Carta Maior
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Jornal
oficial do Partido Comunista de Cuba noticia presença de Dilma Rousseff
na ilha para encontro com Raúl Castro e traz biografia dela. Presidenta
chega a Havana sem dar declarações, para agenda nesta terça (31).
Trajeto aeroporto-hotel é repleto de propaganda nacionalista e
ideológica, característica do regime.
André Barrocal
Havana
– A visita oficial da presidenta Dilma Rousseff a Cuba foi destaque na
primeira página da edição desta segunda-feira (30) do jornal Granma,
órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba.
Referindo-se a ela como “presidenta”, no feminino, como Dilma quer ser
chamada mas não costuma sê-lo pela imprensa brasileira, o Granma
noticiou o encontro que a presidenta terá com o “General de Exército
Raúl Castro Ruz”, líder do governo cubano.
Numa
página interna, traz a biografia de Dilma, com registro para a
participação dela no combate à ditadura militar, os três anos em que
esteve presa - sem menção a torturas - e os cargos que ocupou na
prefeitura de Porto Alegre, no governo gaúcho e na gestão Lula, até ser
eleita a primeira mulher presidenta do Brasil.
Dilma
chegou por volta das 17h desta segunda-feira (30) a Havana, cidade que
está três horas atrás do fuso oficial brasileiro (hora de Brasília). Ela
pousou no aeroporto internacional que leva o nome de um grandes heróis
da independência cubana, José Martí, cujo memorial Dilma visitará nesta
terça-feira (31), no primeiro compromisso oficial em Cuba.
Do
aeroporto até o hotel em que está hospedada com ministros e assessores,
a presidenta viu pelo caminho uma série de demonstrações do
nacionalismo e da propaganda ideológica que caracterizam o regime
castrista, que entra no ano 54.
Próximo
à saída do aeroporto, um outdoor traz uma mensagem de Raúl Castro sobre
a crise econômica global: “Ante a crise econômica capitalista, não
temos outra opção que não nos unirmos para enfrentá-la”.
Mais
à frente, um outro outdoor diz que “as ideias são essenciais nas lutas
da humanidade”, como a anunciar o jorro de ideias que se verá no caminho
até a região central de Havana. “Tudo pela revolução”, diz um cartaz,
apontando “estudo, trabalho e fuzil” como instrumentos do seria o
“tudo”. “Pela sua pátria, devem trabalhar todos os homens”, diz um
cartaz a reproduzir uma frase de José Martí. “Mulheres unidas pela
pátria”, afirma um outro outdoor.
O
histórico inimigo norte-americano também é alvejado durante o trajeto
pelo qual se veem casas coloridas e pequenas, geralmente de dois
andares, estudantes voltando para a casa com mochilas às costas,
trabalhadores a esperar por ônibus antigos, como em geral é a frota
automobilística cubana.
“Liberdade
não se pode bloquear. Aqui não há medo”, diz um velho cartaz, a pregar
contra o “plano Bush”, presumivelmente uma referência aos ataques
norte-americanos no Iraque e no Afeganistão.
“Cinco
heróis prisioneiros do império voltarão”, lê-se na parede de um
restaurante, aludindo aos cubanos presos e condenados nos EUA por
ajudarem a impedir ataques terroristas contra Cuba, mas que para os
norte-americanos estavam espionando e preparando atentados.
A
história dos “cinco heróis” está contada em português num livro lançado
em 2011 pelo escritor Fernando Morais, amigo da revolução cubana. O
livro será publicado ainda este ano em Cuba, nos EUA e em alguns outros
países para, de acordo com o escritor, contar às pessoas “essa
indecência”.
O
hotel de Dilma fica próximo à embaixada americana em Havana, e os
cubanos também dedicam “homenagens” à repartição diplomática do
“inimigo”. Em frente ao prédio, há dezenas de mastros nos quais tremulam
bandeiras cubanas.
Na
chegada ao hotel, Dilma cumprimentou os jornalistas brasileiros que a
esperavam no saguão, mas não deu entrevistas. Estava acompanhada dos
ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel
(Desenvolvimento) e Alexandre Padilha (Saúde) e pelo assessor de
assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
A
ida da presidenta a Cuba neste momento faz parte de um plano dela de se
aproximar um pouco da esquerda, segundo Carta Maior apurou. Não por
acaso, a viagem foi incluída praticamente na sequência da ida dela ao
Fórum Social Mundial.
No
Fórum, Dilma teve uma reunião como movimentos sociais sobre a Rio+20
que, na verdade, serviu para distensionar um pouco o clima dela com
aquelas entidades, ainda hoje saudosas da era Lula, quando tinham mais
acesso aos ouvidos presidenciais para externas seus pontos de vista.
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