Deputado recebeu R$ 100 mil de Cachoeira. PSDB finge que não vê e a imprensa silencia
Diálogos interceptados pela Polícia Federal, com autorização da
Justiça, revelam que o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) também
negociava com a organização comandada pelo bicheiro Carlos Alberto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O tucano, segundo as investigações, recebeu depósitos bancários e bens - inclusive imóveis - obtidos com atividades ilícitas.
Leréia é aliado do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e, a
exemplo do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), também usava um
telefone da marca Nextel, habilitado nos Estados Unidos, cedido por
Cachoeira para dificultar grampos nas comunicações do grupo.
Ele é um dos seis parlamentares relacionados até agora como alvos do
inquérito criminal aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido
da Procuradoria-Geral da República. Stepan Nercessian (PPS-RJ),
confirmou ter recebido R$ 175 mil de Cachoeira, segundo a edição de
ontem do jornal Folha de S. Paulo. Ainda ontem Stepan pediu, por meio
de nota, licença temporária do PPS e de todos os cargos e funções que
ocupa no partido.
Entre os valores destinados ao deputado tucano e já rastreados estão um
depósito de R$ 100 mil, feito na conta de uma empresa comandada
supostamente por laranjas - a Linkmidia Tecnologia da Informação e
Editoração Ltda - e uma sociedade com Cachoeira em terreno avaliado em
R$ 800 mil, em um condomínio de luxo em Goiânia.
A empresa Linkmidia fica em Formosa (GO), a 80 quilômetros de Brasília,
e está registrada em nome de Hugo Teixeira, mas pertence de fato ao
pai, Leônidas Teixeira, segundo apurou a PF.
Grampos
Em diálogo grampeado em 22 de junho de 2009, na Operação Vegas, Leréia
instrui o contraventor Wladimir Garcez Henrique a depositar R$ 100 mil
na conta da Linkmídia. Wladimir foi denunciado pelo Ministério Público
como um dos membros do esquema de exploração de jogos ilegais comandado
por Cachoeira, desmantelado em 29 de fevereiro pela Operação Monte
Carlo.
O deputado, segundo a PF, tinha o hábito de conferir cada real
depositado em seu favor e, dois dias depois, em novo contato com o
contraventor, reclamou que o valor combinado estava incompleto.
"Eu liguei pro rapaz lá, falou que só fizeram um depósito daquele lá,
entendeu? Podia verificar isso aí." Wladimir garante: "Foi feito ontem o
outro... foram os dois".
Leréia aceita a resposta, mas com desconfiança: "Tá bom, então tá, um
abraço, certeza, né?" E Wladimir encerra a conversa com uma ponta de
vacilo: "Certeza, só se o cara tá mentindo, né? Ele não mentiria, não…
Foram os dois". Horas depois, a desconfiança de Leréia se confirma num
contato de Wladimir com um subalterno, Geovani.
"O Leréia ligou, você olhou aquele negócio, tá confirmado ou não tá?",
indaga o chefe. "É... tá faltando... 25 que... é... segundo ele aqui
vai conseguir fazer só amanhã. Então, quer dizer que foi (depositado)
só 75", responde Geovani. "Fala que amanhã vai entrar os outros 25."
Nesse mesmo dia 24 de junho, em outro diálogo interceptado, Cachoeira,
provavelmente acionado por Leréia, ligou para Geovani para tomar
satisfações sobre os 25 mil que faltavam.
Os diálogos, aos quais o jornal O Estado teve acesso, foram travados
entre 17 de junho e 3 de julho de 2009, na Operação Vegas, que
antecedeu a Operação Monte Carlo, que desbaratou, em 29 de fevereiro
passado, a organização criminosa chefiada por Cachoeira.
HelenaNo Amigos do Presidente Lula
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