Ex-assessor, Mino Pedrosa, revela que o contraventor teve a cabeça
raspada e chorou ao ser preso; PF obrigou esposa Andressa a espalhar
joias sobre a cama; na CPI, Cachoeira irá depor careca, algemado e com
lágrimas de ódio; segundo Mino, irá abrir as comportas
Num texto que estava perdido na internet, o ex-assessor e porta-voz
informal de Carlos Cachoeira, Mino Pedrosa, descreveu todas as cenas da
prisão do contraventor. Contou como ele chorou ao ser preso pela Polícia
Federal, como a esposa Andressa foi pressionada a abrir o cofre e
espalhar as joias da família sobre a cama, e como a enteada de 12 anos
presenciou a cena. Mino publicou o texto no Quidnovi, mas depois retirou
a peça do ar – talvez a pedido de pessoas próximas ao contraventor e
também porque atenuava a culpa do bicheiro e do senador Demóstenes
Torres. Mas o texto foi recuperado por um internauta e enviado ao 247. É
interessante e revela o estado de espírito de Carlos Cachoeira. Na CPI,
ele irá depor algemado, com a cabeça raspada e com uniforme laranja.
Terá, segundo Mino Pedrosa, “lágrimas de ódio” nos olhos. Segundo o
ex-assessor, que levou a fita de Waldomiro Diniz às redações em 2004,
Cachoeira irá abrir as comportas da corrupção (leia mais aqui). Leia, abaixo, o texto perdido de Mino Pedrosa:
Ainda estava escuro, quando às 6 horas da manhã, do dia 29 de fevereiro
de 2012, a mansão de luxo, na Rua Cedroarana, Quadra G-3, Lote 11, no
Residencial Alphaville Ipês, em Goiânia, de propriedade do governador de
Goiás Marconi Pirillo até 2010, foi invadida pela “swat” da Polícia
Federal. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi
preso numa ação cinematográfica. O arrombamento da porta da sala e a
chegada dos agentes federais ao quarto de Carlos Cachoeira coroava a
Operação Monte Carlo.
Cachoeira, como é chamado, acordou assustado. No corredor, a sua prisão
era assistida pela fresta da porta por uma criança de 12 anos, sua
enteada, e pela esposa, Andressa. O delegado que comandava a operação
pediu que o contraventor abrisse o cofre, mas Cachoeira argumentou que
não sabia o segredo. Só Andressa tinha a senha. A polícia entrou no
quarto e exigiu que o cofre fosse aberto. Imediatamente a esposa de
Cachoeira mostrou o que havia guardado em segredo: joias, inclusive de
família, uma quantia em dinheiro de um imóvel vendido por Andressa,
documentos e alguns DVDs de conteúdo ainda não revelado.
O delegado espalhou sobre a cama todas as joias, a maioria herança de
família, principalmente dos avós e do ex-marido de Andressa Wilder
Morais, atual suplente do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A esposa
do contraventor pediu ao delegado que deixasse as joias e que não
invadisse o quarto que sua filha dormia. O pedido foi atendido.
Cachoeira foi levado pela polícia, enquanto a criança atônita tentou ir
ao seu encontro, sem entender o que se passava. Até este momento,
Andressa estava forte. Mas ao ver a filha, a esposa de Cachoeira
desmontou.
A Polícia Federal acreditou ter fechado a Operação Monte Carlo naquele
momento, mas não sabia que ali começava um dos maiores escândalos da
política brasileira. Cachoeira foi para a carceragem da PF em Brasília e
preferiu o silêncio.
Em fevereiro de 2004, Carlinhos foi protagonista do escândalo Waldomiro
Diniz, onde o assessor do ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, foi
denunciado por receber propina do esquema de jogo clandestino no país.
Naquele momento, Cachoeira recebeu total apoio do PT comandado por Zé
Dirceu, que rotulava o contraventor como “empresário do jogo”, e o
Ministério Público como “aparelho repressor e conspiratório.”
O ministro da Justiça era Márcio Tomaz Bastos. O advogado, era Antônio
Carlos de Almeida e Castro, o Kakay. Quem acusava era o mesmo Ministério
Público, que agora também comanda a operação só que a serviço do PT .
As digitais do PT foram constatadas quando a Polícia Federal começou as
investigações sob o comando da sede em Brasília. O Palácio do Planalto
acompanhava tudo e aguardava o momento certo para contrapor o escândalo
do Mensalão que será votado nos próximos meses pelo Supremo Tribunal
Federal.
Cachoeira tinha um forte esquema de proteção na Polícia Federal de
Goiás, onde contava com seu fiel escudeiro o chefe da inteligência da
Polícia Federal. Cachoeira sempre foi um homem muito bem relacionado.
Colaborador de todas as horas nas campanhas políticas, principalmente do
PT. As investigações aconteciam e surpreendiam o comando da PF.
Políticos de alto escalão se misturavam com empresários e
contraventores.
Cachoeira foi transferido como preso comum para a Penitenciária Federal
de Segurança Máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Desembarcou na
cidade sob um sol escaldante, de 42 graus, e foi levado para a cela 17
do presídio. Parecia que a situação tinha chegado ao fim, quando o
contraventor foi chamado para raspar a cabeça e receber o tratamento de
preso de alta periculosidade. Enquanto a máquina deixava à vista o couro
cabeludo de Cachoeira, lágrimas de ódio rolavam pelo seu rosto. Naquele
momento, revendo o filme da prisão de Fernandinho Beira Mar, o silêncio
de Carlos Cachoeira se transformava em ira contra o PT. Somente no dia
seguinte teve o direito de encontrar seu advogado Ricardo Sayeg.
Aí começava o desabafo de alguém que sabe muito e não vai evitar a
vingança. Os responsáveis pela Operação Monte Carlo foram os petistas, o
alvo; o líder de oposição Demóstenes Torres (DEM-GO) e a isca; o mesmo
Cachoeira que no passado foi tão amigo do PT, e agora tão usado.
Com a chegada do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Congresso, era
esperado que naturalmente o neto de Tancredo Neves fosse o líder da
oposição ao Governo Dilma. Aécio recebeu algum recado e se mantem
apagado no cenário político. Com isso, o líder do Democratas se destacou
nacionalmente como o homem que lidera a oposição. Com o destaque, o
senador passou a ser o inimigo número um do Partido dos Trabalhadores,
que começou a caçada. Aécio Neves, taxado por ter telhado de vidro,
trabalhou como bom mineiro, no silêncio, e assiste o colega de oposição
servindo de boi de piranha. Nos bastidores se comenta que Aécio só irá
assumir a liderança da Oposição no último ano do Governo Dilma evitando o
desgaste prematuro.
Apesar do PT ter pesado a mão sobre Demóstenes Torres não foram
encontradas provas que possam calar a voz da oposição. A relação do
senador com Carlos Cachoeira é meramente social, como as mantidas com
outros empresários do estado de Goiás. É menos íntima, por exemplo, do
que a mantida entre o ex-presidente Lula e o seu churrasqueiro Jorge
Lorenzetti, envolvido num escândalo de repasse de R$ 18,5 milhões em
verba pública para sua ONG. Tanto barulho por conta de um fogão e uma
geladeira, presente de casamento da esposa de Carlinhos para a esposa de
Desmóstenes, amigas de longa data? Com certeza, há mais fartura à mesa
do PT.
O exército de Cachoeira também foi desestabilizado. Funcionários
públicos, empresários, políticos, policiais, familiares e pessoas que
emprestavam o próprio nome para manter a força e o poder de quem hoje
detém um arsenal capaz de mudar a história política do país foram presos
ou desarticulados com a Operação Monte Carlo.
Cachoeira sempre foi um homem prevenido. Na era dos escândalos detonados
dentro e fora dos Governos, o contraventor documentava todos os
encontros com seus “parceiros”, em vídeo, áudio, contratos de gaveta, e
as transações bancárias no Brasil e no exterior. Monitorava seus
“sócios” através de agentes de informações. Durante todos esses anos que
transitou nas altas rodas políticas e sociais do país, Carlinhos
Cachoeira produziu vários documentários, capazes de mudar o curso da
vida, principalmente de quem será julgado ainda este ano pelo Supremo,
com a chance de ter o ministro algoz do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa,
na presidência da maior instância jurídica do País.
No encontro com o seu advogado Ricardo Sayeg, em Mossoró, Cachoeira
avisou que a família e amigos tem nas mãos “esse” material que será
despejado na imprensa nos próximos dias. Nesta sexta-feira, o
contraventor começou a cumprir sua promessa. A Revista Veja, divulgou on
line, vídeo no qual Carlinhos tem uma conversa com o deputado federal
Rubens Otoni (PT-GO), na qual oferece R$ 100 mil para ajudar o petista e
insinua já ter contribuído com a mesma quantia para o candidato em
outra campanha.
Só um detalhe: Otoni nunca declarou a quantia ao Tribunal Regional Eleitoral e não consegue explicar o porquê disso.
A TRAJETÓRIA DE CACHOEIRA
Carlinhos Cachoeira cresceu no meio da jogatina. Seu pai fez parte do
grupo de Castor de Andrade e levou para Goiás o conhecido jogo do Bicho.
Seus irmãos difundiram pelo Estado o jogo e a chegada das máquinas
caça-níqueis. Cachoeira, no entanto, se aperfeiçoou com projetos
oferecidos em vários Estados batizado de On Line Real Time. Trata-se de
um software que permite ligar as caça-níqueis diretamente à Caixa
Econômica, buscando, aos moldes das Loterias, a legalização do jogo.
Carlinhos montou várias empresas para gerenciar o jogo nos Estados. E
começou sua fortuna. Procurava grupos coreanos, italianos, espanhóis e
vendia à vista, a exploração do jogo pelo país. Assim passou a recrutar
políticos que viabilizavam a exploração dos jogos de azar pelos Governos
estaduais. Cachoeira sofisticou seus negócios a partir da implantação
de seu novo sistema com o apoio do então governador de Goiás Maguito
Vilella, padrinho do seu primeiro casamento. Carlinhos criou a empresa
Gerplan no governo de Vilella.
Com a entrada do governador tucano Marconi Pirillo, o empresário do jogo
expandiu seus negócios para vários Estados, até bater de frente com os
interesses do então ministro chefe da Casa Civil, o petista Zé Dirceu.
Waldomiro Diniz, assessor de Zé Dirceu na Casa Civil, trabalhava para a
família Ortiz, forte concorrente de Carlinhos Cachoeira. Os Ortiz
lutavam pela permanência do jogo clandestino, pois reconheciam que o
negócio era mais rentável. Carlos Cachoeira queria a legalização porque
detinha toda uma estrutura profissional com tecnologia de hardware e
software para a arrecadação do jogo pelo governo em tempo real e com a
garantia de desconto dos impostos.
Cachoeira então gravou Waldomiro pedindo propina para a campanha do PT
em 2002. Com isso, o empresário do jogo usava o flagrante para combater a
propina paga pela família Ortiz ao assessor da Casa Civil Waldomiro
Diniz, responsável também pelo pagamento do mensalão do PT dentro do
Congresso Nacional.
Waldomiro era tido como uma águia, mas foi abatido pelo Ministério
Público em pleno vôo. O escândalo fragilizou José Dirceu permitindo o
ataque de Roberto Jefferson, que culminou com a cassação do mandato de
deputado e a demissão da Casa Civil.
Cachoeira foi cercado de atenções pelo PT durante todos esses anos para
evitar um escândalo maior em torno do financiamento de campanhas em
vários Estados. Este roteiro, com conteúdo explosivo, desta vez virá à
tona, pois Carlinhos planeja em sua solidão na cela 17 do Presidio de
Segurança Máxima de Mossoró, como se vingar do PT que o abandonou e o
colocou nesta situação.
Nesse arsenal explosivo tem várias empresas: Construtoras, Laboratórios,
Bancos no Brasil e no Exterior. Na próxima edição, o Quidnovi vai
mostrar, com documentos, como a máfia do jogo atua com o braço político
nos cofres públicos.
No Brasil 247
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