1. No episódio do grampo dos Correios, revista Veja se aliou a
Carlinhos Cachoeira para expulsar uma quadrilha concorrente do
bicheiro. No capítulo "O Araponga e o Repórter", da série "O caso de Veja", descrevo essas relações promíscuas.
2. No caso do grampo sem áudio - o suposto grampo de uma conversa
entre Demóstenes e o então presidente do STF Gilmar Mendes -, mostra-se
a relação espúria Demóstenes-Veja.
3. Agora, a operação Monte Carlo, mostra as relações de Demóstenes e
Carlinhos Cachoeira, inclusive revelando que o bicheiro era informado
sobre movimentos políticos de Demóstenes, conforme matérias de hoje.
Insisto na questão: vai-se varrer para baixo do tapete uma suspeita
de crime que envolveu todos os poderes da República, o do grampo sem
áudio? Até onde foram as relações Veja-Demóstenes-Carlinhos?
À medida em que vão sendo reveladas as influências políticas múltiplas
do bicheiro Carlinhos Cachoeira, é hora de tirar outros fantasmas do
armário. Especialmente enquanto vai se desnudando a imagem pública do
senador Demóstenes Torres.
Um deles talvez seja a mais grave suspeita a pairar sobre a política
brasileira: a de que foi engendrada uma falsificação envolvendo o
próprio presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a maior revista do
país, dando munição para uma CPI, servindo de instrumento de ameaça ao
próprio presidente da República. Uma armação que, na história do país,
tem o mesmo nível do Plano Cohen e das Cartas Brandi.
Trata-se do grampo sem áudio da conversa de Demóstenes Torres com Gilmar Mendes divulgado pela revista Veja.
A suspeita mais forte é a de que houve uma ligação de Demóstenes para
Gilmar, acompanhada presencialmente por um repórter da Veja. O repórter
teria anotado em detalhes as falas de Demóstenes; mas de Gilmar captou
apenas frases curtas e soltas, conforme pode-se perceber na
reconstituição do diálogo. Além disso, quem liga é Demóstenes, é ele
quem dá o mote para a conversa. O que reforça a suspeita de que a
transcrição só tinha acesso à fala de Demóstenes - por estar assistindo e
anotando a conversa - e reconstituiu posteriormente a de Gilmar.
Aparentemente, Gilmar foi o incauto nessa história e acabou endossando a
farsa, inebriado que estava pela catarse montada em torno da
Satiagraha, que o colocou no centro de todos os holofotes.
É uma suspeita que não pode ser varrida para baixo do tapete. A CPI do
Grampo foi prorrogada devido a esse episódio. Nem parlamentares, nem
Ministério Público Federal nem Polícia Federal têm o direito de ignorar
essa farsa.
Aqui, a íntegra da conversa captada pelo suposto grampo:
Gilmar Mendes – Oi, Demóstenes, tudo bem? Muito obrigado pelas suas declarações.
Demóstenes Torres – Que é isso, Gilmar. Esse pessoal está maluco.
Impeachment? Isso é coisa para bandido, não para presidente do Supremo.
Podem até discordar do julgado, mas impeachment...
Gilmar – Querem fazer tudo contra a lei, Demóstenes, só pelo gosto...
Demóstenes – A segunda decisão foi uma afronta à sua, só pra te
constranger, mas, felizmente, não tem ninguém aqui que embarcou nessa
"porra-louquice". Se houver mesmo esse pedido, não anda um milímetro.
Não tem sentido.
Gilmar – Obrigado.
Demóstenes – Gilmar, obrigado pelo retorno, eu te liguei porque tem
um caso aqui que vou precisar de você. É o seguinte: eu sou o relator
da CPI da Pedofilia aqui no Senado e acabo de ser comunicado pelo
pessoal do Ministério da Justiça que um juiz estadual de Roraima mandou
uma decisão dele para o programa de proteção de vítimas ameaçadas para
que uma pessoa protegida não seja ouvida pela CPI antes do juiz.
Gilmar – Como é que é?
Demóstenes – É isso mesmo! Dois promotores entraram com o pedido e o juiz estadual interferiu na agenda da CPI. Tem cabimento?
Gilmar – É grave.
Demóstenes – É uma vítima menor que foi molestada por um monte de
autoridades de lá e parece que até por um deputado federal. É por isso
que nós queremos ouvi-la, mas o juiz lá não tem qualquer noção de
competência.
Gilmar – O que você quer fazer?
Demóstenes – Eu estou pensando em ligar para o procurador-geral de
Justiça e ver se ele mostra para os promotores que eles não podem
intervir em CPI federal, que aqui só pode chegar ordem do Supremo. Se
eles resolverem lá, tudo bem. Se não, vou pedir ao advogado-geral da
Casa para preparar alguma medida judicial para você restabelecer o
direito.
Gilmar – Está demais, não é, Demóstenes?
Demóstenes – Burrice também devia ter limites, não é, Gilmar? Isso é caso até de Conselhão.
(risos)
Gilmar – Então está bom.
Demóstenes – Se eu não resolver até amanhã, eu te procuro com uma ação para você analisar. Está bom?
Gilmar – Está bom. Um abraço, e obrigado de novo.
Demóstenes – Um abração, Gilmar. Até logo.
No Advivo
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