeição nas pesquisas, como a senadora Marta Suplicy.
Lula reforçou mais uma vez que está disposto a entrar fortemente na campanha à Prefeitura - principalmente se o PSDB lançar o ex-governador José Serra.
Por enquanto, o PT trabalha com quatro nomes para a sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD): Marta Suplicy, que agora se fortalece com a eleição de Rui Falcão para a presidência do PT, e os ministros Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Fernando Haddad (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça).
Desses, o que tem menor chance de se candidatar no momento é Mercadante. Ele disputou o governo de São Paulo no ano passado por uma ampla coligação, costura bem-sucedida, mas perdeu a eleição para Geraldo Alckmin. E Dilma Rousseff confidenciou no Planalto que não gostaria de ver um ministério ser tratado como estepe no caso de, derrotado, Mercadante querer retornar ao governo.
Em fase de articulador, Lula jantou com a presidente Dilma Rousseff na quinta-feira, no Palácio da Alvorada. Participaram do encontro o ex-ministro Luiz Dulci e os atuais ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Antonio Palocci (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda).
Na reunião, o ex-presidente disse que o partido, além de vencer na capital paulista em 2012, conquistará a próxima eleição presidencial, principalmente porque, segundo ele, os planos de Dilma Rousseff para erradicar a miséria logo começarão a ser postos em prática.
Enquanto Lula estava no Alvorada com a presidente, um jantar na casa de Marta Suplicy reuniu Rui Falcão, o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, entre outros petistas de carteirinha. No cardápio, também as eleições municipais.
Nas análises que faz sobre a oposição, Lula tem dito que o senador Aécio Neves (MG), um dos nomes fortes do PSDB, envolveu-se num caso bobo - dirigir com a carteira de habilitação vencida e recusar-se a fazer o teste do bafômetro - que pode ter um custo político no futuro. Para o ex-presidente, o assunto será explorado tanto por aliados quanto por adversários.
No dia 19, Lula teve reunião com 32 prefeitos do PT, num hotel, em Osasco. Pediu a cada um deles que encontrem "um José Alencar" para ser o vice. Alencar, que morreu no fim de março, foi, segundo Lula, sua garantia para vencer a eleição em 2002.
Sem rumo. Uma proposta de resolução política que será votada hoje pelo Diretório Nacional do PT faz referência indireta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chamado de "patrono intelectual" da oposição. O PT critica o racha no DEM e no PSDB e afirma que os tucanos debatem-se à procura de um "rumo" para a oposição.
"Carecendo de projeto nacional soberano, órfãos até de um programa oposicionista vêm se pulverizando. Resumo da história: em artigo que acendeu polêmica em suas próprias bases, até seu patrono intelectual desistiu de dialogar com o povo", diz um trecho da resolução, numa alusão a Fernando Henrique.
Com 27 tópicos, o texto ainda é preliminar e pode receber emendas. Um dos artigos diz que os adversários do PT e do governo Dilma fragmentam-se, porque sofrem "sequelas" da última campanha e estão envolvidos em contradições internas.
Cita o "esvaziamento do DEM" e destaca que o partido acena com possível fusão com o PSDB, pois está "desidratado" pelo lançamento do PSD do prefeito Gilberto Kassab. "Envoltos numa guerra de cúpula pelo comando do partido e às voltas com a debandada de seis vereadores paulistanos, os tucanos debatem-se à procura de um rumo para a oposição", afirma a proposta petista.
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