Considero desnecessário qualquer comentário sobre o Editorial deste domingo (29) do Estadão. Ele fala por si só.
Agora a capital, depois o Estado
Editorial – O Estado de S.Paulo
Se
ainda restasse alguma sombra de dúvida, a apoteose armada pelo
lulopetismo para a despedida de Fernando Haddad do Ministério da
Educação escancarou o óbvio: o projeto de poder, com inegável
competência idealizado e até agora executado por Luiz Inácio Lula da
Silva, passa, necessariamente, pela imposição da hegemonia do Partido
dos Trabalhadores no Estado de São Paulo, a começar pela reconquista da
Prefeitura da capital.
Assim, a
solenidade de transmissão de cargo realizada na última terça-feira no
Palácio do Planalto, com a arrebatadora presença de um Lula que as
circunstâncias elevaram à condição de quase divindade, não foi convocada
para assinalar uma despedida, mas para glorificar o retumbante advento
de mais uma figura ungida pelo Grande Chefe, desta vez com a missão
estratégica de fincar em solo bandeirante a flâmula com a estrela do PT.
E ganhar a Prefeitura em outubro é apenas o primeiro passo, o trampolim
para a conquista inédita sem a qual a hegemonia política dos petistas
no País continuará tendo um travo amargo: não controlar o governo do
mais importante Estado da Federação.
A
candidatura do ex-ministro da Educação à chefia do Executivo paulistano
emerge estimulada por circunstâncias favoráveis. É claro que Haddad
ainda terá que comprovar um mínimo de competência numa área de atuação
em que é neófito. Mas se vocação para o palanque fosse indispensável,
Lula não teria feito sua sucessora em 2010. O que importa é que,
repetindo o que deu certo em 2010 em escala muito mais ampla, o novo
escolhido pelo Grande Chefe se apresentará na campanha municipal
exatamente com essa credencial: ser o candidato de Lula, e com toda a
liderança – mesmo que em alguns casos sob certo constrangimento – e a
aguerrida militância do PT empenhadas numa questão que para eles já se
tornou ponto de honra – vencer em São Paulo.
Por
outro lado, o ex-ministro da Educação terá que se haver, durante a
campanha eleitoral, com as cobranças a respeito dos notórios pontos
negativos de sua gestão no Ministério, em particular as reiteradas
lambanças do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais na
administração do Enem. Mas essas são questões concretas, objetivas, que
exigirão um mínimo de racionalidade no trato. Nada que não possa ser
facilmente obscurecido e suplantado pelo enorme componente emocional que
o forte e revigorado carisma de Lula colocará a serviço de seu
candidato. Favorece ainda os planos petistas o fato de a candidatura de
Haddad ser talvez a única que poderá se apresentar com uma credencial
inequívoca de oposição ao poder municipal. E oposição é algo que,
historicamente, o PT sabe fazer muito bem.
Por
outro lado, o maior adversário do PT em São Paulo, o PSDB, não apenas
demonstra enorme dificuldade para articular uma candidatura competitiva,
como enfrenta o problema adicional de permanecer numa posição ambígua,
sem um discurso claro, em relação à Prefeitura: não é exatamente
situação nem oposição, embora tenha o rabo preso com a gestão Kassab. A
rigor, o partido situacionista no Município de São Paulo é o partido do
prefeito, o novo PSD, hoje a terceira maior bancada no Congresso
Nacional, mas que ainda não passou pelo teste das urnas. E, correndo por
fora, sabendo que não tem nada a perder, o PMDB manifesta até agora
intenção de permanecer na disputa com o candidato que recrutou
exatamente para esse fim.
Para
embaralhar ainda mais o quadro, torna-se cada vez mais concreta a
possibilidade de Gilberto Kassab fazer algum tipo de aliança do seu PSD
com o PT – por paradoxal que isso seja. Segundo o prefeito tem
confidenciado a seus interlocutores, essa é uma opção a que ele está
sendo praticamente impelido por aqueles que seriam seus aliados
naturais.
De qualquer modo, o que
importa é que na disputa pela Prefeitura de São Paulo está em jogo
muito mais do que o poder municipal. Um dos fundamentos do regime
democrático é a possibilidade de alternância no poder no âmbito federal,
que está ameaçado pela perspectiva de o lulopetismo estender seus
domínios ao que de mais politicamente significativo ainda lhe falta: a
cidade e o Estado de São Paulo. Se existe uma oposição no País, está na
hora de seus líderes pensarem seriamente nisso. E agir.
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