Governador
de São Paulo tenta se antecipar ao governo federal, promove ação
truculenta contra 1,7 mil famílias em desocupação de terreno e precipita
o fim da lua de mel com o Planalto
Na
tentativa de se mostrar mais ágil do que a administração federal, em
menos de um mês o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
protagonizou duas ações precipitadas, que indicam o fim de sua lua de
mel com o governo da presidenta Dilma Rousseff. Suas iniciativas foram
alvo de milhares de protestos nas redes sociais e estão sob o olhar de
organizações internacionais de direitos humanos.
A
mais truculenta ocorreu na última semana. Às 6 horas da manhã do
domingo 22, as cerca de 1,7 mil famílias que ocupavam, desde 2004, a
área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, interior de São
Paulo, foram surpreendidas com a presença de dois mil homens do
Batalhão de Choque da Polícia Militar. Com forte aparato repressivo, os
soldados estavam ali para cumprir uma decisão judicial de reintegração
de posse do terreno, de 1,3 milhão de metros quadrados, pertencente à
massa falida da empresa Selecta, do empresário Naji Nahas. Rapidamente,
os tratores entraram em ação. Uma a uma, as casas eram postas abaixo,
numa ação que o coronel da Polícia Militar Manoel Messias considerava um
sucesso, enquanto gabava-se do fator surpresa.
Aos
que tentavam resistir ou voltar ao local, a dispersão era garantida com
tiros de borracha e bombas de efeito moral. Até o secretário nacional
de Articulação Social, Paulo Maldos, escalado para negociar com os
moradores, foi alvejado. "Tenho militância, antes da ditadura militar, e
pela primeira vez sou agredido dessa maneira, exatamente durante a
democracia", declarou. Jornalistas tinham seu acesso à área restringido
"para garantir a segurança", nas palavras da PM, e entidades como a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenavam a operação. Sem rumo, os
desalojados perambulavam atrás de auxílio. A truculência evidencia que o
governo paulista parece ignorar os princípios do próprio PSDB, partido
de Alckmin. Segundo o ideário da legenda, invasão de terra é questão
social e não de polícia.
TRUCULÊNCIA Batalhão da PM surpreende moradores do Pinheirinho com a violência empregada durante reintegração de posse do terreno |
A ação policialesca de
Alckmin foi recebida com revolta e sentimento de traição em Brasília.
Em nome do Ministério das Cidades, o secretário-executivo da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Rogério Sottili, vinha
mantendo tratativas com o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury
(PSDB), sobre a questão de Pinheirinho. De acordo com ele, o governo
federal recebeu há duas semanas a informação de que poderia haver
confronto na área, caso se confirmasse a ação de reintegração de posse
pela Polícia Militar.
Preocupado,
Sottili entrou então em contato com o prefeito Cury e também procurou o
ex-ministro José Gregori propondo uma saída negociada ao governador
Geraldo Alckmin. "Eu me coloquei à disposição e o prefeito me recebeu
superbem. Acertou de vir a Brasília na quinta-feira 19, mas depois pediu
que sua secretária cancelasse a audiência", explica. Para o
secretário-executivo, Cury, ao cancelar o compromisso, deu a entender
que a desocupação do terreno seria adiada por 15 dias. "Estávamos em
contato e fiquei surpreso com a ação da PM. Na verdade, eles estavam
preparando a reintegração de posse, enquanto negociavam conosco",
afirma. Entre as soluções negociadas, o Palácio do Planalto chegou a
propor o fatiamento da área e a construção de conjuntos habitacionais
dentro do programa Minha Casa Minha Vida. A desapropriação das terras
interessa à União, que tem R$ 12 milhões a receber da massa falida do
Grupo Selecta, do empresário Naji Nahas. Alckmin, no entanto, optou pelo
confronto, em vez da negociação.
DESPROPORCIONAL Sob o comando de Alckmin, polícia paulista tem cometido excessos injustificáveis |
Com o aval de Dilma
Rousseff, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da
República, classificou publicamente a reintegração de posse como uma
praça de guerra. Uma declaração que, além de forte, destoa da forma como
as medidas tomadas pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, eram
tratadas em público por autoridades do alto escalão federal. Até
críticas às recentes enchentes eram evitadas por ministros, embora a má
condução dessa questão também tenha entrado no rol de equívocos
administrativos cometidos por Alckmim.
Em
janeiro do ano passado, o governador anunciou um pacote de
investimentos estimado em mais de R$ 800 milhões para resolver o grave
problema que assola os paulistas todo começo de ano. O cronograma,
porém, está atrasado, a limpeza de piscinões em diversas cidades
prometida por Alckmin não foi feita como planejado e o Estado sofre
novamente no período de chuvas Internamente, o governo federal já
demonstrava descontentamento com outra ação da gestão Alckmin iniciada
no dia 3 de janeiro.
Contingentes
da Polícia Militar iniciaram uma operação para remover dependentes
químicos e traficantes da região conhecida como Cracolândia, ponto de
comércio e uso de drogas no centro de São Paulo. A violência empregada
durante a operação, com o uso de balas de borracha, bombas de efeito
moral e agressões físicas, levou ONGs ligadas aos direitos humanos a
denunciar o caso à ONU. Para o Palácio do Planalto, além de desastrosa, a
ação de Alckmin foi vista como oportunista. Tratava-se de uma tentativa
clara de se antecipar ao lançamento do Plano Nacional de Combate ao
Crack, uma das principais bandeiras da campanha petista ao Palácio do
Planalto, sem sequer possuir a infraestrutura necessária para atender os
dependentes químicos.
No IstoÉ
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