Em jantar com deputados tucanos, senador mineiro diz que estaria pronto para enfrentar tanto Lula como a presidente Dilma em 2014; mas quando um político mineiro diz que vai a algum lugar... é melhor desconfiar
Na noite da última terça-feira, o senador Aécio Neves participou de um jantar com a bancada tucana na Câmara. Participaram 41 dos 53 deputados do PSDB. No encontro, Aécio fez a revelação mais esperada da noite. Disse que está pronto para ser candidato a presidente em 2014, mas ressaltou que não é hora de colocar o bloco na rua. Não citou o avô, mas foi como se ecoasse Tancredo, que, numa de suas frases famosas, afirmou: “Não se tira o sapato antes de chegar ao rio, mas ninguém chega ao Rubicão para pescar”.
Será que a sorte está mesmo lançada para Aécio Neves? No jantar com os parlamentares, o senador mineiro disse mais. Afirmou que está pronto para ser o candidato tucano, mesmo que o oponente seja o aparentemente imbatível Luiz Inácio Lula da Silva. Disse ainda que enfrentaria a presidente Dilma Rousseff numa eventual tentativa de reeleição. E o momento, dentro do PSDB, lhe é favorável. Uma pesquisa interna, encomendada pelo cientista político Antônio Lavareda, revela que seu principal adversário, o ex-governador paulista José Serra, que ainda sonha com uma terceira candidatura presidencial, desidratou significativamente. Ele, que teve 32,6% dos votos no primeiro turno da disputa de 2010, hoje receberia apenas 25%. E, contra Serra, a pesquisa aponta que Dilma conseguiria se reeleger no primeiro turno, com relativa facilidade.
Dilma versus Aécio
O que a pesquisa não mostra, no entanto, é como seria o resultado de um eventual confronto entre Dilma e Aécio – que, provavelmente, também seria favorável à presidente. E a declaração do senador mineiro pode ter sido apenas uma manobra para demarcar território no partido contra José Serra. Lembre-se que, em 2010, Aécio fez de tudo para sabotar a candidatura paulista. Pediu prévias no PSDB, não aceitou ser vice e, recentemente, em entrevista à jornalista Dora Kramer, do Estado de S. Paulo, Aécio confidenciou que não queria mesmo ser candidato a presidente.
Será que desta vez ele quer mesmo? É sempre bom lembrar o que ensina a filosofia política mineira. Se um político matreiro das montanhas Gerais encontra outro político no aeroporto e diz que vai a tal lugar, é porque tem outro destino. Mas como sabe que seu interlocutor também sabe que ele dissimula, pode acabar indo ao destino anunciado. Ou seja: Aécio pode tanto ser candidato, como não ser. E seu único objetivo agora é dominar de vez seu partido.
Se, em 2014, ele avaliar que será melhor disputar o governo de Minas para ficar mais oito anos no Palácio da Liberdade, não pensará duas vezes. Até porque seu modus vivendi é mais compatível com a proteção das montanhas mineiras do que com a eterna vigilância que recai sobre os presidentes.
Afinal, quem não passa numa blitz, pode mesmo subir uma rampa?
No Brasil 247
~o~
Déjà-vu
Em jantar, anteontem à noite, com 41 deputados tucanos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) previu: "O governo Dilma enfrentará muitas dificuldades", "terá anos difíceis pela frente", "será um governo pálido de realizações" e que "emergirá um movimento no PT pela candidatura Lula em 2014".
O fato lembra vaticínio, atribuído ao ex-presidente Fernando Henrique, em 2002, de que o ex-presidente Lula não conseguiria governar o país sem chamar os tucanos para compor seu Ministério.
Ilimar Franco
No O Globo
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