Leandro Fortes, CartaCapital
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Restritas ao noticiário local de Goiânia, as informações sobre uma
“minirreforma” no secretariado do governador de -Goiás, Marconi Perillo
(PSDB), são o primeiro sinal de que suas ligações com o esquema
-conjunto do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e do bicheiro Carlos
Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, prometem levar a crise para dentro
do governo goiano.
Transformado em menos de um mês em zumbi político, Torres agoniza pelos
corredores do Senado, agora sob risco de ser cassado. Mas não deve
naufragar sozinho, se as investigações da Polícia Federal forem
aprofundadas. Novos documentos, gravações e perícias que integram o
relatório da Operação Monte Carlo, revelados com exclusividade por CartaCapital, apontam uma total sinergia entre o esquema do bicheiro, o senador e o governo de Marconi Perillo.
Em uma interceptação telefônica de 5 de janeiro de 2011, os agentes
federais registraram uma conversa entre Cachoeira e seu principal
auxiliar, Lenine Araújo de Souza, vulgo Baixinho. Na conversa, o
bicheiro, a partir de um telefone em Miami, recebe a notícia de que um
de seus indicados para o governo de -Goiás, identificado apenas por
Caolho, acabou preterido, sem maiores explicações e aparentemente sem o
conhecimento do governador. Segundo homem na hierarquia e braço
operacional de Cachoeira, Souza administrava e operava o sistema de
contabilidade da quadrilha. Também era responsável pelo pagamento de boa
parte das propinas a agentes públicos, em troca de proteção e
informação.
“Marconi, hora que souber disso (sic), vai ficar puto”, reclama o bicheiro, no telefonema a Souza. E acrescenta, a seguir: “Já mandei avisar ele (sic)”.
Mas adiante, revela, por duas vezes, a ordem dada ao senador Torres
para entrar no caso e falar diretamente com o governador. “O Demóstenes
já está ligando para ele”, garante Cachoeira.
Mais adiante, no mesmo grampo, o bicheiro pede a Souza para tomar
providências e entrar em contato com Eliane Gonçalves Pinheiro, chefe de
gabinete do governador. Ela chegou ao cargo no início do ano passado,
depois das eleições de 2010, na qual foi responsável -pela arti-culação
do tucano para que prefeitos do PP aderissem à campanha do PSDB ao
governo estadual. Até então, era ligada ao ex–secretário extraordinário
de Assuntos Estratégicos de Goiás Fernando Cunha, importante liderança
tucana no estado, falecido em novembro de 2011. Segundo as investigações
da PF, uma filha de Cunha é casada com um irmão de Cachoeira.
Outra interferência direta do bicheiro no governo, revelada nos grampos
da PF, tem relação com a atuação do coronel Vicente Ferreira Filho,
comandante do 3º Comando Regional da Polícia Militar, em Anápolis. Souza
refere-se à preocupação de um certo “Ananias”, provavelmente um dos
prepostos da jogatina na cidade, com a atuação do oficial. “O Ananias
está demonstrando preocupação com o Vicente em Anápolis, hein”, avisa.
Cachoeira informa então a providência tomada. “Já mandei (inaudível),
inclusive vai falar com Marconi, hoje à tarde”, diz o bicheiro. Em
seguida, tranquiliza o auxiliar sobre a possibilidade de o coronel da PM
atrapalhar os negócios em Anápolis, segundo a transcrição da PF. “Não
vai, não. Esse comandante pra nóis (sic), ainda vai ser bom. Cê vai ver (sic).” Não há, contudo, nenhuma acusação contra o coronel nos autos da Operação Monte Carlo.
Ciente da encrenca em que está metido, Perillo decidiu usar como
desculpa a desincompatibilização do atual secretário de Meio Ambiente,
Leonardo Vilela, candidato do PSDB à prefeitura de Goiânia, para mexer
na equipe e apagar os rastros de Torres e Cachoeira em seus domínios.
Assim, a amiga do bicheiro, Eliane Pinheiro, chefe de gabinete de
Perillo, deverá deixar o cargo em breve, sob a improvável promessa de
mudar de função. Outro que deve sair e colocar as barbas de molho é o
secretário de Infraestrutura, Wilder Morais. Suplente de Torres, poderá
assumir a vaga no Senado caso o titular venha a ser cassado.
Será uma vingança e tanto. A mulher de Morais, Andressa, o abandonou no
ano passado para viver com Cachoeira. O drama matrimonial chegou a
servir de desculpa para o senador Torres -justificar os 298 telefonemas
que trocou com o bicheiro nos últimos seis meses. Morais também tomou
medidas preventivas e afastou Leandro Gomes Candido do cargo de
secretário-executivo da pasta. Candido é marido de uma irmã de Andressa.
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