quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Globo quer decretar o AI-5 em editorial e fechar a Câmara

Só pode ser isso para fazer um escarcéu em 3 telejornais e no jornal impresso (aquele que fica pendurado nas bancas de revistas) contra uma coisa absolutamente insignificante.

Nós temos muitas críticas às mazelas do Congresso e a atuação de vários deputados, mais tem críticas imbecis como a que a Globo fez, que não tem nenhum motivo justificado, a não a ser produzir alguma intimidação ou a intenção de demonizar todo e qualquer político, para dar um golpe ditatorial de elite contra a vontade popular soberana de escolher seus representantes nas urnas para eles cumprirem a vontade do povo.

Esse golpe, nos dias de hoje, não é mais com tanques de guerra nas ruas. É um recado aos deputados do tipo: "ou vocês votam do jeito que a gente quer no Congresso ou lhes daremos o inferno em nossos jornais".

A farsa da dramatização de algo insignificante

O tom sensacionalista começou de manhã no telejornal "Bom dia Brasil" que trouxe a "denúncia" com ar severo do tipo "quando achávamos que já havíamos visto tudo"....

Tratava-se da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que, na linguagem do telejornal, "em pouco mais de 3 minutos" aprovou "108 projetos", numa sessão "com apenas 1 deputado no plenário" (o outro único deputado presente, presidia a sessão). Uau! A notícia foi de 1 minuto, e as imagens obtidas do próprio site da Câmara, portanto foram transmitidas ao vivo pela internet.

No Jornal Nacional repetiu e aumentou a dose para quase 2 minutos, com direito a mais dramatização:

- as imagens que eram públicas do site da Câmara, já foram trocadas por imagens de pior qualidade "gravadas por um celular de um repórter do jornal O Globo", dando a entender que seria algo sorrateiro, escondendo do telespectador a informação verdadeira: a sessão foi transmitida com transparência pela internet.

- os 118 projetos já ganharam ares de "maior importância", dizendo que entre eles tinham até "acordos internacionais". Uau! Abaixo explico que acordos são estes. Além disso havia também concessões de rádio (ÊPA), e regulamentação da profissão de cabelereiro.

- a matéria passa a informação de que 35 deputados "assinaram a lista de presença e foram embora". O repórter entrevistou o deputado que presidiu a sessão e que garantiu estar tudo dentro do regimento, e diz (genericamente) o óbvio: que o debate dos projetos com a presença dos demais deputados é sempre bom.

Uau! Com todo o respeito à profissão de cabelereiro, depois do projeto apresentado e relatado, não consigo imaginar intermináveis debates na CCJ sobre a constitucionalidade de um projeto destes (e seria a mesma coisa com a maioria das profissões).

- Para fechar "com chave de ouro", dando a palavra final, entrou no ar a opinião de um "especialista", um cientista político escolhido para respaldar a opinião que a Globo queria passar ao público, dizendo: "Soa como um deboche, um desprezo pela opinião pública. Uma afronta!... desqualifica toda a instituição!".

Pronto! O Merval Pereira e o Alexandre Garcia já podem decretar seu AI-5 em editorial para fechar a Câmara!

No telejornal da meia-noite, mais 1 minuto e meio da mesma ladainha, com William Waack dramatizando em tom severo: "... deputados acharam engraçado aprovar mais de uma centena de projetos em 10 minutos..." e blá-blá-blá.

No jornal "O Globo", em papel e na internet, saiu o listão dos deputados "cassados pelo AI-5" decretado pelo jornalismo da Globo (repare acima do título a palavra "descaso"):

Entre os nomes (a maioria influentes, de todos os partidos, tanto governistas como da oposição), deputados atuantes e que trabalham muito.

A matéria publicada como se fosse uma negligência gravíssima, tem a clara função de perseguição, de intimidar, ameaçar quem cometeu algum "descaso" contra algum interesse contrariado das Organizações Globo, e não descaso com o eleitor.

A verdade sobre a insignificância do fato

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara teve reunião na manhã de 5a. feira.
A pauta da reunião estava pré-determinada, com os "118 projetos" (confira aqui).

Não havia nenhum projeto polêmico. Praticamente todos consensuais. Alguns mera homologação de atos administrativos corriqueiros. Outros com parecer técnico e jurídico do relator para aprovação da constitucionalidade, para depois irem a voto no plenário da Câmara.

Os acordos internacionais são do tipo "Cooperação Cultural entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo de Belize". Nada a ver com entrada no Mercosul ou coisas complexas.

Ou seja, a sessão iria apenas homologar a aprovação do que já estava decidido na pauta que seria aprovado, praticamente por consenso.

Os 35 deputados deram quórum e foram exercer outras atividades parlamentares fora da CCJ, como se deixassem uma procuração com o voto pela aprovação do que estava na pauta. Nada de errado.

Nenhum mal uso do dinheiro público, ninguém estava gazeteando, nada contrário aos interesses dos eleitores que eles representam. Cumpriram com seu dever e aumentaram sua produtividade parlamentar indo exercer outras atividades.

A Globo ficou nervosa por que?

Como jabuti não sobe em árvore, qual é o interesse contrariado da Globo, para ficar tão irada?

A constitucionalidade da profissão de cabeleireiro, não deve ser.

Há, entre os 118 projetos, diversas renovações e algumas outorgas da concessão de rádios comerciais, a maioria do interior, outras de capital, mas rádios que já existem e estão apenas renovando o período da concessão. Nada que pareça ser ameaçador para a Globo. Há diversas outorgas de novas rádios comunitárias. Os barões da mídia sempre foram contra rádios comunitárias, mas será que pequenas rádios de comunidades são o suficiente para tamanha virulência contra os deputados?
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