Polícia Federal afirma que ex-comandante-geral acatou indicações feitas pelo braço direito de Cachoeira, Lenine Araújo de Souza
Além de utilizar a estrutura da Polícia Civil e Militar para proteger o
funcionamento de bingos, a organização criminosa comandada pelo
empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, também indicava
membros da quadrilha para promoções dentro da Polícia Militar de Goiás
(PM-GO), segundo o inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a Operação
Monte Carlo. O ex-comandante-geral da PM-GO, coronel Carlos Antônio
Elias, negou qualquer influência do grupo de Cachoeira nos quadros da
corporação.
De acordo com o inquérito da PF, o capitão Antonil Ferreira dos Santos
foi promovido pelo coronel Elias “mediante exigências da Organização
Criminosa”. “O que demonstra possivelmente uma forma de a Organização
Criminosa retribuir algum serviço ou favor prestado pelo referido
capitão”, afirma o relatório. Antonil é apontado pela PF como um dos
policiais responsáveis pela segurança ostensiva de cassinos em
Valparaíso e pelo fechamento bingos concorrentes após ordens do grupo de
Carlinhos Cachoeira.
A suspeita da PF ocorreu após a gravação de uma conversa entre o braço
direito de Cachoeira, Lenine Araújo de Souza, e o coronel Elias, em 21
de dezembro de 2010. Conforme a investigação, eles discutiam possíveis
promoções nos quadros da PM-GO. Durante a conversa, Lenine faz
referência ao nome de Antonil. O então comandante-geral da Polícia
Militar respondeu. “Então, tá bom. Lá.... tá defendendo gente boa, aí.
Vamos pegar esses menino (sic) e ajudar eles”, declarou Elias conforme
interceptação telefônica autorizada pela Justiça.
Em 23 de dezembro, foi publicado um listão no site da PM-GO contendo os
nomes dos policiais promovidos por merecimento. O nome de Antonil estava
entre eles. Seis dias depois, o agora capitão Antonil manteve contato
com Lenine agradecendo a suposta indicação ao cargo. “Oi moço. Tô te
passando o rádio aí, só pra você, é... só pra te dar a notícia aí que eu
ia.... minha Promoção saiu. Tranquilo! Eu peguei minha Estrela hoje e
foi publicada agora de manhã no Diário Oficial”, declarou Antonil na
conversa telefônica interceptada pela PF. Lenine respondeu. “Se depender
de nós, cê sabe que... O que tiver ao nosso alcance, a gente corre
atrás mesmo”.
Na tarde deste domingo (8), o ex-comandante-geral da Polícia Militar
disse que desconhecia o diálogo interceptado pela PF. Ele negou qualquer
tipo de indicação por parte do grupo de Cachoeira. Elias explicou que a
promoção de Antonil ocorreu por antiguidade. “A pontuação (exigência
para promoção de cargos na PM-GO) não é feita pelo comandante. Ela é
feita por uma comissão. Por uma comissão independente. Ela não requer
que eu interfira nisso”, explicou. “Independente de quem pediu (a
indicação), ele teria conseguido”, complementou Elias.
O relatório da PF também afirma que o coronel Elias cobrou um suposto
pagamento à organização criminosa de Carlinhos Cachoeira por intermédio
de uma mulher identificada como Eliane. Em diálogo interceptado no dia
10 de janeiro de 2011, Eliane cobra de Lenine esse pagamento após saber
que Cachoeira não tinha autorizado a transação. O dinheiro, na
interpretação da PF, seria utilizado para o coronel saldar dívidas
pessoais.
Para a PF, o coronel Elias também tinha recebido a promessa da
organização criminosa de Cachoeira de permanecer no comando da Polícia
Militar de Goiás. “É porque, realmente, a gente deu a esperança pra ele,
que ele pu..., talvez, pudesse continuar” afirma Eliane sobre o
ex-comandante-geral da PM-GO, conforme a PF. O coronel também negou esse
pedido de pagamento levantado pela Polícia Federal. “Não teve isso não.
Minha vida é totalmente aberta e transparente em relação a esses
fatos”, declarou. Oficialmente, ele tinha a expectativa de continuar no
cargo mais pelos “bons serviços” do que por alguma eventual ligação com o
grupo de Cachoeira.
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