Quem é o suplente do Demóstenes? Esta é uma pergunta que muitos devem
estar se fazendo, diante de um desfecho iminente para mais um escândalo
no Senado. Qual será o próximo? O escândalo? Não, o próximo senador
biônico, que tomará posse depois que o titular renunciar, for cassado
ou, se resolver seguir a tradição japonesa… bem, deixemos para lá a
última hipótese.
O fato é que uma pessoa, que não recebeu um único voto – nem o
próprio – terá direito a propor, negociar e votar os destinos deste
país: seu orçamento, seus tributos, seu código penal, enfim, não é pouca
coisa. E o que garante que o sucessor do Demóstenes também não faça
parte desse mesmo grupo de amigos de Goiás para lá de suprapartidário?
É uma excrescência a existência da figura do suplente de senador num
país que se intitula democrático. Em caso de cassação ou renúncia, que
seja chamado o segundo mais votado ou, pelo menos, que o nome dos
suplentes passem a figurar nas cédulas eleitorais.
Não faz muito tempo que o então insuspeito senador pelo Rio de
Janeiro Saturnino Braga redigiu de próprio punho compromisso de cumprir
“apenas” quatro anos do seu mandato e deixar os outros quatro para o seu
suplente, Carlos Lupi.
Aquele mesmo, que passou boa parte da vida carregando a pasta do
Brizola, que amava a presidenta Dilma e que se tornou ministro e,
felizmente, ex-ministro do Trabalho. Mas os eleitores de Saturnino não
foram consultados. Souberam quando o pacto foi rompido. E muitos
perguntaram: até tu, Saturnino?
Isso para não relembrar detalhes mais picantes e momentos gloriosos
dos mandatos de Luís Estevão, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Antonio
Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e José Sarney, este, senador pelo
Amapá, e não pelo Maranhão – fato que ainda merecerá os devidos
esclarecimentos. Quem sabe, na próxima biografia do imortal senador? No
entanto, agora, o protagonista da vez é aquele que parecia fugir à
regra. Até tu, Demóstenes?
Mas, assim como Brutus, senador romano que traiu Julio Cesar,
matando-o em seguida, são todos homens honrados – diria Marco Antonio,
se transportássemos as impolutas figuras da nossa República para os
tempos de Cesar descritos por Shakespeare. Mas diferentemente dos
romamos, os nossos senadores têm muitas vidas.
Dão a volta por cima com a mesma facilidade com que dão a volta em
todos nós. Não deixam as suas vidas, e muito menos as nossas. Deixam de
ser senadores para se tornarem deputados, governadores, prefeitos, mas,
sempre, Excelências.
Quem é o suplente do Demóstenes? Não vem ao caso.
P S – Para os muitos curiosos, conto quem é o suplente: ele se chama
Wilder Pedro de Morais [foto]. Filiado ao DEM, é engenheiro, empresário e
secretário de Infraestrutura do Estado de Goiás. Em sua declaração de
bens para a Justiça Eleitoral, em 2010, ele apresentou um patrimônio
pessoal de 14.419.491,02 reais – sendo 2.200.000 reais, em espécie.
Um comentário:
Tomara que Demóstenes pague na pele por seus erros! Ele armou pra Arruda se expulso do partido, ta na cara isso.
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