quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Gisele Amélia Bündchen Enfurece as Feministas

Por Matheus Pichonell


Governo pede suspensão de campanha publicitária em que a top ensina mulheres a tirarem a roupa para não irritar os maridões.



Não basta ficar só de calcinha e sutiã para evitar a fúria do maridão quando bater o carro, trazer a sogra para casa ou quando estourar o limite do cartão de crédito do provedor do lar. Gisele Bündchen, a Amélia da publicidade nacional, também terá que controlar a fúria das mulheres que se indignaram com a campanha da Hope Lingerie, protagonizada por ela, com o suposto objetivo de ensinar as colegas a encontrar formas (e a vestimentas) corretas na hora de avisar os homens da casa sobre as desfortunas do “sexo frágil” e, assim, evitar demonstrações públicas ou privadas de afeto dos homens formados no curso Dado Dolabella de gentileza masculina.
“Hope ensina”, a campanha da Hope Lingerie estrelada pela top, foi tema de um artigo publicado nesta CartaCapital que alertava sobre os perigos da exposição de estereótipos que, a muito custo, os movimentos em defesa da mulher conseguiram combater.



No ar há oito dias, a campanha resultou numa enxurrada de manifestações recebidas pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e levou o governo federal a enviar um ofício ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pedindo a suspensão da publicidade. Um outro ofício foi encaminhado para a direção da empresa como manifesto de repúdio à peça.
O argumento foi que, ao “ensinar” como a sensualidade pode deixar qualquer homem derretido, Gisele Amélia Bündchen acabou apenas estimulando as mulheres a se insinuar, com o próprio corpo, “para amenizar possíveis reações de seus companheiros”.
“A propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”. Mais que isso, a secretaria fez questão de lembrar que o conteúdo discriminatório contra a mulher pode ser enquadrado como infração da Constituição Federal.
Em campanha publicitária, a modelo ensina a seduzir o marido após bater o carro ou estourar o limite do cartão de crédito.
Se o resultado da queda de braço será somada à lista de conquistas do movimento feminino ainda não se sabe. Fato é que, nesta quarta-feira 28, a empresa enviou uma nota à imprensa justificando o conteúdo da propaganda. Na nota, assinada pela diretora Sandra Chayo, a empresa argumentou que a “propaganda teve o objetivo claro e bem definido de mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia”. E que, utilizando a lingerie da marca, esse “poder de convencimento” será ainda maior.
Segundo a empresa, os exemplos nunca tiveram a intenção de parecer sexistas. “Bater o carro, extrapolar nas compras ou ter que receber uma nova pessoa em sua casa por tempo indeterminado são fatos desagradáveis que podem acontecer na vida de qualquer casal, seja o agente da ação homem ou mulher”.
A campanha, argumenta a empresa, tinha como objetivo mostrar justamente que a mulher não é subserviente nem dependente financeiramente do marido. Por isso decidiu escalar para o papel uma mulher bem sucedida em sua carreira internacional – e que já havia protagonizado papel semelhante em campanha de uma empresa de tevê a cabo (grifo do autor).
As situações apresentadas na propaganda, portanto, eram só “brincadeiras, piadas do dia-a-dia, e em hipótese alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina”, justificou a Hope.
Resta saber se os argumentos vão convencer as pessoas que se indignaram com o conteúdo na internet, a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Conar, que está notificado. Por enquanto, a Hope promete manter a campanha no ar. No site da empresa, o recado da top segue firme e forte em seu vídeo promocional: “Você é brasileira, use seu charme”. Recado dado, Amélia.

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